O Centro de Memória da Unicamp (CMU) está lançando o livro digital gratuito “Campinas 250 Anos, 250 Fotos”, que apresenta a história e as mudanças sociais e estruturais pelas quais a cidade passou desde o século 19, contadas pelo olhar de fotógrafos profissionais e amadores de diferentes épocas. Reunindo imagens preservadas nos acervos pertencentes à instituição, que datam desde 1870, a obra chega em meio às celebrações do 250º aniversário – comemorado no domingo (14) – do município fundado em 1774.
Acesse o álbum comemorativo publicado no site do CMU.
A chegada da publicação encerra uma série de iniciativas do CMU para celebrar a data. Dialoga com uma exposição fotográfica em cartaz na instituição e apresenta Campinas sob ângulos variados ao longo do tempo, trazendo uma amostragem da diversidade documental encontrada no local. “O Centro de Memória Unicamp cumpre uma função que é ser a porta de entrada da sociedade, do cidadão de Campinas na Universidade, onde pode reconhecer essa história. Nesse sentido, vale sublinhar, um esforço do livro é conversar com a cidade”, explica o professor André Luiz Paulilo, coordenador do centro.
Estruturado como um álbum de fotos, o livro é composto de registros de profissionais célebres na região, como Ferdinando Panattoni, Gilberto di Biasi e Aristides Pedro da Silva – mais conhecido como V8 –, que deixou uma coleção de 5 mil fotografias, incluindo obras de sua autoria e preciosidades de fotógrafos de fins do século 19. Já entre os amadores, o destaque fica com os legados de José Gomes Guarnieri e de Antônio Tossini, pedreiro que registrou sua rotina familiar e seus trabalhos pela cidade. Há, ainda, postais das duas primeiras décadas do século 20 (alguns dos quais colorizados), assinados por Antônio Miranda, e finalmente conteúdos doados por famílias ou fornecidos por instituições, como a Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas (Sacop).
Entre o material do século 19 disponível no livro, pode-se encontrar imagens do antigo Largo do Rosário e seu coreto, dos bondes puxados por burros, das fazendas de café e do casario que se espalhava por ruas intensamente arborizadas, além do Jardim Público – situado onde hoje se localiza o Centro de Convivência. Com a virada do século, começam a aparecer registros dos primeiros hospitais, fábricas e escolas, além da evolução das praças e jardins. Entre as curiosidades, está a documentação da passagem de Santos Dumont pela cidade, a quem coube a missão de colocar a pedra fundamental do túmulo-monumento de Carlos Gomes, em 1903. Os últimos registros são do final do século 20.
Segundo Maria Sílvia Hadler, coordenadora-associada do CMU, a ideia é trazer diferentes perspectivas de abordagem da cidade. “A intenção não foi fazer um trabalho laudatório, mas pensar esses 250 anos.” Embora a maior parte do material retrate grupos sociais dominantes e seus feitos, interesses e padrões estéticos, os sinais de outras classes sociais são encontrados a todo momento: na presença de trabalhadores em celebrações das instâncias de poder, seja em trânsito, seja em ação; nas imagens rurais; e nos registros feitos por amadores. “É possível fazer algumas leituras a contrapelo das fotos mais tradicionais. Um olhar cuidadoso permite entrar em contato com vários aspectos da história da cidade e com a diversidade existente nesse espaço urbano”, observa a pesquisadora.
Ainda que o intuito não seja mostrar o progresso municipal, a farta documentação do CMU sobre as transformações por que passou a região central de Campinas possibilitou incluir, no livro, as mudanças mais significativas ocorridas na área urbana ao longo das décadas. “V8, por exemplo, acompanhou muitas das transformações da cidade e tem fotos muito significativas. Fotografou a demolição do Teatro Municipal e da Igreja do Rosário, além de ter registrado os últimos dias da presença dos bondes de Campinas”, conta Hadler.
Assim como o número de carros vai aumentando nas ruas e nas páginas do livro, casarões vão sendo substituídos por edifícios. Mais recentemente, chegam as favelas. “Há dois conjuntos de fotos percebidos com muita força”, pontua Paulilo. Se, entre as mais antigas, o destaque é a ocupação que é feita do espaço público (predominantemente para passeio), nos registros mais recentes é possível observar o adensamento da malha urbana, compara.
O professor ressalta o trabalho coletivo empreendido na realização da obra, que envolveu todos os setores do CMU – do processamento técnico à pesquisa, passando pela biblioteca, que ficou responsável pela identificação dos materiais. Organizado pela historiadora Ana Cláudia Berto, o e-book foi escrito por Paulilo em conjunto com Sônia Aparecida Fardin, Iara Lis Schiaviatto e João Paulo Berto. “Estamos trabalhando muito próximos da Secretaria Municipal de Educação de Campinas. Há, também, esforços com equipamentos culturais e de memória da cidade que têm sido bastante profícuos”, finaliza.
Asssita ao vídeo produzido pela SEC: