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Cultura e Sociedade

Oficina com regente coral argentino reúne alunos do Brasil todo na Unicamp

Néstor Andrenacci tem cinco décadas de atuação e recebeu duas vezes o prêmio Konex; hoje é considerado uma referência internacional

O maestro Néstor Andrenacci: aulas caracterizam-se pelo estudo do significado de cada composição
O maestro Néstor Andrenacci: aulas caracterizam-se pelo estudo do significado de cada composição

A notícia da vinda do argentino Néstor Andrenacci como artista residente do Programa Hilda Hilst, promovido pelo Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp, animou cantores, instrumentistas e regentes de todos os cantos do Brasil – como Pará, Espírito Santo e Santa Catarina. Esse grupo heterogêneo chegou ao distrito campineiro de Barão Geraldo na última segunda-feira (15), juntando-se a estudantes de graduação e pós-graduação do Instituto de Artes (IA) da Universidade para participar de uma oficina avançada de regência coral, conduzida pelo premiado maestro ao longo deste mês.

O interesse de pessoas de origens e profissões variadas atesta a excelência do trabalho de Andrenacci, que, em cinco décadas de atuação, recebeu duas vezes o prêmio Konex (um dos principais de seu país) e hoje é considerado uma referência internacional, comandando quatro coros em Buenos Aires (capital argentina). Paralelamente à carreira como regente, o maestro trabalhou como professor da Faculdade de Artes e Ciências Musicais na Universidade Católica Argentina por duas décadas. “Esse movimento da Unicamp, de sair de si mesma e procurar conhecimento em outras partes do mundo para promover esse intercâmbio artístico, enriquece enormemente a Universidade”, destacou o convidado.

Coordenador do IdEA, Christiano Lyra explica que a proposta do Programa Hilda Hilst é trazer à Unicamp artistas consagrados dos mais diversos campos para que possam conviver sobretudo com as novas gerações, compartilhando sua bagagem e seu dia a dia com a comunidade. Trata-se de uma iniciativa que não encontra correspondência em outras universidades. “Essa experiência promove o convívio informal no campus. A proposta é que esses jovens, muitos dos quais estão começando suas carreiras, possam olhar para essas pessoas, que admiram, e se projetar no futuro. E que desse encontro surjam desdobramentos”, conta o docente.

Da esquerda para a direita: o maestro Néstor Andrenacci, o coordenador do IdEA, Christiano Lyra e o professor do Departamento de Música do IA Angelo Fernandes: artistas consagrados nos mais diversos campos
Da esquerda para a direita: o maestro Néstor Andrenacci, o coordenador do IdEA, Christiano Lyra e o professor do Departamento de Música do IA Angelo Fernandes: artistas consagrados nos mais diversos campos

Professor do Departamento de Música do IA, Angelo Fernandes comemora a oportunidade de ter na Unicamp um dos melhores regentes corais sul-americanos da atualidade, oriundo de um país que é, juntamente com a Venezuela, a principal referência para o Brasil na área. “Néstor se tornou destaque em um lugar que é o grande exemplo, para nós, da prática coral de excelência. É um profissional diferenciado entre seus pares. E tê-lo aqui representa uma alegria, por seu conhecimento e por tudo o que pode compartilhar conosco, como suas ideias sobre música, regência e técnica vocal para coros.”

Sua escolha como artista residente pela Unicamp, observa o docente, joga luz sobre uma profissão que, embora tenha a mesma importância daquela atribuída ao maestro de música orquestral instrumental, não costuma receber a mesma atenção. “Em uma obra musical, os cantores possuem uma grande visibilidade. Porém, de modo geral, no estudo da regência coral – que é bem mais presente na vida das pessoas e no dia a dia –, esse campo acaba ficando em segundo plano. O regente coral trabalha com cantores amadores e leva a atividade musical para um público bastante grande. Não existe uma orquestra a cada esquina para ser regida, mas pode haver muitos coros, em escolas, em igrejas, em instituições e em empresas.”

Andrenacci conta ter elaborado um programa propositadamente diverso, que inclui canções para coro a quatro vozes em alemão, espanhol, francês e inglês, destacando Felix Mendelssohn, Paul Hindemith e Ralph Vaughan Williams, entre outros. Suas aulas caracterizam-se pelo estudo do significado de cada composição, envolvendo leituras aprofundadas das obras, momento em que são apresentados os autores, suas origens e influências e também os poetas que trabalharam seus textos. “Néstor vai analisando. Faz todo um trabalho de busca de contextualização e de pronúncia, uma vez que se trata de idiomas diferentes do nosso. Há uma preocupação com o contexto poético. Por isso, é feita uma leitura da estrutura musical”, explica Fernandes.

Em um segundo momento, os alunos cantarão as obras selecionadas, sob regência do argentino. Para encerrar, cada participante será colocado para reger o grupo, recebendo instruções técnicas e avaliações de Andrenacci. Maurício Minozzo, maestro e professor de canto, acordeão e violão, viajou de Chapecó (SC) para participar de uma oportunidade que considera imperdível, para renovar seu repertório e suas técnicas. “Uma oficina gratuita e aberta à comunidade, com um regente excelente, caiu do céu. A formação musical é muito pobre na minha região”, diz o aluno, que cita ainda a possibilidade de trocar experiências com estudantes e profissionais de todo o país. “Há pessoas do sul brasileiro e do Pará. Vamos levar o ensinamento que estamos tendo aqui para o resto do Brasil. Com certeza, isso fortalecerá a área musical das nossas regiões.”

Professora de música e regente coral em Curitiba (PR), Giulia Ferreira concorda com o colega e afirma que não teria condições de participar de uma iniciativa similar não fosse a ação da Unicamp. “Nesta fase da minha vida, não teria condições de participar de um curso em Buenos Aires. Por isso, essa é uma chance única”, diz a aluna, observando que ainda se sente motivada com a primeira aula de Andrenacci. “É comum vermos a formação musical como um lugar de muita cobrança, de exigência exacerbada, de uma forma que não é saudável, e o encontro de segunda-feira foi muito leve. Néstor é um maestro muito acolhedor.”

Ao todo, o artista residente permanecerá na Unicamp por três meses. Após esta primeira oficina presencial, a ser encerrada no dia 26 deste mês com uma apresentação do grupo (sob sua regência) na Casa do Lago, o maestro ministrará uma segunda oficina, virtual, especificamente sobre a música coral de seu país. E também conduzirá o Coro Contemporâneo de Campinas.

Assista ao vídeo produzido pela Secretaria Executiva de Comunicação (SEC):

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