
As lesões em nervos periféricos podem resultar de traumas, cortes ou compressões, como a síndrome do túnel do carpo e o comprometimento do nervo facial, e ainda representam um desafio para a medicina. O tratamento convencional mais utilizado é o autoenxerto, técnica que consiste na retirada de um nervo de outra parte do corpo do próprio paciente para substituir o segmento danificado. Apesar de eficaz, esse procedimento pode provocar perda de sensibilidade, dor crônica e recuperação incompleta.
Para superar essas limitações, pesquisadores do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp desenvolveram um conduto neuroprotetor, impresso em 3D, que conecta as extremidades do nervo lesionado e estimula sua regeneração por meio da liberação controlada de substâncias bioativas.
“A proposta foi unir o conhecimento já consolidado sobre regeneração nervosa com ferramentas modernas de fabricação. Buscamos desenvolver uma solução viável e funcional para uso clínico”, contou Diego Sánchez, pesquisador de pós-doutorado no Laboratório de Regeneração Nervosa (LRN) do IB e um dos inventores da tecnologia.
O dispositivo, composto por biopolímeros e hidrogéis, libera, de forma prolongada, proteínas neuroprotetoras, responsáveis por estimular a proliferação e a organização das células nervosas, favorecendo a recuperação do tecido. A invenção, além disso, é biocompatível e biodegradável – características que permitem sua absorção natural pelo organismo após o uso, sem causar reações adversas.
Durante o processo de recuperação, o conduto libera moléculas naturais que estimulam o crescimento celular e minimizam processos inflamatórios. “A liberação contínua dessas substâncias reduz a formação de fibrose, que pode comprometer o sucesso da cirurgia e exigir intervenção”, afirmou o professor Alexandre de Oliveira, docente do IB e também inventor da tecnologia.

Solução personalizada
A impressão 3D personalizada demanda poucos minutos, o que contribui para a redução do tempo de cirurgia e melhora a integração com os tecidos do paciente. “Cada dispositivo pode ser fabricado sob medida, com diâmetro e comprimento ajustados à lesão. Além disso, esse material pode ficar armazenado por semanas sem perder suas propriedades, facilitando o uso em ambientes hospitalares”, afirmouSánchez.
O conduto atende a diferentes tipos de lesões — desde compressões nervosas até traumas extensos — e adapta-se para incorporar outras substâncias ou células, conforme a necessidade clínica. “Muitas dessas lesões atingem pessoas em idade produtiva, afetando sua qualidade de vida, seu bem-estar e sua capacidade de retorno ao trabalho. Tornar essa recuperação mais rápida e eficaz é essencial”, disse Oliveira.
A tecnologia resultou de uma abordagem interdisciplinar que integra biotecnologia, engenharia biomédica e medicina regenerativa. O dispositivo, produzido por meio de processos sustentáveis e de custo acessível, ainda fortalece a cadeia produtiva local. Alinhada ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3 (ODS-3) da Organização das Nações Unidas (ONU) — referente à saúde e ao bem-estar —, a invenção representa uma alternativa promissora para o setor de saúde.
Com resultados positivos em testes laboratoriais, a tecnologia ganhou proteção por meio de um pedido de patente realizado com o apoio da Agência de Inovação da Unicamp (Inova Unicamp). “Esse acompanhamento especializado foi fundamental para aprimorar a descrição técnica, garantindo robustez e potencial de mercado. Isso reforça o compromisso da Unicamp com transformar a ciência em soluções reais e acessíveis para a sociedade”, afirmou Oliveira.
Além do depósito nacional da patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), os pesquisadores solicitaram proteção internacional por meio do Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT, na sigla em inglês), ampliando as possibilidades de parcerias com empresas e instituições de outros países. A tecnologia está atualmente disponível para licenciamento por parte de empresas e instituições interessadas a fim de viabilizar a realização de testes em maior escala, acelerar sua transição para a prática clínica e possibilitar que a solução chegue à sociedade.

Como licenciar uma tecnologia na Unicamp
A Inova Unicamp disponibiliza no Portfólio de Tecnologias da Unicamp uma vitrine tecnológica. Empresas e instituições públicas ou privadas podem licenciar a propriedade intelectual desenvolvida na Unicamp, com ou sem exclusividade, tais como patentes, cultivares, marcas, software e know-how. O contato para interessados no licenciamento de tecnologias da universidade é realizado diretamente com a Agência de Inovação da Unicamp por meio do formulário de conexão com empresas.
A Inova Unicamp também oferta ativamente as tecnologias desenvolvidas na Universidade para empresas, com a intenção de que o conhecimento gerado pela instituição chegue ao mercado e à sociedade. Para conhecer outros casos de licenciamento de tecnologias da Unicamp acesse o site da Inova.