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Pesquisa

Pesquisadores coletam dados na Argentina para auxiliar na caracterização de rochas do pré-sal

Grupo do Instituto de Geociências esteve na Bacia de Neuquén, nos arredores dos municípios de Zapala e Chos Malal

Equipe que esteve na Argentina para coleta de dados; da esquerda para a direita, Rebecca Scafutto, Carlos Roberto de Souza Filho, Raphael Hunger, Diego Ducart, Claudiney de Sousa (abaixo), Dorval Carvalho Dias Filho, Delano Ibanez e Bernardo Freitas
Equipe que esteve na Argentina para coleta de dados; da esquerda para a direita, Rebecca Scafutto, Carlos Roberto de Souza Filho, Raphael Hunger, Diego Ducart, Claudiney de Sousa (abaixo), Dorval Carvalho Dias Filho, Delano Ibanez e Bernardo Freitas

As rochas do sistema petrolífero do pré-sal têm sido perfuradas, e suas amostras, analisadas extensivamente desde 2005. Ainda assim, existem incertezas quanto à disposição e à distribuição tridimensional das formações rochosas. Em Geologia, é comum a busca e o estudo de análogos de sistemas petrolíferos, onde afloramentos rochosos amplamente expostos em superfície possam servir como exemplo do comportamento dos reservatórios em subsuperfície. Esses análogos permitem a caracterização da geometria dos corpos rochosos, a determinação da sua composição mineralógica, sua porosidade, sua permeabilidade, entre outras variáveis, que podem ser comparadas aos dados obtidos nos reservatórios em profundidade, os quais são, em geral, limitados a amostras de testemunhos de sondagem e perfis de poços.

Nesse contexto, um grupo de pesquisadores do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp esteve, entre fevereiro e março deste ano, na Argentina para obter dados para a caracterização das formações rochosas Vaca Muerta e Los Molles – afloramentos com rochas análogas às rochas geradoras/selantes do pré-sal localizadas na Bacia de Neuquén, nos arredores dos municípios de Zapala e Chos Malal. Essa é a maior bacia continental produtora de petróleo na América do Sul. Foi a primeira vez que equipamentos de sensoriamento remoto de alta tecnologia do IG foram levados para fora do Brasil, o que exigiu muito planejamento e cuidado nos meses que antecederam a atividade de campo.

O grupo obteve mais de 3 TB de dados dos afloramentos, incluindo imagens hiperespectrais (que permitem inspecionar aspectos da rocha não visíveis a olho nu) adquiridas com uma câmera acoplada a um drone e a um tripé, dados obtidos por LiDAR (a partir de pulsos que medem distâncias) e dados de espectroscopia pontual (uma representação gráfica da reflectância espectral em pontos específicos da amostra). “A geração desses modelos de afloramentos com características similares às do pré-sal poderá ser utilizada para auxiliar no entendimento e na caracterização de rochas geradoras/selantes de sistemas petrolíferos”, explica Rebecca Scafutto, pesquisadora do IG que integrou o grupo de pesquisadores. A análise dos dados obtidos a partir do uso de laser scanner (LiDAR) e de câmera hiperespectral permitirá que os pesquisadores identifiquem a mineralogia e os hidrocarbonetos contidos nos afloramentos, assim como a análise de fácies sedimentares e de estruturas deposicionais e tectônicas. A partir da fusão dos dados obtidos, os pesquisadores poderão gerar modelos 3D desses afloramentos.

A expedição faz parte de um projeto de cooperação entre o IG e a Petrobras, proposto e coordenado por Carlos Roberto de Souza Filho, docente do Departamento de Geologia e Recursos Naturais do IG. O projeto tem como objetivo principal elaborar metodologias que possam ser utilizadas operacionalmente para a geração de mapas mineralógicos e de carbono orgânico total (COT) de elevada resolução espacial. Dentre as atividades em desenvolvimento paralelo no projeto, está o estudo sobre rochas do pré-sal a partir de um sistema de escaneamento hiperespectral, conduzido no Centro de Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes) da Petrobras. A principal diferença com relação ao trabalho desenvolvido na Argentina é a escala de aquisição de dados. No Cenpes, ocorreu uma análise em detalhe de rochas através de câmeras acopladas a uma plataforma fixa. Já o grupo que foi à Argentina explorou uma escala macro das rochas.

Além de Souza Filho, participaram do campo os professores Diego Ducart e Bernardo Tavares Freitas e os pesquisadores Rebecca Scafutto e Raphael Hunger, todos do IG, além dos geólogos da Petrobras Delano Ibanez e Dorval Carvalho Dias Filho e do piloto de drone Claudiney de Souza. Bárbara Cassu Manzano, da Coordenadoria de Pesquisa do IG, forneceu suporte técnico-administrativo para as atividades realizadas no projeto. Dias Filho já trabalhou na Bacia de Neuquén e possui grande conhecimento da área, o que foi fundamental para a escolha dos afloramentos análogos. Além do auxílio pré-campo, os geólogos da Petrobras também acompanharam a equipe do IG no campo, coletando amostras e descrevendo os afloramentos.

Os profesores Carlos Souza Filho e Diego Ducart utilizaram câmera hiperespectral acoplada a tripe
Os profesores Carlos Souza Filho e Diego Ducart utilizaram câmera hiperespectral acoplada a tripe

Segundo Scafutto, o transporte dos equipamentos para a Argentina foi uma das etapas mais desafiadoras. Além das dificuldades burocráticas, o transporte dos equipamentos não foi trivial.  O processo foi liderado por Ducart, natural da Argentina, que contribuiu decisivamente para o sucesso da viagem por terra e para o transporte dos equipamentos. De acordo com Ducart, foram transportados cerca de 300 kg de equipamentos.  “Além dos equipamentos, uma grande quantidade de baterias de LiPo (polímeros de Li) destinadas para os diferentes drones, controles e sistemas imageadores, foi transportada. Como não é possível transportar tantas baterias de LiPo por avião, o transporte foi planejado por terra através de dois carros do tipo SUV”, explicou.

O grupo de pesquisadores percorreu cerca de 9 mil km entre ida e volta, sendo quatro dias para chegar até a área de estudo em Neuquén, na Argentina, e mais quatro para voltar a Campinas, além dos dias da pesquisa em campo. “O mais complicado da viagem foi o processo de exportação e importação temporária de equipamentos. É um procedimento burocrático obrigatório tanto na alfândega do Brasil como na da Argentina. Esse processo, executado em grande parte pela Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp), centrado em Leandressa Celisa do Prado Moraes e sua equipe, começou a ser planejado um ano antes e só foi finalizado no dia anterior à viagem”, explicou o docente.

O conjunto de equipamentos levados à Argentina incluiu uma câmera hiperespectral, um drone e um tripé com seus respectivos acessórios e baterias, o sistema LiDAR (que é transportado em um segundo drone), um espectrorradiômetro, dois sistemas globais de navegação por satélite – sendo um utilizado para operação dos drones e outro para a coleta de pontos de controle nos afloramentos –, além de materiais de apoio, como gerador de energia, cabos de força etc.  

O grupo de pesquisadores percorreu cerca de 9 mil km entre ida e volta, sendo quatro dias para chegar até a área de estudo em Neuquén, na Argentina
O grupo de pesquisadores percorreu cerca de 9 mil km entre ida e volta, sendo quatro dias para chegar até a área de estudo em Neuquén, na Argentina; uma camera hiperespectral acoplada a drone (no alto)

Segundo Souza Filho, “o projeto de cooperação com a Petrobras é subdividido em várias fases e áreas de estudo e inclui o desenvolvimento e a aplicação de métodos não convencionais para a caracterização de rochas geradoras/selantes e rochas reservatório do pré-sal, a partir da análise de testemunhos de sondagem e das áreas de estudo com características análogas às rochas do pré-sal”. As formações Los Molles e Vaca Muerta da Bacia de Neuqén foram selecionadas para serem estudadas justamente por serem consideradas análogas às rochas geradoras/selantes do pré-sal. “A aplicação dessas tecnologias voltadas aos estudos geológicos é ainda incipiente, de tal forma que os resultados do projeto poderão contribuir de forma significativa para o estado da arte do tema”, finaliza Scafutto.

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