A abordagem transdisciplinar emerge como um olhar inovador em busca de respostas às mudanças ambientais globais e locais. Uma de suas características principais é o convite a diferentes atores sociais para um envolvimento ativo nesta busca por soluções. Na cidade histórica de São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba (SP), a Escola São Paulo de Ciência Avançada em Transdiciplinaridade para Mudanças Transformadoras reuniu de 8 a 18 de abril mais de 80 participantes de 30 países no aprofundamento das discussões e metodologias do trabalho transdisciplinar. O evento tem o apoio financeiro da Fapesp.
A iniciativa tem como objetivo promover a reflexão dos participantes sobre suas próprias pesquisas, apostando na importância do engajamento precoce dos atores sociais envolvidos e promovendo a colaboração ativa e a co-construção de soluções para os problemas socioambientais. “A transdisciplinaridade é essencial para a pesquisa socioambiental”, explica Cristiana Seixas, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp e coordenadora da Escola. “Essa forma de fazer pesquisa pressupõe a definição do problema de pesquisa e a construção de soluções junto com a sociedade, seja governo, sociedade civil organizada, comunidades ou empresas”.
Durante duas semanas do evento, os participantes tiveram a oportunidade de não apenas discutir teorias e conceitos-chave, mas também de mergulhar na realidade, visitando comunidades locais e instituições de pesquisa. Dividido em quatro módulos, o programa da Escola combina uma variedade de estratégias pedagógicas, visando não apenas o entendimento da transdisciplinaridade e mudanças ambientais globais e locais, mas também a promoção de mudanças transformadoras na interface entre ciência e política.
“Mudanças transformadoras pressupõem uma mudança na forma como nos relacionamos com a natureza e nas relações entre seres humanos e natureza”, explica Cristiana Seixas, “mudanças para que a gente consiga tanto conservar e restaurar o ambiente e ter uma qualidade ambiental boa, como também cuidar do bem-estar humano e da economia e do desenvolvimento locais”.
A Escola também teve como objetivo a formação de uma rede de colaboração entre os participantes. Cristina Adams, da Universidade de São Paulo, co-coordenadora da iniciativa, afirmou: “Queremos alimentar a construção de uma rede internacional que contribuirá para futuros projetos dos participantes, mas, especialmente, para avançar essa abordagem transdisciplinar na pesquisa que chamamos de socioambiental, ou seja, que trabalha com as questões ambientais pensando também na qualidade de vida humana”.
Ciência para Mudanças Transformadoras
Cristiana Seixas destaca que o Nepam já trabalha com arcabouços teóricos robustos para contribuir para impulsionar as discussões acerca das mudanças transformadoras urgentes para lidar com as crises climáticas e da biodiversidade.
“São mais de 35 anos produzindo pesquisas que se debruçam na relação entre a sociedade e o meio ambiente por diferentes perspectivas. Neste período, formamos doutores por meio do programa de Doutorado interdisciplinar em Ambiente e Sociedade”, explica Seixas, que também é coordenadora no NEPAM. “Esta experiência possibilitou organizar, junto com o IEE/USP, um curso dessa magnitude, que envolveu 15 pessoas na organização, 23 palestrantes e mais de 80 participantes de todo mundo”, completa a coordenadora.
Para a participante Januária Pereira Melo, antropóloga do INCRA e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Sociedade (NEPAM e IFCH/Unicamp), participar da Escola trouxe inspiração e mais segurança para o desenvolvimento da sua pesquisa. “A Escola está sendo um momento de trocar experiências com outras pessoas que também estão fazendo isso em lugares diferentes do país ou do globo, para aprender com elas. O modelo de imersão facilita a troca entre os participantes, as conexões entre projetos. Só de pensar que é possível construir algo conectado, isso dá uma inspiração e uma animação para pensar sobre nossa pesquisa e nossa prática”, explica Januária Melo.
Já Mercy Funke Salami, da University of Ilorin na Nigéria, destacou a organização da Escola, que combinou teoria e prática. “Tivemos a oportunidade de ir a campo e vivenciar situações da vida real. Aprendi a incentivar a participação das pessoas em vez de simplesmente ir lá como pesquisador, fazer a pergunta e analisar os resultados”, ressalta a pesquisadora. “Voltarei para casa e garantirei que minha pesquisa seja muito mais envolvente, obtendo a voz dos povos indígenas e assegurando que eles façam parte da elaboração e da execução do projeto”, finaliza Salami.