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Cultura e Sociedade

Sylvia Furegatti expõe na Bienal de Havana

A produção da escultura pública “Isla de Plantas - Edición Cuba”, envolveu o apoio do Faepex Unicamp, da Diretoria de Cultura da Universidade e da Embaixada do Brasil em Cuba

Estreando no circuito das bienais, a artista visual Sylvia Furegatti integra a delegação de artistas brasileiros que participam da 15ª Bienal de Havana “Horizontes Compartidos”. A professora do Instituto de Artes (IA) da Unicamp construiu, especialmente para a mostra, a escultura pública “Isla de Plantas – Edición Cuba”, no campus do Instituto Superior de Arte Cuba (ISA). Inaugurada no último dia 18, a obra permanecerá disponível no local mesmo após o fim do evento, marcado para fevereiro de 2025. Sua produção envolveu o apoio de diferentes instituições brasileiras e cubanas, como o Fundo de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Faepex) Unicamp, a Diretoria de Cultura da Universidade e a Embaixada do Brasil em Cuba.

Segundo Furegatti, estrear na Bienal de Havana tem significado especial, afinal, dentre as bienais de arte, esta é a mais preocupada com a discussão de uma arte mais comunitária e participativa e com a democratização da arte. “Desde a primeira realização, a Bienal de Havana conduz de forma muito equilibrada a presença de artistas que atuam no grande circuito com o espaço dado a trabalhos mais disruptivos, de provocação ao mainstream”, explica a professora do IA.

A escultura pública “Isla de Plantas - Edición Cuba”, foi inaugurada no último dia 18, no campus do Instituto Superior de Arte Cuba
A escultura pública “Isla de Plantas – Edición Cuba”, foi inaugurada no último dia 18 de novembro, no campus do Instituto Superior de Arte Cuba

O convite para integrar a delegação de artistas brasileiras no evento, acredita, resulta tanto da natureza da sua obra como da posição que ocupa no circuito da produção artística brasileira. Sua pesquisa poética envolve a apropriação de espaços que não são convencionais da arte, dando-lhes um caráter artístico. “Não que eu não exponha em galerias ou não venda meus trabalhos, mas esses não são meus principais objetivos. Estou mais desejosa de tentar provocar alguns encontros, algumas conversas e, quem sabe, ampliar o público da arte contemporânea”, esclarece.

Responsável pelo projeto Jardim de Esculturas e Convivência, localizado no entorno do IA, Furegatti criou em Havana uma nova edição da obra que também está presente na Unicamp, denominada “Ilha de Plantas”. Trata-se de uma escultura construída com elementos da construção civil popular, sobretudo com bloquetes de cerâmica (antigamente chamados de tijolos) e concreto. Seu formato se assemelha a uma rede sináptica: é formado por muretas que se ligam e que, em cada ponta, trazem um canteiro de forma circular. No interior de cada canteiro, foram plantadas espadas-de-são-jorge, cujas folhas serviram de suporte para a pintura de figuras botânicas – desenhadas tanto pela autora como por pessoas convidadas, como professores, alunos e outros artistas.

A escultura tem uma forma baixa para atrair os espectadores. “A ideia é que as pessoas cheguem perto e se sentem, comecem a usar os braços da obra como se fossem bancos, para ver os desenhos feitos nas folhas das plantas”, descreve. Depois de cerca de um ano e meio, a ação da chuva, do sol e do vento, além do crescimento das folhas e da interferência dos transeuntes, os desenhos vão desaparecendo. “A natureza é minha parceira no projeto, ela está me dizendo quando é hora de voltar para ver como a temporalidade afetou o trabalho.”

A decisão de plantar espada-de-são-jorge, explica a artista, envolveu uma pesquisa complexa. Não apenas a estrutura da folha se revelou interessante para desenhar, como sua simbologia religiosa ainda desperta preconceito. Já o desenho permite diferentes reflexões, sobretudo a hibridação do trabalho – representada pela combinação entre desenho e escultura – e a abreviação do material utilizado como suporte para desenhar. “Faço uma investigação com vários tipos de folhas e do material, da tinta, para saber como fazer esse desenho de tal maneira que não machuque a planta. Tenho uma superfície de papel, mas in natura. Sem ser processada, sem servir a uma indústria e sem necessariamente poluir. Assim, problematizo a folha, que seria industrializada.”

A primeira edição do trabalho, ganhador do prêmio do Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC) em 2015, foi uma instalação construída no chão e no interior de um museu. Na ocasião, Furegatti não fez uma base de alvenaria; criou os círculos de terra no chão, onde as espadas-de-são-jorge foram plantadas. Já em São Paulo, a obra recebeu uma nova versão, nas partes interna e externa da Oficina Cultural Oswald de Andrade. Em 2022, foi inaugurada a criação do Jardim de Esculturas da Unicamp, pela primeira vez com o concreto cimentando os tijolos.

Com o tempo, Furegatti passou a se preocupar em encontrar lugares que tivessem um caráter mais longevo, onde pudesse colocar a obra. Desta forma, seria possível ficar atenta aos sinais da natureza e do tempo que indicassem desde mudanças no entorno até quando renovar os desenhos. “Quando a Bienal de Havana me convidou, fiquei pensando nos espaços que poderia ocupar lá. Criei, então, um novo desenho, com uma nova configuração de sinapse. Cada vez em que for construir o projeto, vou pensar em desenhos novos, a partir dessa regularidade da sinapse e das áreas ajardinadas redondas, para ocupar as áreas que me são oferecidas ou que estiverem ali disponíveis.”

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