A Unicamp abriu 250 vagas em cursos preparatórios para vestibulinhos e vestibulares regulares para adolescentes da Fundação Casa (SP). As vagas são destinadas aos internos matriculados na 3ª série do ensino médio – ou que já concluíram – que estejam em cumprimento de medida socioeducativa e vinculados à Divisão Regional Metropolitana de Campinas (DRMC). O programa denominado Colmeia, foi iniciado em 2022 e atendeu a 39 adolescentes.
O convênio foi formalizado na manhã desta terça-feira (31) na Unicamp, pelo reitor, Antonio José de Almeida Meirelles; pelo presidente da Fundação Casa, João Veríssimo Fernandes e pela promotora de Justiça Elis De Divitils Camuzzo e terá duração de cinco anos. As aulas serão oferecidas pelo sistema remoto, de segunda à sexta-feira, das 19h às 21h. No total, serão 29 horas de aulas por mês, ministradas por alunos em final da graduação, mestrandos e doutorandos.
“Hoje, temos um direcionamento muito claro à inclusão, e isso tem gerado uma mudança substancial na nossa universidade, em vários aspectos”, disse o reitor da Unicamp. De acordo com ele, ações de inclusão como as que resultaram na adoção das cotas raciais ou no vestibular indígena têm potencial para transformar o país.
“A inclusão universitária é uma das coisas mais transformadoras que estão em desenvolvimento neste momento no Brasil. Isso pode mudar a história do país”, avalia Meirelles. “Ter a possibilidade de ajudar adolescentes a encontrarem um caminho, que lhes permita oportunidades melhores, é algo bastante motivador para nós”, concluiu o reitor.
Para o presidente da Fundação Casa, João Veríssimo, a Unicamp pode ser um instrumento transformador da sociedade. “Se a sociedade não acolhe, o crime acolhe”, alertou ele. “Precisamos entender que, em algum momento, esses jovens vão sair da Fundação, e é melhor que eles saiam de lá melhor do que entraram”, ponderou. Segundo o presidente, a Fundação Casa conta hoje com cerca de 4,9 mil meninos e meninas internados em todo o estado de São Paulo.
Para o Pró-Reitor de Extensão e Cultura, Fernando Coelho – que fará a gestão do convênio —, esse tipo de colaboração é importante sob vários aspectos. “Esses convênios são extremamente importantes para nós, na medida em que permitem que a Universidade se aproxime cada vez mais da população, sobretudo daquela população mais vulnerável, levando aquilo que a Universidade faz de melhor, que é o conhecimento”, disse o pró-reitor.
“Esse tipo de convênio é uma tendência natural para qual a universidade deve evoluir, para que consiga, cada vez mais, cumprir seu papel social. Convênios assim marcam um posicionamento muito claro da atual gestão da Universidade, na direção do bem-estar da sociedade”, avalia o professor Coelho.
A promotora Elis De Divitils Camuzzo diz que o projeto tem a capacidade de abrir portas para os adolescentes. “Vou citar aqui a professora Silvia Santiago, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, que, em 31 de maio de 2017, me acompanhou numa visita a um centro de internação. Ela ficou sensibilizada ao perceber que se tratava de adolescentes inteligentes, na maioria saudáveis, bem articulados, com potencial gigantesco para se desenvolverem melhor, só que tiveram as portas fechadas”, contou a promotora.
“O curso irá abrir uma porta para eles. Trará perspectivas que, hoje, não existem na vida deles”, afirmou a promotora.
Coordenadora executiva do Programa Colmeia e executora do convênio com a Fundação, a professora da Faculdade de Ciências Aplicadas Josely Rimoli diz que, nestes casos, é importante o adolescente se distanciar de sua rede de conexões, mas é igualmente importante que ele se conecte a uma rede que ofereça perspectivas. E a professora considera que a parceria tem esse potencial. “O ensino é o caminho para um projeto de futuro”, definiu ela.
Leia mais:
Jovens da Fundação Casa estudam em cursinho da Unicamp para ingressar na universidade