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Estudo sobre bibliotecas universitárias é destaque no Prêmio Laura Russo 2025

A láurea é considerada a mais importante na área de biblioteconomia e de forte repercussão nacional

A bibliotecária Simone Lucas Gonçalves de Oliveira, da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, conquistou reconhecimento acadêmico da área ao vencer o 15º Prêmio Biblioteconomia Paulista “Laura Russo” 2025, na categoria trabalhos acadêmicos – tese de doutorado. O prêmio, considerado o mais importante na área de biblioteconomia e de forte repercussão nacional, foi lançado sob a temática “Bibliotecas Universitárias que inspiram, educam e transformam”, destacando profissionais e projetos que fortalecem o papel das bibliotecas como espaços de conhecimento, inclusão e transformação social. A cerimônia de premiação ocorreu em novembro, em São Paulo, e reuniu representantes de instituições de todo o país. Nesta edição, quatro categorias foram contempladas – yrabalhos acadêmicos, profissional, empresa amiga da biblioteca e cidade amiga da biblioteca –, totalizando 14 premiados.

Com a tese Biblioteca Joel Martins e a Competência em Informação: Horizontes para o Ensino com Pesquisa, defendida em março de 2025 na FE, sob orientação do professor Ezequiel Theodoro da Silva, Oliveira foi a única vencedora da categoria tese de doutorado em todo o estado de São Paulo. O trabalho, vinculado ao grupo de pesquisa ALLE-AULA, nasceu de uma observação cotidiana da pesquisadora, que atua há anos na Biblioteca Professor Joel Martins (BJM), instalada na FE. Ela conta ter percebido que a biblioteca estava ociosa de seu principal público: os estudantes de Pedagogia. “Primeiro veio o olhar: eu via que eles não estavam vindo. Depois fomos atrás dos números, e aí se confirmou que esse público quase não aparecia”, afirma. Esse distanciamento não se explicava apenas pela rotina intensa dos estudantes, mas por mudanças mais profundas nos hábitos de busca e uso da informação.

“Existe uma ilusão de que tudo está resolvido na internet. Só que o universo digital que eles usam não é o das bases científicas; é o dos mecanismos de domínio público, onde nem tudo tem validade acadêmica. Isso cria uma falsa sensação de acesso ao conhecimento”, explica. Para ela, o problema não é o digital em si, mas o fato de que os estudantes não utilizam o digital qualificado – aquele que tem curadoria, relevância e precisão, garantidas pelas bibliotecas universitárias.

A bibliotecária Simone Lucas Gonçalves de Oliveira, da FE durante a cerimônia de premiação; reconhecimento na categoria trabalhos acadêmicos
A bibliotecária Simone Lucas Gonçalves de Oliveira, da FE durante a cerimônia de premiação; reconhecimento na categoria trabalhos acadêmicos

A constatação desse “divórcio” entre a biblioteca e a formação inicial levou Oliveira a investigar documentos estruturais do curso de Pedagogia, como o Projeto Político-Pedagógico, os planos de ensino e as atas da Comissão de Biblioteca. O resultado foi claro: embora a BJM tenha potencial para contribuir intensamente com o eixo Ensino com Pesquisa, sua presença no currículo é mínima. “O projeto político-pedagógico menciona a biblioteca apenas como repositório de TCCs. Mas a biblioteca é muito mais do que isso. É um espaço de pensamento crítico, de investigação científica, de formação cidadã e de autonomia intelectual”, observa. Sua pesquisa mostrou que, mesmo quando bibliografias essenciais aparecem nas disciplinas, nem sempre elas dialogam com o acervo disponível – e, quando dialogam, muitas vezes permanecem ociosas por falta de integração entre ensino e uso da biblioteca.

Diante desse cenário, Oliveira não se limitou à crítica. Ela transformou sua tese em proposição, articulando um Programa de Desenvolvimento da Competência em Informação especialmente voltado à formação do estudante de Pedagogia. A inspiração veio de uma experiência bem-sucedida da biblioteca com a pós-graduação, que rendeu à equipe o Prêmio Paepe 2023, promovido pela Unicamp. Na ocasião, um conjunto de ações formativas – desde oficinas de citação e referência até orientações sobre levantamento bibliográfico, integridade científica, revisão de literatura e uso de inteligência artificial – reduziu drasticamente problemas relacionados à elaboração de trabalhos acadêmicos.

Na tese, Oliveira adaptou essa experiência para o contexto da graduação, propondo um percurso formativo que conscientiza o estudante sobre quais fontes usar, como acessar recursos informacionais da Unicamp, como organizar pesquisas, como sistematizar referências e como aproveitar plenamente o conjunto de saberes que a biblioteca oferece. “O desafio é alavancar o ensino com pesquisa. Queremos que o estudante de Pedagogia se aproprie desse equipamento fundamental e compreenda a importância da curadoria da informação. Ele será o multiplicador de novos saberes; por isso precisa dominar essas ferramentas”, afirma.

Os contemplados da 15º Prêmio Biblioteconomia Paulista “Laura Russo” 2025;
Os contemplados da 15º Prêmio Biblioteconomia Paulista “Laura Russo” 2025;

Para a pesquisadora, a tese dialoga diretamente com a temática do prêmio, mesmo que esse alinhamento não estivesse previsto desde o início. “Foi um trabalho propositivo. Minha intenção sempre foi mostrar como a biblioteca universitária inspira, forma e transforma – não apenas o estudante, mas o futuro professor que formará novas gerações”, diz. Simone destaca que o acervo da BJM supera em muito as demandas estritamente curriculares. “Não estamos falando apenas de livros técnicos. Temos literatura infantil, juvenil, obras para leitores experientes, projetos de extensão, clube de leitura. Queremos formar pessoas críticas, sensíveis e protagonistas de sua própria vida e da vida em sociedade.”

Ao falar sobre o prêmio, Oliveira não esconde a emoção: “Foi uma surpresa que me encheu de satisfação. Quando recebi a notícia, senti uma gratidão profunda. Gosto de levar comigo as pessoas que fizeram parte do processo – meu orientador, a equipe da biblioteca, minha família. É um reconhecimento que fortalece nosso trabalho cotidiano.” Ela acredita que o prêmio também pode ajudar na implementação das propostas surgidas na tese. “Dá visibilidade e mostra a importância de repensar essa relação entre a biblioteca e o curso. É pegar a nossa realidade, transformá-la e gerar impacto.”

A entrevistada conclui a conversa com um convite direto aos estudantes da FE: “Venham conhecer nossa biblioteca. Olhem o que oferecemos, busquem nossas redes sociais, nosso portal. Estamos aqui para todas as licenciaturas, mas especialmente para o estudante de Pedagogia, que vai acompanhar uma pessoa desde a infância até o ensino médio. Essa formação passa por aqui. Queremos que eles descubram a BJM.”

A conquista de Oliveira no maior prêmio da Biblioteconomia Paulista reforça o papel da Biblioteca Joel Martins como espaço estratégico para o ensino, a pesquisa e a extensão, reafirmando o compromisso da FE com a formação docente de excelência, a democratização do conhecimento e a construção de uma universidade que inspira, educa e transforma.

Foto de capa:

Estudo sobre bibliotecas universitárias é destaque no Prêmio Laura Russo 2025
A cerimônia de premiação ocorreu em novembro, em São Paulo, e reuniu representantes de instituições de todo o país
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