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Atualidades

Consu aprova concessão de título de Professor Emérito a Robert Slenes

Natural dos Estados Unidos, o professor consolidou uma carreira de mais de 30 anos na Unicamp

Por unanimidade de votos, o Conselho Universitário (Consu) da Unicamp aprovou a concessão do título de Professor Emérito a Robert Wayne Andrew Slenes, em sua sessão ordinária, nesta terça-feira (27). A proposta foi apresentada pelos professores Lucilene Reginaldo e Ricardo Figueiredo Pirola, ambos vinculados ao Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), assim como Slenes. Subscrevem a proposta os professores Sidney Chalhoub (Universidade de Harvard e Unicamp), Gladys Sabina Ribeiro (Universidade Federal Fluminense/UFF), Martha Abreu (UFF) e Jonis Freire (UFF).

Natural dos Estados Unidos, Slenes consolidou uma carreira de mais de 30 anos na universidade paulista. Sua vasta produção científica é referência para os estudos da escravidão no mundo atlântico e da história da África, incluindo o livro Na Senzala, uma Flor: Esperanças e Recordações na Formação da Família Escrava, que se tornou um clássico da historiografia sobre o Brasil oitocentista.

Para a diretora do IFCH, Andréia Galvão, o título coroa uma trajetória de contribuições à Unicamp, destacando a erudição e a generosidade intelectual de Slenes: “Bob está sempre pronto a indicar referências bibliográficas, compartilhar fontes e sugerir novas perspectivas de pesquisa a seus interlocutores, geralmente acompanhado por uma célebre mala de couro marrom.”

A professora ressaltou que sua abordagem transdisciplinar e seus métodos de pesquisa originais produziram interpretações com grande impacto sobre os estudos da escravidão e da diáspora africana. Em especial, a tese defendida em Stanford [Intitulada The demography and economics of Brazilian Slavery: 1850-1888] “desafiou a visão até então predominante que negava a possibilidade de existência de famílias escravas dentro das senzalas” – demonstrando não apenas sua existência, mas a permanência dos grupos familiares ao longo do tempo.

Além disso, acrescenta Galvão, Slenes levantou dados demográficos inéditos sobre o tráfico interno de cativos e as taxas de natalidade, de mortalidade e de alforria no Brasil, “promovendo um fértil diálogo entre demografia e história” e inspirando diversos pesquisadores.

De acordo com a comissão especial que emitiu parecer sobre a proposta de concessão do título, o cruzamento de dados cartoriais também permitiu ao pesquisador acompanhar a trajetória de cativos ao longo do tempo, possibilitando a reconstrução de biografias individuais e coletivas de escravizados. “Os trabalhos de Slenes apresentam uma verdadeira aula de método sobre como reconectar as duas margens do Atlântico e avançar na produção de uma história social de africanos e seus descendentes no século XIX”, destacou o parecer. A comissão foi presidida pela professora Leda Gitahy e composta pelas professoras Hebe Maria da Costa Mattos Gomes de Castro e Lilia Katri Moritz Schwarcz.

O Conselho Universitário aprovou a concessão por unanimidade
O Conselho Universitário aprovou a concessão do título por unanimidade

O coordenador-geral da Unicamp, Fernando Coelho, ressaltou a importância de se reconhecer a participação de pessoas que contribuíram para a trajetória da Universidade. “Particularmente, o caso do prof. Slenes é ainda mais importante, porque vivemos um apagamento das histórias das pessoas escravizadas no Brasil. O fato de ter pesquisadores que conseguem organizar e localizar a ideia de família, no sistema de enorme violência que se vivia na época, é realmente muito importante”, afirmou.

O professor do IFCH André Kaysel pontuou que Slenes impactou as gerações, na Unicamp, que têm se dedicado a estudar a história social da escravidão. “É um tema da maior atualidade, pensando nas políticas de ações afirmativas que temos promovido aqui e pensando, inclusive, no passado desse terreno onde estamos localizados, que um dia foi parte das fazendas do Barão Geraldo de Proença. Acho justíssimo o reconhecimento à obra do professor Slenes.”

Trajetória profissional

Slenes formou-se em Liberal Arts no Oberlin College (Estados Unidos), em 1965. Obteve o grau de mestre em literatura espanhola pela Universidade de Wisconsin-Madison (EUA) em 1966 e o título de doutor em história em Stanford (EUA) no ano de 1976.

Entre 1972 e 1975, foi professor da Universidade do Novo México (EUA). Após esse período, até 1979, assumiu a cadeira de docente de História da América Latina na Universidade do Colorado (EUA). Em 1979, transferiu-se definitivamente para o Brasil ao assumir uma vaga como docente da Universidade Federal Fluminense (UFF), no mesmo momento de criação do programa de mestrado em história na instituição.

O professor chegou à Unicamp em 1983, onde permaneceu por mais de três décadas. Slenes faz parte da primeira geração de docentes do curso de história e de seu programa de pós-graduação (iniciado em 1976), tendo ajudado a formar o primeiro grupo de alunos especialistas em história africana.

Robert Slenes realizou cinco pós-doutorados em universidades no exterior
Robert Slenes realizou cinco pós-doutorados em universidades no exterior

Durante sua carreira docente, orientou 29 dissertações de mestrado e 25 teses de doutorado. “A formação desses docentes/pesquisadores especialistas em África foi fundamental para o processo de institucionalização da disciplina dedicada ao continente africano nas universidades brasileiras e conformou material básico para o ensino de história da África nas escolas nacionais”, apontou o parecer da comissão especial.

Slenes realizou cinco pós-doutorados em universidades no exterior: Stanford (EUA), Duke (EUA), Paris-Sorbonne IV (França) e Rice (EUA). Também atuou como Professor Visitante Sénior no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Bahia (UFBA) entre 2017 e 2021.

No ano de 1995, juntamente com Silvia Lara, Maria Clementina Cunha, Sidney Chalhoub, Claudio Batalha e Alcir Lenharo, Slenes fundou o Cecult (Centro de Pesquisa em História Social da Cultura), um dos mais importantes núcleos de pesquisa no país dedicado a estudar os trabalhadores livres e escravizados.

Desde a sua aposentadoria, em 2013, Slenes continua vinculado como colaborador ao programa de pós-graduação em história da Unicamp, participando de bancas de defesa e orientando alunos. Atualmente (2024) é bolsista produtividade sénior do CNPq.

Em 2016, a editora da Unicamp publicou o livro Escravidão e cultura afro-brasileira: temas e problemas em torno da obra de Robert Slenes, organizado por ex-alunos de Slenes.

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Assista ao documentário Malungos de Viagem produzido pela TV Unicamp:

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