Cada vez mais os smartwatches — relógios de pulso com funções inteligentes similares às de um smartphone — estão ganhando recursos avançados para monitorar a saúde do usuário. Alguns modelos conseguem informar dados como batimentos cardíacos, oxigenação do sangue, níveis de estresse, qualidade do sono e até mesmo sinais de arritmia ou quedas, atuando como monitores de bem-estar em tempo real. No entanto, atualmente, essas informações não são facilmente acessíveis para os usuários, dificultando sua comparação com dados obtidos por meio de equipamentos médicos de referência, servindo apenas como indicadores aproximados das condições de saúde de uma pessoa.
Contudo uma nova tecnologia desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Computação (IC) da Unicamp reduz consideravelmente a distância entre os dados de saúde apresentados por smartwatches e os aferidos por equipamentos médicos profissionais. Essa tecnologia, um softwaredenominado Viva Sensing, aprimora a precisão na coleta de dados biométricos dos usuários desses relógios. Esses dados mais certeiros, quando enviados a aplicativos de saúde baseados em inteligência artificial (IA), podem oferecer ao usuário resultados comparáveis aos obtidos por equipamentos médicos de referência, como explica o professor do IC Anderson Rocha. “O Viva Sensing aprimora a coleta de biossinais de uma pessoa. Em nossos testes, os dados captados pelos sensores de um smartwatch, como acelerômetro, giroscópio, termômetro e monitor de frequência cardíaca, comprovaram que podem permitir o desenvolvimento de soluções de IA com resultados que alcançam, em alguns casos, os de equipamentos médicos padrão-ouro, aqueles considerados as melhores referências para diagnosticar e tratar parâmetros clínicos específicos”.
Rocha também é diretor do Recod.ai, um laboratório de IA vinculado ao IC que mantém parcerias com vários institutos e faculdades da Universidade. O Viva Sensing foi desenvolvido no âmbito do projeto Viva Bem, ramo do Recod.ai voltado a aplicações nas áreas de saúde e bem-estar, fruto de uma parceria de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) entre a Unicamp e a Samsung. Também participante da criação do Viva Sensing, a empresa sul-coreana é cotitular desse programa de computador, já licenciado, por exemplo, para a Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Como órgão responsável na Unicamp, a Agência de Inovação da Unicamp (Inova Unicamp) conduziu a negociação e os processos para firmar o acordo de PD&I entre a Universidade e a Samsung e participou do processo para garantir a proteção da propriedade intelectual e do licenciamento da tecnologia.

Como a tecnologia pode chegar aos smartwatches
A partir do acordo de PD&I com a Samsung, a tecnologia desenvolvida na Unicamp pode ser incorporada aos seus smartwatches, embora isso possa não ser perceptível para o público em geral. O professor do IC Breno de França explica a razão:
“O Viva Sensing não é um aplicativo. Ele é um programa focado em tornar mais precisa a coleta dos dados de saúde das pessoas, informações que vão alimentar aplicativos de smartwatches. Ninguém vai ver o Viva Sensing rodando no seu relógio, mas é bem provável que, daqui em diante, por trás de muitos aplicativos de saúde instalados nesses relógios, esteja presente a tecnologia desenvolvida na Unicamp”.
França reforça que o Viva Sensing pode ampliar o acesso a dados de saúde que, normalmente, estão ao alcance somente de quem pode realizar exames médicos com equipamentos de ponta: “Acreditamos que os smartwatches podem se tornar, com essa tecnologia, ferramentas mais acessíveis para o monitoramento da saúde dos usuários. Eles poderão fornecer às pessoas alertas de saúde valiosos em seu dia a dia”, afirma o professor.
Pesquisas clínicas, mobilidade e medicina esportiva
Além de fornecer dados a aplicativos de smartwatches, o Viva Sensing pode ter outros usos na área da saúde. Uma possibilidade são as pesquisas clínicas, como acrescenta o pesquisador do IC Unicamp Felipe Bertocco: “O software pode ser programado para realizar inúmeros tipos de coleta de dados de um usuário. Ele pode ser configurado para uso em estudos clínicos, nos quais exista a necessidade de coletar determinadas informações de um paciente e acompanhar esses parâmetros ao longo do tempo”.
Outro exemplo é a sua aplicação na área da mobilidade para pessoas com deficiência: “O software também pode ser usado para monitorar sinais fisiológicos de um cadeirante, fornecendo informações valiosas para quem faz o acompanhamento médico. O software pode coletar seus biossinais, sem a necessidade de equipamentos complexos ou de deslocamentos frequentes a clínicas. Isso tornaria mais seguro e ágil o acompanhamento da pessoa com deficiência”, explica Bertocco.
A medicina esportiva configura outro campo com aplicações promissoras do software, como detalha o professor: “O Viva Sensingpode informar parâmetros como frequência cardíaca, temperatura corporal etc., o que facilita a análise de dados como o tempo de resposta do corpo durante treinos, sinais precoces de fadiga ou de sobrecarga, padrões de recuperação, entre outros. Tudo isso pode ser benéfico para atletas amadores ou profissionais”.

Prêmio inventores 2025
Esta é a 18ª edição do Prêmio Inventores que a Inova Unicamp organiza com o propósito de reconhecer e valorizar os inventores engajados, no último ano, na transferência de tecnologias da Universidade e na criação de empresas spin-offs acadêmicas.
Inventores premiados neste licenciamento:
Anderson de Rezende Rocha, Breno Bernard Nicolau De França, Felipe Capiteli Bertocco, Natielle Ferreira Rabelo, Didier Augusto Vega Oliveros e Aurea Rossy Soriano Vargas (IC) foram premiados na categoria Propriedade Intelectual Licenciada no Prêmio Inventores 2025, organizado pela Inova Unicamp.
Programação de homenagens de 2025:
A Inova Unicamp organizou uma série de homenagens em comemoração ao Prêmio Inventores de 2025, como as reportagens relacionadas a casos premiados, disponíveis para leitura nos sites da Inova Unicamp e do Prêmio Inventores, bem como em formato e-book na Revista Prêmio Inventores (com lançamento previsto para agosto).
No dia 19 de agosto, a Inova Unicamp também promoverá o Webinar Prêmio Inventores, compartilhando casos de sucesso na proteção de propriedade intelectual e na transferência de tecnologia da Universidade. As inscrições estão abertas e são gratuitas.
Os premiados também receberão um certificado de reconhecimento.
A edição de 2025 tem o patrocínio de ClarkeModet e FM2S.
Matéria originalmente publicada no site da Inova Unicamp.
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