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Combinação de medicamentos é promissora contra câncer de boca

Esta imagem retrata uma cena dentro de um laboratório de pesquisa ou análise. Em primeiro plano, um homem jovem com cabelo escuro e barba está sentado, vestindo um jaleco branco e olhando atentamente através das lentes de um grande e moderno microscópio. Ao seu lado, em pé, um homem mais velho, também de jaleco, o observa, parecendo supervisionar ou orientar o trabalho. À esquerda, um monitor de computador exibe uma imagem de microscopia com células ou tecidos em tons de vermelho brilhante. O ambiente é bem iluminado e funcional, típico de um espaço científico.
Sebastião Sousa-Neto e Pablo Vargas, autores do estudo: estratégia de reposicionamento de drogas visou encontrar combinação mais eficiente

Cientistas investigam terapia mais eficaz e segura para tratamento da doença

Combinação de medicamentos é promissora contra câncer de boca

Cientistas investigam terapia mais eficaz e segura para tratamento da doença

Esta imagem retrata uma cena dentro de um laboratório de pesquisa ou análise. Em primeiro plano, um homem jovem com cabelo escuro e barba está sentado, vestindo um jaleco branco e olhando atentamente através das lentes de um grande e moderno microscópio. Ao seu lado, em pé, um homem mais velho, também de jaleco, o observa, parecendo supervisionar ou orientar o trabalho. À esquerda, um monitor de computador exibe uma imagem de microscopia com células ou tecidos em tons de vermelho brilhante. O ambiente é bem iluminado e funcional, típico de um espaço científico.
Sebastião Sousa-Neto e Pablo Vargas, autores do estudo: estratégia de reposicionamento de drogas visou encontrar combinação mais eficiente

Um estudo conduzido por pesquisadores na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), da Unicamp, propõe uma nova combinação de medicamentos para o tratamento do câncer de boca que promete maior eficiência no combate a células-tronco tumorais ao mesmo tempo que reduz os efeitos colaterais

A pesquisa, desenvolvida no Brasil no âmbito de um projeto temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), busca alternativas menos tóxicas e mais eficazes para o tratamento do carcinoma espinocelular oral, o tipo mais comum de câncer de boca.

A principal forma de tratamento atualmente é a cirurgia de remoção do tumor. Em muitos casos, o procedimento inclui a necessidade de retirada de parte de tecido saudável. Dependendo da evolução da doença, radioterapia e quimioterapia com cisplatina [medicamento à base de platina] podem ser necessárias.

Apesar de eficaz em alguns casos, a cisplatina apresenta limitações: provoca efeitos colaterais graves e nem sempre consegue impedir a volta da doença. “Um dos principais problemas é a resistência das chamadas células-tronco tumorais”, explica o pesquisador Sebastião Silvério Sousa-Neto, doutorando da FOP e autor principal do estudo. Essas células ficam em estado de repouso e não são eliminadas pela quimioterapia convencional, o que favorece a recidiva do câncer após o tratamento”, completa.

Para contornar essas barreiras, a equipe de pesquisa apostou em uma estratégia chamada reposicionamento de drogas: utilizar medicamentos já existentes e aprovados para outras doenças, mas que apresentam potencial contra o câncer. No caso do estudo, duas substâncias foram testadas em combinação com a cisplatina: emetina, utilizada nos Estados Unidos para tratar amebíase intestinal, e a suberoilanilida hidroxâmico, aprovada no Brasil desde 2011 para um tipo raro de linfoma cutâneo.

“É muito mais rápido e barato reposicionar uma droga do que descobrir uma nova molécula”, explica Sousa-Neto. “Se você começa do zero, pode levar 20 ou 30 anos até chegar na clínica. Mas, se o ponto de partida é um medicamento já aprovado, com toxicidade e dose conhecidas, várias etapas deixam de ser necessárias. Essa foi a lógica da nossa pesquisa.”

Do paciente ao laboratório

O diferencial do estudo está no modelo experimental utilizado: os xenotransplantes derivados de pacientes. Nessa metodologia, fragmentos de tumores retirados dos pacientes em cirurgias são implantados em camundongos imunodeficientes, que passam a desenvolver lesões muito semelhantes às dos pacientes.

Para o professor e pesquisador do departamento de Diagnóstico Bucal da FOP, Pablo Agustin Vargas, orientador de Sousa-Neto e também autor da pesquisa, esse é um dos pontos que dão força ao trabalho. “O tumor que cresce no animal é igual ao tumor original do paciente. Isso dá enorme relevância translacional e aproxima muito a bancada da clínica”, explica.

Dentre os vários experimentos feitos, a combinação de cisplatina e emetina foi considerada a mais promissora. De acordo com os pesquisadores, o tratamento conseguiu reduzir significativamente a ativação do fator NF-κB, proteína associada à resistência das células tumorais, sem aumentar a toxicidade nos órgãos avaliados, como fígado e rins.

Mesmo com o uso combinado das drogas, Sousa-Neto conta que não houve perda adicional de peso entre os animais – um dos principais indicadores de toxicidade. “Isso significa que conseguimos manter a eficácia sem sobrecarregar o organismo. A próxima etapa é reduzir a dose da cisplatina, já que ela é responsável pelos efeitos colaterais mais graves”, detalha o cientista, que se dedica à área da oncologia desde a iniciação científica.

Entre os desafios no desenvolvimento da pesquisa, Sousa-Neto destaca os contratempos envolvendo os testes em camundongos. “O mais frustrante era a imprevisibilidade. Às vezes eu passava meses cuidando de uma geração de animais e, quando finalmente o tumor estava pronto para o tratamento, o camundongo morria sem explicação. Era como perder um ano de trabalho de uma vez”, lembra.

O professor Vargas destaca também os desafios logísticos e éticos. “O trabalho envolve coletar tumor fresco no centro cirúrgico, implantar imediatamente nos animais, seguir protocolos rígidos de ética humana e animal, além de depender de equipes multidisciplinares. É uma pesquisa que exige resiliência e colaboração constante.”


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