As editoras da Unicamp e da PUC-Campinas se reuniram, nesta quinta-feira (13), para o lançamento do livro Legados: A coleção de Arte Africana Cerqueira Leite. A obra, escrita pelos especialistas em arte africana Lisy-Marta Heloísa Leuba Salum e Renato Araújo da Silva, é bilíngue, em português e em inglês, e reúne 370 imagens de máscaras, estatuetas e outras peças oriundas de diversos países africanos. O catálogo é acompanhado de contextualizações sobre os períodos históricos em que as peças foram produzidas e apropriadas pelos colonizadores europeus e pode ser adquirido por meio das editoras das duas universidades, em suas lojas físicas ou online.
Grande apreciador das artes em geral, Rogério Cezar de Cerqueira Leite foi docente da Unicamp, onde fundou os Institutos de Física Gleb Wataghin (IFGW) e de Artes (IA), e preside atualmente o Conselho de Administração do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Ao longo de 40 anos, Cerqueira Leite reuniu um acervo com cerca de 4 mil artefatos artísticos de várias localidades e diversos períodos históricos, que estão sendo reunidos em obras produzidas em parceria entre as duas universidades. A primeira, intitulada Arte e Arqueologia da América Indígena, foi lançada em 2022 e incluiu fotos, descrições e análises de 794 artefatos pré-colombianos pertencentes ao cientista.
A cerimônia de lançamento do livro, realizada no auditório do Campus I da PUC, contou com a participação do próprio cientista e de sua esposa Ruth Mattos de Cerqueira Leite, além dos autores do livro e do diretor geral do CNPEM Antonio José Roque da Silva. Também estiveram presentes os reitores Germano Rigacci Júnior, da PUC, e Antonio José de Almeida Meireles, da Unicamp. “Ficamos muito felizes em saber que as duas principais universidades de Campinas estão construindo trajetórias conjuntas”, afirmou Meireles, comemorando a renovação da colaboração entre as duas instituições.
Uma reflexão
A proposta deste novo livro é promover a reflexão sobre a influência da arte africana no mundo e, principalmente, no Brasil, onde mais de 50% da população se reconhece como descendente dos povos africanos. Para tanto, a obra apresenta aspectos culturais, sociais, históricos, geográficos e linguísticos das diferentes sociedades e grupos estudados. “O preconceito que se tem hoje contra as raças negras, indígenas etc. é muito grande, e precisamos terminar com isso. Esse livro, espero que convença muita gente de que os povos africanos são tão capazes de produzir arte quanto nós, brancos”, afirmou Cerqueira Leite.
Ao longo do século XIX, algumas das obras presentes no catálogo chegaram a ser expostas na Europa como uma “prova” do suposto atraso cultural e intelectual dos povos africanos. Para os europeus, as proporções irrealistas desses exemplares demonstrariam a incapacidade técnica ou a inadequação da percepção dos artistas africanos, que não saberiam medir e avaliar um corpo corretamente — e não recursos simbólicos, de expressão mística e abstrata, como de fato o eram. “A arte africana é uma cultura material importantíssima. Buscamos trazer ao público uma literatura em forma de catálogo e um catálogo com literatura, para despertar o interesse de mais públicos sobre o assunto”, ressaltou a autora Salum.
Com 392 páginas, Legados: a coleção de Arte Africana Cerqueira Leite está organizada em cinco capítulos. O primeiro traz obras das Áfricas setentrional e oriental, o segundo, da África central, e o terceiro, da ocidental. Já no quarto capítulo, são abordados a arte africana em geral e os signos de riqueza e poder, enquanto o último capítulo foca na modernização da arte africana. Complementam a obra um texto de autoria dos reitores de ambas as universidades, uma apresentação escrita pelo professor Cerqueira Leite e um prefácio de Paulo Daniel Farah.