As transformações que acontecem hoje em todo o mundo e as perspectivas de futuro da nova ordem internacional estiveram no centro do debate promovido pelo “Festival de Ideias: Poder e Prosperidade em um Mundo Multipolar”, realizado nesta quinta-feira (20/6) na Unicamp, com a presença de lideranças políticas, de acadêmicos e de representantes da sociedade civil de 20 países, de diversas áreas do conhecimento. O evento também marcou o lançamento do Transforma, grupo de reflexão (think tank, na expressão em inglês) de esquerda.
De acordo com o professor Pedro Rossi, do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, diretor do Transforma e um dos organizadores do festival, este foi um evento histórico, devido à grande quantidade de personalidades de diferentes nacionalidades e disciplinas. “Estamos preocupados com as políticas públicas e com a transformação social. É um evento acadêmico, mas engajado em uma necessidade de mudanças na sociedade em que vivemos”, disse Rossi.
A programação teve início às 10h e se estendeu até 20h30, no Teatro de Arena e nos auditórios do IE e do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Centenas de participantes lotaram os espaços das conferências, que também foram acompanhadas virtualmente. O festival foi organizado pela associação Progressive International em parceria com a Unicamp.
Incertezas
“Vivemos em um mundo em transformação, que está em uma disputa não muito clara, marcada pela incerteza. Queremos discutir os vários aspectos dessa transformação, de um mundo multipolar, que não é mais o mundo que víamos antes da crise de 2008, marcado pela globalização. Hoje há riscos da polarização política, mas também há possibilidades de mudança, dado o esgotamento dessa forma de relação estado-mercado-sociedade, que se manifesta em várias áreas”, avalia Rossi.
Para o reitor Antonio José Meirelles, o contexto brasileiro e mundial coloca novos desafios para o pensamento civilizatório e progressista. “Desafio que não será enfrentado sem dor”, disse o reitor durante a abertura do festival. Meirelles destacou o vínculo da Unicamp com a luta democrática. “Somos a universidade de Paulo Freire e de Maria da Conceição Tavares.”
Ao lado do reitor e do professor Rossi, também compuseram a mesa de abertura a coordenadora-geral da Progressive International, Varsha Gandikota-Nellutla; a professora do IFCH Andreia Galvão; e o diretor do IE, Célio Hiratuka. Para Nellutla, as questões geopolíticas e as resoluções dos grandes conflitos são cruciais no combate à fome e na viabilização do acesso ao alimento. A coordenadora defende que solidariedade seja muito mais que uma palavra retórica.
Galvão também lembrou as guerras e os genocídios étnicos, os massacres de mulheres, os deslocamentos forçados e as catástrofes ambientais. “O capitalismo não é o fim da história. Ele é um sistema que precisa ser compreendido e transformado.” Também na mesa de abertura, Hiratuka lembrou o envolvimento histórico do IE com as questões progressistas. “Esse é um evento fiel à nossa tradição.”
Mais que acadêmico
Hiratuka acredita que o festival não foi apenas um evento acadêmico. “A tentativa é estimular o debate da academia com a sociedade em geral, com ativistas, com políticos e entidades civis. É um movimento que deve ter continuidade, mobilizando pessoas ao redor do mundo.” Rossi também acredita nesta ação da universidade. “Nossa tarefa não é só entender, mas é também usar o conhecimento como instrumento para mudança. Esse é o primeiro festival de ideias em um formato aberto. Aconteceram outros encontros promovidos pela Progressive International, e a Unicamp recebeu com entusiasmo a ideia do evento, acolhendo aqui a rede e a proposta.”
De acordo com David Adler, cocoordenador geral da Progressive International, as direitas mundiais estão avançando de forma bem coordenada e financiada em todo o mundo. “Precisamos ter responsabilidade de responder em um nível maior de coordenação e convicção diante desse risco político que representa a nova direita mundial.” Adler acredita que o festival é também uma oportunidade de reunir representantes de todo o mundo – África, Ásia, Europa, América Latina.
Entre os convidados internacionais, estavam a professora norte-americana Jodi Dean, da Hobart and William Smith Colleges, de Nova York; o professor e pesquisador britânico Raj Patel, da Universidade do Texas em Austin; o economista e político equatoriano André Arauz; o economista e ex-ministro de Estado da Espanha Alberto Garzón; a presidente da Câmara dos Deputados do Chile Karol Cariola; o jornalista norte-americano Vincent Bevins, entre outros.
Entre os convidados brasileiros, participaram representantes dos movimentos progressistas como Gleise Hoffmann, Lindbergh Farias, Eduardo Suplicy, Eduardo Moreira, Pedro Tourinho, Dandara Tonantzin, Guilherme Mello, Carlos Gadelha e Letícia Batholo.
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