Ex-aluna do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, Daniela Barone Soares, uma mineira que cresceu na cidade de São Paulo, acaba de ser agraciada com o título de “Oficial da Ordem do Império Britânico” (Officer of the Most Excellent Order of the British Empire – OBE, na sigla em inglês), uma distinção entregue pela realeza em reconhecimento à contribuição da brasileira ao movimento de investimento de impacto social no Reino Unido.
O OBE é uma das cinco classes de nomeação da Excelentíssima Ordem do Império Britânico. São elas: Cavaleiro Grã-Cruz (GBE) e Dama Grã-Cruz (GBE); Cavaleiro Comandante (KBE) e Dama Comandante (DBE); Comandante (CBE); Oficial (OBE); e Membro (MBE).
A partir de agora, Soares poderá usar o título OBE depois do sobrenome e terá algumas regalias reservadas apenas a uma pequena parcela da população, como, por exemplo, usar a capela no interior da Catedral de Saint Paul, em Londres, para casamentos ou batizados. Além disso, terá direito a criar um brasão de família. Antes de tudo, porém, o título é um sinal insuspeito de prestígio e reputação.
Embora a data ainda não esteja definida, é possível que Soares receba o título das mãos do rei Charles III ou do Príncipe William ainda neste ano. A cerimônia de entrega está prevista para ocorrer no Palácio de Buckingham, em Londres.
Soares é CEO da Snowball Impact Investment, um fundo de investimento de impacto orientado pelos objetivos de sustentabilidade da ONU (Organização das Nações Unidas) e que atua nas áreas de transição energética, eficiência de recursos, ecossistemas regenerativos, casas e comunidades, equidade e inclusão, saúde e bem-estar. O objetivo é integrar impacto social positivo com retorno financeiro.
A CEO brasileira é considerada uma pioneira no setor de investimento de impacto no Reino Unido, numa trajetória que teve início ainda na Unicamp, quando ingressou no IE. “Sem dúvida, ter feito Unicamp me deixou numa posição muito boa”, disse ela. “O curso ajuda você a refletir sobre seus valores e tem uma visão humanista da economia, que acho que é um fator muito importante”, acrescentou.
“É claro que você precisa entender os números e os movimentos financeiros, mas a economia é, fundamentalmente, uma ciência humana. E esse lado humanista permite que você olhe com outros olhos as atividades econômicas, para ver como elas podem deixar o mundo um pouco melhor”, ensina. “O sistema, da forma como está funcionando, está tornando o mundo muito desigual. Muito extrativo da natureza e desigual socialmente. E, neste sentido, [a Unicamp] me ajudou muito”, afirma.
Depois de passar pelo IE, Soares foi para o mercado financeiro. Trabalhou em banco, fez MBA na Harvard Business School, nos Estados Unidos, e chegou a pensar em voltar ao Brasil, mas acabou convencida a executar projetos em empresas do sistema financeiro norte-americano.
Em 2003, mudou-se para Londres e foi então que passou a trabalhar em projetos de impacto social – primeiro, na Impetus Trust, empresa líder global em filantropia de risco, onde permaneceu por nove anos. Lá, a brasileira empreendeu os primeiros esforços para usar ferramentas financeiras para atingir impacto social, financiando os primeiros “títulos de impacto social” no Reino Unido.
Soares conta que, em 2011, trabalhou no projeto que criou o Better Society Capital – um dos primeiros bancos a investimento de impacto no mundo. Além disso, integrou o comitê formado pelo então primeiro-ministro David Cameron, quando o Reino Unido estava presidindo o G-8. Hoje, tem mais de 15 anos de experiência como CEO e membro de conselho na intersecção dos mundos comercial e de impacto.
Em setembro de 2019, Soares se transferiu para a Snowball. Sua trajetória já foi reconhecida em várias premiações. Ela esteve entre as 50 mais influentes em Finanças Sustentáveis (2023 – Financial News); entre as 100 mulheres mais influentes em engenharia (2019 – Financial Times);, entre as “20 Pessoas que estão Mudando o Brasil e o Mundo para Melhor” (2017 – Istoé Dinheiro) e entre as 100 pessoas que fazem Grã-Bretanha um lugar melhor (2008 – Independent on Sunday “Happy List”).
Apesar de seu histórico, Soares se surpreendeu com a indicação para o título da realeza. Ela conta que não sabe como foi o processo de escolha do seu nome, nem mesmo de onde partiu a indicação. “Para mim foi uma grande surpresa. Ainda mais por ser estrangeira”, disse ela, que possui cidadania britânica, condição sem a qual não poderia ser indicada. “Realmente não esperava ter essa honra. Isso, na verdade, é uma coisa que a gente não espera”, pondera.
Soares avalia que o título não transformará completamente sua vida, mas que será um forte estímulo para continuar. “Com certeza me dará mais ímpeto para continuar realizando esse tipo de trabalho, porque, na verdade, dos 130 trilhões de dólares que são geridos hoje no mundo, apenas 1% é investido em projetos de impacto”, alerta. “Temos, portanto, muita coisa ainda a fazer”, finaliza.