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O Conselho Universitário (Consu) outorgou, em sessão ordinária realizada nesta terça-feira (25), a concessão de títulos honoríficos a três docentes da Universidade. Membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e professor titular do Instituto de Geologia (IG), o geólogo Alvaro Penteado Crósta teve sua candidatura a professor emérito apoiada pelo Conselho. Na mesma manhã, as propostas de concessão do título de professora emérita às linguistas Claudia Thereza Guimarães de Lemos e Eni de Lourdes Puccinelli Orlandi, que fizeram carreira no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), foram aprovadas por unanimidade. A cerimônia de entrega dos títulos ainda será definida.

Durante a sessão, o professor Paulo Cesar Montagner, reitor da Unicamp, destacou que, com a aproximação dos 60 anos da Universidade, profissionais que tiveram papel relevante para a fundação da instituição estão sendo homenageados. “Essas pessoas estão sendo homenageadas por seus pares com um título de máxima relevância acadêmica. É importante que este momento seja celebrado”, afirmou o reitor.

A indicação de Crósta – que também é membro do Conselho Científico e Cultural do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp (IdEA) – foi apresentada pelo professor do IG Emilson Leite, que ressaltou a dimensão da contribuição científica e da produção acadêmica do seu trabalho para a academia internacional. “É uma liderança na área de geologia planetária no mundo, referência mundial no estudo de crateras de impacto e pioneiro no sensoriamento remoto aplicado à exploração mineral. Foi responsável por descobertas fundamentais no Brasil”, aponta Leite. Já Montagner recordou uma convivência próxima com Crósta, entre 2012 e 2017, quando o geólogo ocupou a posição de Coordenador Geral da Universidade. “Fico feliz com essa indicação, tivemos um ciclo robusto, aqui.”

Durante a sessão, o reitor Paulo Cesar Montagner,  destacou que, com a aproximação dos 60 anos da Universidade, profissionais que tiveram papel relevante para a fundação da instituição estão sendo homenageados
Durante a sessão, o reitor Paulo Cesar Montagner, destacou que, com a aproximação dos 60 anos da Universidade, profissionais que tiveram papel relevante para a fundação da instituição estão sendo homenageados

Ao apresentar os trabalhos construídos pelas professoras Lemos e Orlandi, o docente do IEL Petrilson Pinheiro trouxe à tona a necessidade de ampliar o reconhecimento acadêmico das mulheres na Universidade. “Considero hoje um dia muito especial, por estar defendendo o título de mulheres, quando na maioria das vezes os homenageados são professores homens. Cada título vai coroar uma carreira excepcional. São muito merecedoras e fazem parte da história do IEL e da Unicamp”. Pró-reitora de Graduação, a professora Monica Cotta reforçou a fala do docente. “Precisamos nos lembrar de que não existem muitas professoras eméritas porque não temos muitas titulares. Às vezes, por falta de incentivo. Temos de ficar atentos o tempo todo e lembrar que existe um plano de equidade de gênero sendo discutido nas universidades paulistas.”

A relevância da atuação de Orlandi na disciplinarização da análise do discurso e na formação de corpos docentes em diversas universidades brasileiras, mesmo depois de se aposentar, foi lembrada por Pinheiro. A dedicação de Lemos ao campo da aquisição da linguagem também foi mencionada pelo professor, citando a importância de sua atuação no projeto de Aquisição da Linguagem. “Criando não somente um grupo de pesquisadores, mas um acervo excepcional de aquisição da linguagem no CEDAE.”

Crateras de impacto

O professor Alvaro Penteado Crósta: grupo de pesquisa em Geotecnologias
O professor Alvaro Penteado Crósta: grupo de pesquisa em Geotecnologias

Graduou-se geólogo pela Universidade de São Paulo (USP) e recebeu o título de mestre no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), na área de processamento remoto. Ingressou na Unicamp em 1983, como professor do Instituto de Geociências (IG). Em 1986, realizou seu doutorado no Imperial College of Science, Technology & Medicine (em tradução livre, Faculdade Imperial de Ciência, Tecnologia & Medicina), da Universidade de Londres. Foi pesquisador-visitante no Laboratório de Propulsão da NASA (Estados Unidos), na Universidade de Nevada (Estados Unidos), e nas universidades de Viena (Áustria) e de Humboldt (Alemanha), além de ter atuado como professor convidado do Instituto de Petróleo da Universidade Khalifa, nos Emirados Árabes Unidos.

Na Unicamp, participou da implantação do Laboratório de Processamento de Informações Georreferenciadas (Lapig), do IG, que se tornou referência brasileira em pesquisas e aplicações em geoprocessamento, e fundou o grupo de pesquisa em Geotecnologias. Atuou para a consolidação do departamento de Metalogênese e Geoquímica e do programa de pós-graduação em Geociências. Foi pioneiro na identificação e no estudo de crateras de impacto, resultantes de colisões de grandes corpos celestes, como meteoritos e asteroides, com o planeta Terra, tendo descoberto e caracterizado nove crateras meteoríticas de grandes dimensões no Brasil, que têm servido de referência para estudos de análogos terrestres. Atualmente, dedica-se à pesquisa sobre a formação de crateras no Titã, maior satélite natural de Saturno, um trabalho que pode contribuir para a investigação das possibilidades de criação de condições do surgimento de vida em outros corpos planetários.

Sua carreira foi marcada, também, pela dedicação a atividades de gestão, seja em diferentes esferas da Universidade, seja em instituições de fomento ao ensino e à produção científica. Foi assessor e chefe-adjunto do gabinete do reitor e pró-reitor de desenvolvimento universitário, além de coordenador geral da Universidade, quando criou o Programa Campus Tranquilo – Universidade Viva, que serviu de embrião para a criação da Secretaria de Vivência dos Campi da Unicamp (SVC). Presidiu o conselho curador da Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp) e participou de conselhos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). No IG, ocupou os postos de chefe do departamento de Metalogênese e Geoquímica, coordenou e dirigiu o programa de pós-graduação em Geociências.  

Aquisição de linguagem

A professora Claudia Thereza Guimarães Lemos: professora voluntária
A professora Claudia Thereza Guimarães Lemos: professora voluntária

Professora voluntária na Unicamp, possui uma carreira marcada pelo pioneirismo no campo da aquisição da linguagem. Sua trajetória compreendeu não apenas a produção científica e cultural e a formação de pesquisadores, mas também a construção de um acervo de relevância internacional. Graduada em Letras Clássicas pela USP, antes mesmo de ingressar na carreira acadêmica destacou-se como leitora em língua portuguesa na Universidade de Tóquio (Japão). Contratada pelo então Departamento de Linguística do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), pôde participar das discussões institucionais que precederam a criação do IEL.

Em Linguística, é referência por tratar a aquisição de linguagem sob uma perspectiva diferenciada, que inclui a psicanálise como abordagem. Entre os temas abordados por seus estudos, estão a crítica à noção de desenvolvimento dominante na aquisição de linguagem; a questão do erro na fala de crianças; e a posição da criança com relação à fala do outro e à sua própria fala. Atualmente, tem se dedicado às discussões sobre possíveis relações entre linguística e psicanálise, sobretudo para se pensar uma releitura do erro na fala da criança.

Seu doutorado sobre o uso dos verbos ser e estar no português brasileiro, com ênfase no processo infantil de aquisição de linguagem, foi realizado na Universidade de Edimburgo (Escócia) e foi publicado na Alemanha. Lemos foi professora visitante na USP e, no Brasil, ainda atuou Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e de Campinas, bem como na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e na Universidade Federal de Alagoas (UFA). Fora do Brasil, esteve na Universidade de Oxford (Inglaterra) e estagiou na Université Sorbonne Nouvelle (Nova Universidade de Sorbonne, em tradução livre), na França, além de ter colaborado com a Universidade de Roma La Sapienza (Itália). Entre suas publicações, está o livro “Questions on Social Explanation, Piaget Themes Reconsidered” (Considerações sobre Explicação Social, Temas de Piaget Reconsiderados, em tradução livre), que organizou com a autora italiana Luigia Camaioni.

A professora colaboradora Eni de Lourdes Puccinelli Orlandi: história das ideias linguísticas
A professora colaboradora Eni de Lourdes Puccinelli Orlandi: história das ideias linguísticas

Análise do discurso

Professora colaboradora da Unicamp, participou da criação e consolidação do campo da história das ideias linguísticas na Unicamp e em diversas universidades da América Latina. Sua carreira é marcada tanto por um trabalho pioneiro na área da análise do discurso – onde exerce liderança – como pela dedicação à formação e à pesquisa, o que se reflete na orientação de 51 pesquisas de mestrado, 49 doutoramentos e na supervisão de 8 trabalhos de pós-doutoramento. Impulsionada por uma constante reflexão crítica e pela formulação de novas perspectivas de análise, a professora coordenou iniciativas que inauguraram práticas e abordagens inovadoras no campo da pesquisa, como o projeto “História das Ideias Linguísticas: Construção do Saber Metalinguístico e a Constituição da Língua Nacional”, que promoveu o diálogo entre a Unicamp e pesquisadores de diferentes instituições francesas.

Em 1992, publicou seu livro mais significativo, “As formas do silêncio”, que além de ter sido traduzido para os idiomas italiano, francês e espanhol, inspirou o espetáculo “Je ne sais quoi”, do coreógrafo francês George Appaix. Autora de outros 13 livros, assina a organização de 28 obras coletivas, 94 capítulos de livros e cerca de 133 artigos em periódicos científicos. Na Universidade, atuou na renovação do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade (Nudecri), ficando à frente da fundação do seu Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb), onde estruturou o campo de estudos Saber Urbano e Linguagem. Também é responsável pela introdução, na Unicamp, dos estudos do filósofo francês Michel Pêcheux, coordenando coletivos de tradução de obras seminais do autor francês, considerado um dos pais da análise do discurso.

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