Unicamp concede título post-mortem
a Yong Kun Park
O docente, falecido em maio de 2018, aos 92 anos, é considerado um pioneiro no estudo dos alimentos no Brasil
A Unicamp convocou, nesta quinta-feira (10), uma sessão extraordinária do Conselho Universitário para a outorga post-mortem do título de professor emérito a Yong Kun Park, considerado um pioneiro no estudo dos alimentos no Brasil. O docente morreu em 21 de maio de 2018, aos 92 anos. Na cerimônia, foi representado pelo filho, Marcelo Park.
Nascido em território da atual Coréia do Norte, Park fez carreira na Unicamp, onde começou a trabalhar ainda na década de 1970 e onde passou a desenvolver pesquisas sobre enzimas. Apesar das dificuldades com o idioma português, ele contribuiu para montar o primeiro grupo de pesquisadores em engenharia de alimentos da Universidade. Em 1972, apresentou sua tese de doutorado em ciência de alimentos na Unicamp e, a partir daí, consolidou-se como um dos pioneiros na área de bioquímica dos alimentos no país.
“A concessão de um título como esse é importante para quem recebe, mas também é muito importante para a Universidade”, disse o reitor da Unicamp Antonio José de Almeida Meirelles, que foi aluno de Park na graduação. “O indicado ao título passa a ser uma referência; a iluminar os caminhos dos que estão chegando”, acrescentou o reitor.
Meirelles afirmou que a trajetória de Park foi exemplar, já que o professor liderou pesquisas que tiveram grande impacto junto à sociedade. Além disso, lembrou, Park construiu relações consistentes com o setor privado e foi responsável por formar muitos profissionais. “A família deve ter muito orgulho da trajetória do professor Park. Ele é responsável por muitos tijolinhos na história da ciência e da tecnologia do Brasil”, finalizou o reitor.
“É uma imensa honra estar aqui, hoje, para representar o meu pai”, disse Marcelo Park. “Se ele estivesse aqui, certamente estaria muito feliz com essa homenagem; esse reconhecimento de uma vida dedicada à pesquisa, ao ensino, à inovação”, acrescentou. “Um ponto que ele ajudou a formar em mim é que educação de qualidade, com equidade e igualdade, é a base sólida de formação de qualquer cidadão, qualquer sociedade, qualquer nação. E isso vou levar para todo o resto da minha vida”, concluiu.
Park construiu uma carreira marcada pela inovação. Descobriu, por exemplo, que a própolis das abelhas contém elementos que podem ajudar a combater alguns tipos de células cancerígenas. Também ajudou a desenvolver um produto constituído de substâncias químicas derivadas da soja que substitui a atividade do hormônio feminino estrogênio e que foi patenteado por meio da Agência Inovação Inova Unicamp.
Na Universidade, Park contribuiu para o fortalecimento do ensino e da pesquisa na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), tendo sido responsável pela criação da área de Bioquímica de Alimentos e do Laboratório de Bioquímica, que posteriormente deu origem a outros laboratórios.
Teve duas patentes de sua autoria licenciadas para empresas. Recebeu prêmios como o de Reconhecimento Acadêmico Zeferino Vaz (2000) e o Prêmio Inventores Inova (2009). Em 2016, recebeu da American Chemical Society um certificado de reconhecimento por seus 50 anos de serviço.
Park também contribuiu para a internacionalização da Universidade, na medida em que seus numerosos contatos no exterior, sobretudo na Coreia do Sul e no Japão, possibilitaram tanto a vinda de pesquisadores estrangeiros para a Unicamp, como a ida de muitos de seus alunos para visitas técnicas e estágios de pós-doutorado em outros países.
Sua produção acadêmica registra 81 artigos em periódicos, seis livros, nove capítulos de livros e 110 resumos em anais de eventos nacionais e internacionais. Orientou 27 alunos de mestrado e 23 de doutorado, profissionais que atuam hoje como docentes e pesquisadores, em universidades de prestígio e em grandes empresas do Brasil e do exterior.
“Um mestre como o professor Park tem poder transformador, no seu local de trabalho, em seus orientados, em sua família”, disse a coordenadora-geral da Unicamp Maria Luiza Moretti. “A trajetória do professor Park nos faz pensar o que foi uma vida de dedicação de um profissional para esta Universidade. Um trabalho que nos trouxe uma nova perspectiva de educação”, acrescentou.
Madrinha do homenageado, Gláucia Pastore lembrou que Park deixa enorme legado para a ciência brasileira. “O que chama muito a atenção no trabalho do professor Park é que ele estudava a ciência, mas queria que aquilo tivesse uma aplicação prática. Queria descobrir em que medida aquele conhecimento iria trazer benefício para as pessoas, para a sociedade, para o país”, disse ela.
Segundo Pastore, o professor amava o Brasil. “Ele sempre nos dizia: preservem o Brasil.”
O diretor da FEA, Anderson de Souza Sant’Ana, disse que reconhecer a “extraordinária” trajetória de Park não é apenas uma cerimônia formal. “É, antes de tudo, a celebração de uma vida dedicada à ciência”, declarou.
O título de professor emérito a Young Kun Park foi proposto pela colega Hélia Harumi Sato.