O Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp realizou, no início de janeiro, a primeira assistência circulatória ventricular esquerda prolongada, utilizando uma bomba centrífuga externa CentriMag, que funcionou como um “coração artificial”. A tecnologia foi empregada pela primeira vez na instituição para tratar um paciente de um ano e sete meses na UTI pediátrica. A criança havia contraído uma virose, que causou uma miocardite viral e evoluiu para uma insuficiência cardíaca gravíssima, que poderia levar a uma falência irreversível do órgão.
Inicialmente, a alternativa ao uso de medicamentos endovenosos – que ajudam na melhora da função cardíaca – para estabilizar o quadro do paciente foi o suporte da ECMO-VA (oxigenação por membrana extracorpórea veno-arterial), utilizado por 18 dias. Como a evolução clínica não apresentou sinais de melhora na função cardíaca, as equipes de cirurgia cardíaca, perfusão, cardiopediatria e UTI pediátrica optaram por um suporte circulatório prolongado utilizando a tecnologia CentriMag, que permite uma avaliação mais longa da evolução clínica.
![Equipe médica que utilizou a tecnologia pela primeira vez na instituição em bebê que estava na fila de transplante de coração](https://jornal.unicamp.br/wp-content/uploads/sites/32/2025/02/Ni_20250205_hc_coracao_artificial_div_interna1.jpg)
“Diante dessa situação, foi necessária uma nova opção de suporte mais duradouro, que proporcionasse suporte mecânico contínuo ao ventrículo esquerdo, com o objetivo de estabilizar a criança e avaliar o potencial de recuperação cardíaca ou a necessidade de transplante”, esclareceu o médico Orlando Petrucci Júnior, coordenador da cirurgia cardíaca do HC.
Petrucci Júnior explica que a ECMO é um suporte mecânico de curta duração (variando de 15 a 30 dias), já utilizado outras vezes no HC. Quando não há mais sinais de melhora, é necessário buscar alternativas mais longas, como a CentriMag. A ECMO e a CentriMag são tecnologias complexas de suporte contínuo para recuperação ou transplante, que exigem monitoramento constante e uma equipe altamente especializada.
Carlos Lavagnoli, cirurgião cardíaco e membro da equipe multidisciplinar, explica que esses dispositivos têm um papel crucial como “ponte para o transplante” ou “ponte para recuperação”. “Ambas as tecnologias são usadas para garantir a estabilização do paciente, seja aguardando um transplante, seja para recuperação após complicações graves, como falência cardíaca ou pulmonar”, afirmou Lavagnoli.
Elio Carvalho, biomédico perfusionista integrante da equipe, ressaltou que a utilização da CentriMag pela primeira vez no HC da Unicamp e na região é um marco importante, já que poucas instituições no Brasil possuem experiência com essa tecnologia de ponta, sendo o INCOR, em São Paulo, uma das referências no uso da CentriMag. “Esse avanço representa um marco histórico para o HC da Unicamp e reforça o compromisso do hospital em oferecer as melhores opções de tratamento aos seus pacientes”, comenta Carvalho.
A decisão de usar a tecnologia pela primeira vez na instituição foi apoiada pela superintendente do HC, Elaine Cristina de Ataíde, que endossou a indicação técnica-científica da decisão tomada pela equipe médica para salvar o paciente. Inicialmente, a criança estava na lista de espera para transplante de coração, mas se recuperou e vem apresentando boa evolução clínica. Ela continua internada na UTI Pediátrica, porém sem uso de aparelhos.
![Bebê de um ano e sete meses contraiu uma virose, que causou uma miocardite viral e evoluiu para uma insuficiência cardíaca gravíssima](https://jornal.unicamp.br/wp-content/uploads/sites/32/2025/02/Ni_20250205_hc_coracao_artificial_div-Capa-1.jpg)