O Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), vinculado ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, e o Instituto Moreira Salles (IMS) estão trabalhando na salvaguarda do acervo de Januário Garcia, fotógrafo e ativista que produziu um vasto registro sobre o ativismo e a cultura negra no país. Garcia realizou registros do movimento negro, como em atos e protestos, fotografou ativistas e intelectuais, como Lélia Gonzales e Abdias Nascimento, e produziu capas de álbuns de artistas, dentre eles Wilson Moreira, Nei Lopes, Leci Brandão, Tom Jobim e Belchior. O AEL e o IMS pretendem realizar um arranjo arquivístico único do acervo e disponibilizá-lo publicamente.
Januário Garcia nasceu em 1943 e morreu em 2021. Ele faria 80 anos na última quinta-feira (16). Formado em Comunicação Visual pela International Cameraman School, ele foi presidente do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN) e membro do Conselho Memorial Zumbi. Em 2020, começou a tratar a transferência do seu acervo com os então diretores do AEL, Mario Augusto Medeiros da Silva e Aldair Rodrigues.
“Uma das frases mais famosas do fotógrafo afirmava que existia uma história da África sem o Brasil, mas não havia uma história do Brasil sem os africanos e seus descendentes. Ele se propôs a documentar e a preservar essa história brasileira negra e afrodescendente em seu acervo pessoal, e coube ao AEL, com a confiança de sua família, dar sequência ao seu projeto intelectual”, aponta o diretor do AEL.
O IMS e a Unicamp formalizaram parceria em 2021, com o objetivo de fomentar ações conjuntas. A parceria para a salvaguarda do acervo de Januário Garcia ocorreu em 2022.
Arquivo compartilhado
O AEL recebeu documentos, cartazes, folhetos de eventos, jornais e outros itens, como textos assinados pelo ativista e uma biblioteca com livros focados na temática étnico-racial. A coleção integra o projeto Afro Memória, que faz da Unicamp referência em preservação da memória negra. A iniciativa é fruto da parceria da Unicamp com o Cebrap Afro, linha de pesquisa Hip Hop em Trânsito (Centro de Estudos de Migrações Internacionais (Cemi/IFCH), e com a Universidade da Pensilvânia (Upenn).
“Este acervo se soma aos outros 13 em preservação no arquivo, por meio do projeto Afro Memória. Os documentos de Januário Garcia preservam histórias importantes de ações dos movimentos negros no Rio de Janeiro e em outras partes do país, de ideias e práticas para valorizar a história e a cultura negra, bem como de intercâmbios intelectuais entre ativistas negras e negros, do Brasil e da diáspora africana, entre os anos 1970 e 2020”, aponta Medeiros.
O IMS ficou responsável pela salvaguarda de 70 mil fotografias, equipamentos fotográficos e de laboratório e uma biblioteca com publicações focadas em artes visuais e fotografia.
A ideia é ter um arranjo único para o acervo. “A ideia do arranjo único é o compartilhamento de informações entre o AEL e o IMS. Os documentos fotográficos e textuais de Januário Garcia se complementam, mas estão em duas instituições diferentes. Assim, nosso trabalho conjunto fará com que essas informações dialoguem e possam ser consultadas nos dois lugares, sem conflito”, explica o professor.
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