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A Unicamp e o esforço na formação de treinadores(as) de ginástica

"Visitar realidades tão diferentes é uma oportunidade que nos permite renovar os olhares e buscar uma produção intelectual que esteja vinculada com a realidade material e os seus problemas concretos"

A formação de treinadores e treinadoras que atuam no mundo dos esportes ocorre em diferentes frentes, incluindo os cursos superiores oferecidos pelas universidades e os programas de formação continuada oferecidos por federações (estaduais, nacionais e internacionais), por clubes e também por entidades privadas. A preparação desses profissionais combina fundamentos da biomecânica, fisiologia, anatomia, psicologia e sociologia, entre outras áreas do saber, que alimentam a perspectiva cientifica comumente denominada ciência do esporte.

A Unicamp, nas figuras da Faculdade de Educação Fisica (FEF) e da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), tem atuado com destaque nesse campo, e não só por meio da formação oferecida em seus cursos e nos distintos projetos de extensão e pesquisa realizados por docentes e discentes dessas unidades, mas também por meio de parcerias individuais ou coletivas (convênios) com organizações nacionais e internacionais, como por exemplo o Comitê Olímpico Brasileiro (COB).

A jornada narrada aqui se iniciou em 2012, quando fui eleito para um dos comitês técnicos da Federação Internacional de Ginástica (FIG), com sede em Lausanne (Suíça), por indicação da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), cargo que ocupo até hoje.

O professor Marco Bortoleto durante curso sobre os fundamentos da ginástica para um grupo de 40 treinadores(as) de países asiáticos, em Katmandu, no Nepal
O professor Marco Bortoleto durante curso sobre os fundamentos da ginástica para um grupo de 40 treinadores(as) de países asiáticos, em Katmandu, no Nepal

Em 2017 fui nomeado pelo presidente da FIG, Watanabe Morinari, para integrar a Comissão de Educação da mesma instituição, cuja presidência assumi em 2019, liderando um grupo de seis especialistas de vários países (País de Gales, Japão, Austrália, Indonésia e Espanha).

Um dos programas desenvolvidos nessa organização desde 2002 é o FIG Academy, que oferece um curso básico (chamado Foundations of Gymnastics) e outros três níveis para profissionais que atuam em uma das sete modalidades sob a tutela da FIG (ginástica artística masculina e feminina, ginástica rítmica, trampolim, ginástica acrobática, ginástica aeróbica e parkour). O programa oferece entre 40 e 50 cursos por ano, com mais de 600 participantes.

A pedido da FIG, liderei o projeto de modernização do FIG Academy iniciado em 2019, trocando o formato presencial dos cursos por um formato híbrido – e isso com o desenvolvimento de uma plataforma de e-learning em três idiomas (francês, inglês e espanhol), processo ainda em curso e que envolve mais de 50 especialistas de 20 países. Um novo currículo foi elaborado e todos os cursos passaram por um profundo processo de revisão, validação, tradução e edição em formato digital. Paralelamente a federação começou a gravar webinários com a participação de importantes especialistas internacionais, eventos esses divulgados gratuitamente no canal do YouTube da entidade.

Participei de alguns desses seminários online, em cuja edição de 2022 esteve presente a docente aposentada da Unicamp Elizabeth Paoliello. Cabe destacar que a FIG decidiu dar continuidade à parte prática dos cursos, que em geral se estendem por cinco dias e ocorrem em algum dos 152 países-membros. A medida explica-se por conta da importância de reunir treinadores(as) e especialistas de diferentes países para atividades presenciais.

Acesse as noticias publicadas pela FIG em 2021 e 2023.

Grupo de treinadores participantes de curso vindos de Bangladesh, Irã, Nepal, Índia, Sri Lanka, Mongólia, Indonésia e Malásia
Grupo de treinadores participantes de curso vindos de Bangladesh, Irã, Nepal, Índia, Sri Lanka, Mongólia, Indonésia e Malásia

Durante esses anos, fui convidado a ministrar diferentes cursos do programa FIG Academy (no Chile, no México, na Nicarágua, em Porto Rico, em Barbados, na África do Sul, em Aruba etc.), consolidando uma relação entre a comunidade internacional e a Unicamp, instituição que construiu uma reconhecida reputação na formação, difusão e pesquisa no campo da ginástica por meio do Grupo de Pesquisa em Ginástica (GPG), atualmente coordenado pela professora Laurita Schiavon e que conta com uma importante contribuição das professoras Eliana Ayoub (Faculdade de Educação) e Eliana de Toledo (Faculdade Anhanguera de Campinas).

Com efeito, diversos discentes da pós-graduação já participaram do programa, recebendo a certificação da FIG. Essa colaboração vem ajudando a FEF e a FCA a acompanhar discussões no campo do esporte e realizar pesquisas que possam colaborar em problemáticas relevantes, além de internacionalizar-se, enviando ou recebendo convidados, como foi o caso do professor Keith Russell (Universidade de Saskatchewan – Canadá) em 2020. Em outubro de 2024, a FEF receberá o professor Francisco León Guzman (Universidade de Extremadura – Espanha), outro pesquisador e especialista da área de ginástica.

Em julho passado, estive com outros dois especialistas (Tatsuo Araki, da Nippon Sport Science University – Japão; e Petrina Hitchson, da Federação Australiana de Ginástica) ministrando, em Katmandu (Nepal), um curso sobre os fundamentos da ginástica para um grupo de 40 treinadores(as) de países asiáticos (Bangladesh, Irã, Nepal, Índia, Sri Lanka, Mongólia, Indonésia e Malásia). Ainda que a realidade de cada um desses países seja distinta e que o desenvolvimento do esporte seja desigual em termos de formação científica e acesso a instalações e equipamentos, o curso representa uma importante ferramenta ao oferecer formação de base e ao permitir a montagem de uma rede com os participantes, abrindo as portas para a realização de intercâmbios no futuro.

Ao participar desse tipo de experiência, novas estratégias pedagógicas e excelentes práticas também são aprendidas pelos especialistas, ajudando a atualizar o curso e levando para os seus lugares de atuação, como a Unicamp, novidades que podem contribuir com a reflexão sobre problemáticas presentes na realidade local, assim como a construir soluções que possam auxiliar profissionais atuantes em distintas localidades e em diversos países. A FIG ajudou a construir várias pontes entre a Unicamp e o mundo da ginástica, projetando nossas pesquisas internacionalmente, além de oferecer oportunidades que beneficiam a todos.

"Ao participar desse tipo de experiência, novas estratégias pedagógicas e excelentes práticas também são aprendidas pelos especialistas, ajudando a atualizar o curso e levando para os seus lugares de atuação"
“Ao participar desse tipo de experiência, novas estratégias pedagógicas e excelentes práticas também são aprendidas pelos especialistas, ajudando a atualizar o curso e levando para os seus lugares de atuação”

Visitar realidades tão diferentes é uma oportunidade que nos permite renovar os olhares, assim como reconstruir as nossas ações e buscar uma produção intelectual que esteja vinculada com a realidade material e os seus problemas concretos. Não há dúvidas que a Unicamp, por meio do seu corpo docente e discente, tem hoje um grande respeito pela FIG e por diversas outras organizações esportivas, em todos os níveis, do local ao global.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Unicamp.

Marco Antonio Coelho Bortoleto é docente da Faculdade de Educação Física da Unicamp (e-mail: bortoleto@fef.unicamp.br).

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