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Cultura e Sociedade

Maestro argentino Néstor Andrenacci promove oficinas e concertos de música coral

Novo artista residente do IdEA, premiado regente estará na Unicamp entre julho e setembro; a programação é composta por oficinas presenciais e virtuais e espetáculos abertos ao público

Atualmente, Andrenacci dirige o Grupo de Canto Coral (GCC), o Coro del Banco de la Nación Argentina, o Coro Trilce e o Ensemble Francisco Guerrero Madrigalista, além de codirigir o Orfeón de Buenos Aires
Atualmente, Andrenacci dirige o Grupo de Canto Coral (GCC), o Coro del Banco de la Nación Argentina, o Coro Trilce e o Ensemble Francisco Guerrero Madrigalista, além de codirigir o Orfeón de Buenos Aires

Entre julho e setembro, o Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp realiza uma série de atividades com o maestro argentino Néstor Andrenacci, premiado regente de coral com mais de cinco décadas de atividades e novo artista residente do Programa “Hilda Hilst”. A programação Música Coral em Foco é composta por oficinas presenciais e virtuais e espetáculos abertos ao público. Natural de Bahía Blanca, na Província de Buenos Aires, Andrenacci já foi contemplado por duas vezes, em 1999 e 2009, com o Prêmio de Mérito Konex, um dos mais importantes do país, na categoria Regência Coral.

Atualmente, o regente dirige o Grupo de Canto Coral (GCC), o Coro del Banco de la Nación Argentina, o Coro Trilce e o Ensemble Francisco Guerrero Madrigalista, além de codirigir o Orfeón de Buenos Aires. Entre 1989 e 2011, atuou como professor de regência coral e introdução ao repertório sinfônico coral na Faculdade de Artes e Ciências Musicais da Universidade Católica Argentina.

A residência começará com a Oficina Avançada de Regência Coral, a ocorrer entre 15 e 26 de julho e destinada a regentes de corais de vários níveis. Na oficina, Andrenacci deve abordar a interpretação e a técnica de ensaio. A atividade, prevista para acontecer no Instituto de Artes (IA) da Unicamp, oferecerá 50 vagas, promovida pelo maestro argentino com o apoio do maestro Angelo Fernandes, professor do IA e regente do Coro Contemporâneo de Campinas.

Ao fim da oficina, acontecerá o concerto “A Canção Coral Europeia dos Séculos XIX e XX”, no dia 26, às 19h, na Casa do Lago, celebrando o encerramento e mostrando o repertório trabalhado nas duas semanas. Serão apresentadas as peças “Seis canções, opus 41”, do compositor alemão Felix Mendelssohn (1809-1847), “Seis canções, com texto de R.M. Rilke”, do alemão Paul Hindemith (1895-1963), “Três canções de amor, com texto de F. García Lorca”, do espanhol Manuel Oltra (1922-2015), e “Três canções isabelinas”, do britânico Ralph Vaughan Williams (1872-1958).

Nos dias 13, 20 e 27 de agosto e 3 de setembro, Andrenacci conduzirá uma oficina online com o tema “A Música Coral Argentina”. Realizado por meio de uma plataforma de videoconferências, o curso abordará a história do gênero na Argentina, os autores mais importantes e suas obras. Sem exigência de experiência prévia na área, esse exercício incluirá a audição e a análise das composições mais significativas desse estilo.

Paralelamente, entre julho e agosto, o regente argentino desenvolverá um trabalho com o Coro Contemporâneo de Campinas, usando canções corais a capela e para coro e piano. Essa oficina deve terminar com um recital, no dia 3 de agosto, às 17h, também na Casa do Lago. Estão previstos no repertório “Flower Songs”, do compositor britânico Benjamin Britten (1913-1976), “Rückert Lieder”, do austríaco Gustav Mahler (1860-1911), e “Seis Indianas, para coro e piano”, do argentino Carlos Guastavino (1912-2000).

A programação Música Coral em Foco, ministrada por Néstor Andrenacci, é composta por oficinas presenciais e virtuais e espetáculos abertos ao público
A programação Música Coral em Foco, ministrada por Néstor Andrenacci, é composta por oficinas presenciais e virtuais e espetáculos abertos ao público

Ambiente musical

Em entrevista ao Portal da Unicamp, Andrenacci afirmou pretender realizar um trabalho profundo na residência, compartilhando visões e modos de fazer música de uma maneira que se promova um enriquecimento mútuo. Essa será a quarta vez que o regente visita o Brasil, já tendo ministrado uma oficina sobre música alemã do Romantismo em Belo Horizonte, dirigido o coro da Ópera de Manaus e vindo ao país com seu grupo coral para uma apresentação em um festival no Recife. “Não pude conhecer muito da vida coral no Brasil, mas gostei muito da receptividade dos diretores e cantores com quem trabalhei e da musicalidade que eles demonstraram”, declarou o regente.

Filho de uma professora e um economista que tinham muito apreço pelo canto, Andrenacci desde jovem viveu em um ambiente musical, principalmente nos encontros familiares de Natal, quando se reunia com tios e primos. Aos sete anos, mudou-se de Bahía Blanca para a capital argentina, onde terminou seus estudos secundários e iniciou uma graduação em matemática na Universidade de Buenos Aires. Nessa época, quando já cantava em corais, foi convidado para participar de um grupo de uma companheira, percebendo então na prática musical o condutor central de sua vida. Andrenacci estudou direção coral com o maestro Antonio Russo e canto com Carmela Giuliano, tendo também se aprofundado no assunto sob a orientação dos maestros Francisco Kröpfl e Guillermo Opitz.

Segundo o regente, o atual panorama da música coral argentina constituiu-se de um movimento amplo, “que vai dos coros de nível musical muito alto em todo o país até os coros de empregados de empresas”. O momento atual, disse, é bom para a música coral, com compositores muito interessantes. Apesar de avaliar que a atividade dos grupos independentes na Argentina se fortaleceu nos últimos anos, parte de um movimento muito forte e crescente, o maestro lamenta que as atividades musicais venham desaparecendo dos currículos escolares de seu país.

Esse fenômeno, na opinião dele, é mundial. “Há uma tendência de pensar que a educação, e particularmente a educação artística, é uma despesa e não um investimento. Na Argentina isso se acentuou na década de 1990, com uma tentativa de mudar isso no final da primeira década do século XXI. Mas agora estamos dando passos para trás nesse sentido.” Uma das formas de tentar reverter isso, disse Andrenacci, é por meio do fortalecimento dos corais infantis e juvenis. “Quem se acostuma a cantar em grupo desde muito jovem terá muita dificuldade em parar de fazê-lo quando crescer. Isso, por sua vez, gera a atitude de prazer com a música coral e com a música em geral.”

Em entrevista ao Portal da Unicamp, o maesro argentino afirmou pretender realizar um trabalho profundo na residência, compartilhando visões e modos de fazer música de uma maneira que se promova um enriquecimento mútuo
Em entrevista ao Portal da Unicamp, o maesro argentino afirmou pretender realizar um trabalho profundo na residência, compartilhando visões e modos de fazer música de uma maneira que se promova um enriquecimento mútuo

Estilo variados da prática musical

A abertura do regente argentino a estilos variados dentro da prática musical levou-o a ser convidado, em 2016, para se apresentar com o GCC em três shows dos Rolling Stones, em Buenos Aires. “Foi muito emocionante para o meu grupo, e para mim, estar no meio daquela energia que ocorre na troca entre os Rolling Stones e vários milhares de pessoas. Eram pessoas que estavam muito interessadas em fazer boa música e se importavam com isso. Eles ensaiaram conosco sem desentendimentos e em um ambiente muito caloroso”, celebrou Andrenacci. O GCC atuou na canção “You Can’t Always Get What You Want”, de Mick Jagger e Keith Richards, que no disco Let it Bleed (1969) tem a participação do London Bach Choir.

Para o regente argentino, é importante estar atento a outras áreas do mundo das artes a fim de se inspirar e trazer essas experiências para dentro da prática da direção musical. “Gosto muito de encontrar pontos de contato entre a direção musical e a direção de outras disciplinas, nomeadamente teatro e cinema. Aprendi muito sobre técnica de ensaio com os textos de Ingmar Bergman [cineasta sueco, 1918-2007], Luis Buñuel [cineasta espanhol, 1900-1983] e Federico Fellini [cineasta italiano, 1920-1993], também vendo como os princípios que eles expuseram em seus escritos se refletiam em seus filmes”, explicou Andrenacci.

A residência artística organizada pelo IdEA conta com apoio do Instituto de Artes (IA), da Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa (Cocen), do Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural (Ciddic) e da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec) da Unicamp. Mais informações sobre todas as atividades e inscrições para as oficinas de Música Coral em Foco podem ser encontradas no site do IdEA.

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