O Laboratório de Biologia Molecular do Exercício (LaBMEx) e o Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC – sigla em inglês para Obesity and Comorbidities Research Center) realizaram, nesta terça-feira (16), o Simpósio Brasil-Coréia do Sul: Ciência Avançada em Saúde e Doença (Brazil-South Korea Symposium: Advanced Science in Health and Disease). O evento é fruto de uma colaboração estabelecida entre a Unicamp, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e a National Research Foundation of Korea (NRFK), órgão de fomento à pesquisa do país.
“Incentivamos os cientistas da Coréia do Sul a firmar parcerias em todo o mundo, porque a maior parte dos nossos pesquisadores se comunicam apenas com os Estados Unidos”, comentou Dongryeol Ryu, pesquisador do Instituto de Ciência e Tecnologia Gwangju e coordenador da cooperação por parte da Coréia do Sul. Segundo Ryu, é necessário que o país amplie suas relações com outras partes do globo. “Talvez 99% de nossas parcerias sejam com norte-americanos, e o 1% restante com pesquisadores da Europa Ocidental”, avaliou.
Pesquisadores dos dois países apresentaram resultados de seus trabalhos recentes. “São temas diversos, desde cardiologia até o impacto da microbiota intestinal para o envelhecimento”, apontou Eduardo Ropelle, professor da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp e coordenador da cooperação por parte do Brasil. Outros temas, como câncer, envelhecimento, nutrição e exercícios físicos também foram abordados. Segundo o professor, a parceria ainda deve render novos estudos. “O projeto está em vigência há um ano, temos ainda mais um a ser completado”, explicou. Os organizadores também arrecadaram roupas e alimentos que serão doados ao Lar dos Velhinhos de Campinas.
Benefícios à saúde
Foram apresentadas seis palestras, ministradas pelos brasileiros Eduardo Ropelle, Dennys Cintra (FCA Unicamp) e Natália Mendes (FCM Unicamp) e pelos coreanos Shibo Wei (Escola de Medicina da Universidade Sungkyunkwan), Ki-Tae Ha (Escola Coreana de Medicina da Universidade Nacional Pusan) e Dongryeol Ryu (Instituto de Ciência e Tecnologia Gwangju). Também foram apresentadas as pesquisas desenvolvidas pelos pós-graduandos Renata Rosseto Braga, Vivian Rodrigues e Leandro Oharomari (Unicamp) e Bruno Marafon (Universidade de São Paulo).
Shibo Wei apresentou os resultados dos estudos em torno da aplicação de 5’-N-Etilcarboxamida, conhecido pela sigla NECA, em modelos de camundongos que apresentavam infarto no miocárdio. Trata-se de um composto não-seletivo de adenosina, molécula que desempenha papel importante em processos fisiológicos, como o fluxo sanguíneo. A pesquisa demonstrou os efeitos benéficos do uso de NECA como protetor das funções cardíacas nas cobaias, tornando-o uma opção promissora para o tratamento de pacientes.
Já Ropelle apresentou trabalhos desenvolvidos pelo LaBMEx na análise dos benefícios de exercícios físicos na atividade das mitocôndrias, estrutura das células responsável pela respiração celular, processo em que a glicose é convertida em energia. As pesquisas tomaram por base a investigação de como o estímulo físico pode estimular a resposta de proteínas desdobradas mitocondriais (UPRmt, sigla em inglês para Mitochondrial Unfolded-Protein Response), processo pelo qual as mitocôndrias conseguem se preservar em situações de desequilíbrio.
Para isso, os pesquisadores realizaram diferentes testes com modelos de camundongos e verificaram como diferentes tipos de treinamento físico, como exercícios aeróbicos, treinos intervalados de alta intensidade (HIIT) e treinos de força são capazes de estimular a UPRmt. “Se preservarmos a UPRmt, teremos melhores mitocôndrias”, sintetiza Ropelle, enfatizando que os resultados podem ser benéficos para atenuar os efeitos do envelhecimento físico.
Para Dongryeol Ryu, os resultados obtidos pelas pesquisas brasileiras e coreanas são promissores e apontam para um futuro virtuoso para a ciência dos dois países. “Este é um trabalho inicial, mas desejo que haja muito mais projetos em colaboração, porque não conhecemos muitas das pesquisas que são realizadas na Unicamp ou em outras universidades do Brasil, assim como as realizadas na Coréia do Sul não são conhecidas por aqui.”