Os Prêmios Nobel de Física e Química 2025, anunciados nesta terça-feira (7) e quarta-feira (8), contaram com a contribuição de um docente e de um cientista egresso da Unicamp. No prêmio da Física, os cientistas John Clarke, Michel Devoret e John Martinis utilizaram o modelo teórico que leva o nome do professor sênior do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp Amir Caldeira, cujo doutorado foi defendido em 1980. Na premiação da Química, dos cientistas Susumu Kitagawa, Richard Robson e Omar M. Yaghi, sendo que este último teve, entre os integrantes de sua equipe, Ricardo Barroso Ferreira, que foi aluno de graduação e mestrado do Instituto de Química (IQ) e, atualmente, mora nos Estados Unidos.

Caldeira, professor do Departamento de Física da Matéria Condensada, disse que a citação foi uma “grata surpresa”. “O que os cientistas premiados fizeram foi a constatação experimental da teoria da minha tese de doutorado, defendida em outubro de 1980”, conta. “Conheço o trabalho deles, não imaginava que fosse chegar ao Nobel. Aquilo que a gente fez lá atrás eles brilhantemente confirmaram. Nunca imaginei que a minha tese teria um impacto tão grande até o momento atual.”
O Nobel de Física, sobre mecânica quântica, abre caminho para uma nova geração de computadores. “A tecnologia, que permite manusear sistemas cada vez menores, vem se desenvolvendo há muito tempo. Agora, a aplicação prática da computação quântica ainda tem que ser estudada e contar com uma política de desenvolvimento. Sou contra o imediatismo, a aplicação está longe da nossa imaginação”, continua Caldeira.
Os premiados demonstraram a validade dos princípios da teoria quântica em sistemas mesoscópicos, por meio do chamado “modelo de Caldeira-Leggett”, que vão além dos níveis atômico e subatômico, como já se sabia, mas também em escalas maiores, ainda que não visíveis a olho nu.

Na década de 1970, Caldeira e seu orientador Anthony Leggett – físico-teórico da Universidade de Illinois Urbana-Champaign, que venceu o Nobel em 2003 pela identificação das fases superfluidas do He3 e também batiza o modelo – realizaram avanços significativos para a pesquisa em física quântica e o modelo Caldeira-Leggett é um dos primeiros e fundamentais modelos para se entender como os sistemas quânticos interagem com o ambiente. Vale destacar que o professor da Unicamp foi coordenador, entre 2009 a 2014, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Informação Quântica (INCT-IQ).
Novas regras
A área da Química, por sua vez, premiou um trabalho que, segundo o Comitê do Nobel, “cria novas regras para a Química” a partir de estudos das chamadas estruturas metal-orgânicas. O trabalho dos três cientistas poderá ser usado para enfrentar alguns dos maiores problemas do nosso planeta, incluindo a captura de dióxido de carbono — o que pode ajudar a combater as mudanças climáticas — ou a redução da poluição por plásticos.

“Eles encontraram maneiras de criar materiais totalmente novos, com grandes cavidades internas que podem ser vistas quase como quartos de hotel, de modo que moléculas ‘hóspedes’ podem entrar e também sair novamente do mesmo material”, disse Heiner Linke, presidente do Comitê do Nobel de Química na coletiva de imprensa. “Uma pequena quantidade desse material pode ser quase como a bolsa da Hermione, em Harry Potter. Pode armazenar enormes quantidades de gás em um volume minúsculo.”
Para André Luiz Barboza Formiga, professor associado do IQ, “esse prêmio era esperado há algum tempo”. O docente das disciplinas de Química de Coordenação e Química de Coordenação Computacional foi professor na graduação e orientador de mestrado de Ricardo Barroso Ferreira, que integrou a equipe de pesquisa de Omar M. Yaghi, um dos premiados. “O Ricardo foi bolsista Fapesp em iniciação científica e fez estágio na Califórnia. Depois do mestrado na Unicamp, na mesma área deste estudo premiado, voltou para lá e ficou.”
Ferreira, ainda na graduação, conseguiu um feito raro para um aluno de graduação: foi coautor de um artigo na revista Science. No início de 2009, como bolsista de iniciação científica, fez parte da equipe de pesquisa de Yaghi no Instituto de Nanossistemas da Universidade da Califórnia. O grupo desenvolveu um cristal capaz de capturar emissões de dióxido de carbono. “Sintetizamos vários materiais diferentes. Eu me encarreguei da síntese e da análise de alguns deles”, contou, na época.
Hoje, Ferreira conta que comemorou a premiação. “O professor Yaghi foi um grande incentivador para que eu fizesse meu doutorado fora, assinamos artigos juntos, ele me deu uma carta de apresentação. Durante o doutorado trabalhei na mesma área de sua pesquisa. É interessante como uma universidade pública como a Unicamp nos prepara para tantas coisas, abre tantas portas. Quando fiz o estágio, o Yaghi já era famoso e, certa vez, visitou a Universidade e fez questão de me reencontrar”, conta. “O prêmio é merecido e muito esperado. O Yaghi sempre mostrou sua preocupação em inspirar a nova geração da Química.”

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