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Pesquisa

Aerogéis à base de batata-doce ampliam soluções verdes para a indústria

Tecnologia tem potencial para tratamento de poluentes em águas, ar e solo, além de substituir o isopor e contribuir para a engenharia de tecidos

O aerogel é um material composto, extremamente leve e poroso, com baixa densidade, alta resistência e notáveis propriedades isolantes térmicas, características funcionais para aplicação em diversas áreas industriais e ambientais. Apesar dessas qualidades, sua produção em larga escala tem sido limitada pelo uso de matérias-primas que, frequentemente, não são biodegradáveis ou compatíveis com processos sustentáveis.

Com o intuito de sanar esses desafios, pesquisadores da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) e da Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp desenvolveram aerogéis à base de amido de batata-doce.

“O aerogel de amido de batata-doce baseia-se em um polímero natural e biodegradável, oferecendo uma alternativa viável a materiais sintéticos que geram impactos ambientais”, explica Carolina Siqueira Franco Picone, docente da FEA e uma das inventoras da tecnologia.

Outro grande diferencial da tecnologia é seu método de produção, que se destaca pela rapidez e simplicidade, sem a necessidade de solventes orgânicos complexos. “Muitos processos convencionais de produção de aerogéis envolvem a troca de solventes, utilizando etanol ou CO2, o que gera resíduos e demanda alto consumo energético. No nosso método, adotamos uma abordagem que permite reduzir etapas críticas do processo, com menor impacto ambiental e maior eficiência energética, resultando em um processo mais limpo e eficiente”, destaca Picone.

Da esquerda para a direita, Patrícia Prediger (FT), Carolina Picone (FEA) e Ana Clara Troya Raineri Fiocco: polímero natural e biodegradável
Da esquerda para a direita, Patrícia Prediger (FT), Carolina Picone (FEA) e Ana Clara Troya Raineri Fiocco: polímero natural e biodegradável

Substituto de isopor

Já testada em laboratório, a invenção possui aplicabilidade como agente despoluente de águas residuárias, auxiliando na remoção de substâncias indesejáveis da água.

“O que o torna ainda mais interessante é sua forma tridimensional: diferente de outros materiais adsorventes, que geralmente são encontrados em pó e exigem uma etapa de filtração após o uso, o aerogel pode ser facilmente removido do meio líquido sem necessidade desse processo, o que reduz custos e torna o tratamento da água mais eficiente. Além disso, ele não apresenta toxicidade, um fator essencial para garantir segurança ambiental e para o consumo humano”, detalha Patricia Prediger, docente da FT e que também contribuiu para o desenvolvimento do material.

Prediger explica que os aerogéis podem atuar tanto por absorção quanto por adsorção, processos que diferem na forma como os poluentes são capturados. “Na absorção, o poluente é incorporado no interior do material, enquanto na adsorção ele adere à superfície. Isso permite que o aerogel seja usado não apenas para remover contaminantes da água, mas também do ar e do solo, seja capturando partículas e gases nocivos ou auxiliando na degradação química de poluentes”, acrescenta.

Além disso, a tecnologia tem grande potencial de uso em outras áreas, como alternativa ao isopor em embalagens, fornecendo uma opção biodegradável e menos agressiva ao meio ambiente; na engenharia de tecidos, para o desenvolvimento de materiais para próteses e cultivo celular; e em processos industriais que exigem materiais isolantes térmicos leves, como construções civis.

“Sua estrutura permite a liberação controlada de bioativos em alimentos e fármacos, além de servir como possível suporte para enzimas em diversos processos industriais. Outra aplicação promissora é como suporte para o crescimento de células, criando uma base tridimensional que favorece a adesão e a proliferação celular, beneficiando tanto os alimentos plant-based quanto a biomedicina”, exemplifica Picone.

A invenção culminou em um pedido de patente com o suporte da Agência de Inovação Inova Unicamp, órgão responsável pela análise estratégica da proteção da propriedade intelectual da Universidade.

“Esta foi a minha primeira experiência com a Inova, e minhas expectativas foram superadas. Todo o apoio foi excelente, principalmente na questão de redação do documento. A equipe respondeu prontamente às dúvidas e auxiliou ativamente no levantamento de anterioridades para analisar o ineditismo da tecnologia”, ressalta Picone.

Feito a partir da batata-doce, a tecnologia tem grande potencial de uso em outras áreas, como alternativa ao isopor em embalagens
Feito a partir da batata-doce, a tecnologia tem grande potencial de uso em outras áreas, como alternativa ao isopor em embalagens

Alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), especialmente ao ODS 11-Cidade e Comunidades Sustentáveis, a invenção promove práticas mais verdes, especialmente em ambientes urbanos. “A aplicação do aerogel pode ajudar as indústrias a se adequarem às necessidades de sustentabilidade, alinhando-se às metas globais estabelecidas pela ONU”, finaliza Prediger.

Além das duas docentes, participaram do desenvolvimento da invenção os pesquisadores Ana Clara Troya Raineri Fiocco e Rafael Contatori dos Santos, da FEA, e Natchelie Pereira da Costa Santos, da FT.

Atualmente, a tecnologia está disponível para licenciamento por empresas interessadas em usar o material em suas soluções no mercado. Mais informações sobre a tecnologia podem ser obtidas no portal da Inova Unicamp.

Como licenciar uma tecnologia na Unicamp

A Inova Unicamp disponibiliza no Portfólio de Tecnologias da Unicamp uma vitrine tecnológica. Empresas e instituições públicas ou privadas podem licenciar a propriedade intelectual desenvolvida na Unicamp, com ou sem exclusividade, tais como patentes, cultivares, marcas, software e know-how. O contato e a negociação são realizados diretamente com a Agência de Inovação da Unicamp pelo formulário de conexão com empresas.

A Inova Unicamp também oferta as tecnologias para as empresas, com a intenção de que o conhecimento gerado na Universidade chegue em forma de soluções ao mercado e à sociedade. Para conhecer outros casos de licenciamento de tecnologias da Unicamp, acesse o site da Inova.

Matéria publicada originalmente no site da Inova Unicamp.

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