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Substância é obtida em apenas 20 minutos e dispensa o uso de solventes tóxicos

Foto mostra uma mulher movimentando um líquido com um pipeta
A pesquisadora Maria Isabel Neves manuseia amostra: corante pode ser usado em diversos ramos da indústria (Foto: Antoninho Perri)

Da classe dos corantes naturais, a pigmentação azul é a mais difícil de ser obtida em razão da escassez de fontes. Como consequência, a indústria utiliza massivamente produtos sintéticos, que podem ocasionar problemas de saúde. Tendo em vista essa dificuldade, pesquisadores do Laboratório de Tecnologia Supercrítica: Extração, Fracionamento e Identificação de Extratos Vegetais (Lasefi), da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, produziram um corante natural azul cuja base é o jenipapo, fruto nativo do Brasil. Natural, estável e de fácil obtenção, o produto foi patenteado e pode ser utilizado em diversos ramos da indústria, como a alimentícia e a de suprimentos.

Duas teses de doutorado deram origem ao novo corante. Junto aos orientadores Maria Angela A. Meireles e Eric Keven Silva, as pesquisadoras Maria Isabel Neves e Monique Strieder se debruçaram sobre a obtenção da coloração azul por meio de duas bases: o leite de origem animal e o leite de origem vegetal, eliminando a necessidade de solventes tóxicos e suprindo a lacuna por um colorífico vegano. “Existem duas classes de corantes: os naturais e os sintéticos, que atualmente são os mais produzidos. O diferencial do nosso produto é que é um corante natural obtido de produtos alimentícios”, explica Strieder.

A pesquisadora também salienta que a obtenção da substância é rápida – o processo demora apenas 20 minutos – e o produto é mais barato que outros corantes naturais. “Como utilizamos o leite, animal ou vegetal, como solvente e também como fonte de aminoácidos e proteínas para formar o corante, o processo torna-se economicamente mais vantajoso e a aplicação é fácil, uma vez que o líquido pode ser colocado diretamente no produto. Fizemos aplicações em alimentos, como doces e bolos, e o resultado é muito bom.”

Três etapas em apenas uma fase

A equipe de pesquisadores descobriu que, além de servir como base para a extração da molécula precursora do corante a partir do fruto, o leite propicia a reação que resulta nos compostos de coloração azul. Outra etapa em linha é a estabilização e o aumento de temperatura, pasteurizando o corante e aumentando sua vida útil.

“Geralmente é utilizado o etanol ou a água para a extração da genipina [substância encontrada no jenipapo] e nós usamos o leite, que tem as proteínas necessárias para reagir com o composto do jenipapo. Aperfeiçoamos esse processo no sentido de usar o próprio solvente  para a reação que sintetiza os compostos de coloração azul. Além disso, utilizamos um processo que vai promover a extração e a inativação de microrganismos, resultando em um tratamento de pasteurização”, diz Neves.

A obtenção do pigmento natural azul era um objetivo da professora Meireles desde meados dos anos 2000. Ela havia obtido o corante a partir de uma alga, a ficocianina. “O problema é que ela altera o aroma e funciona apenas com alguns tipos de alimento. A vantagem desse processo [com o jenipapo] é que podemos ter desde um azul muito tênue até um azul forte, e o sabor do corante é muito sutil”,  observa. Meireles ainda destaca o fato de o jenipapo trazer benefícios à saúde, além de agir como corante. Outra vantagem, segundo a docente, é que o excedente do fruto pode ter outras aplicações. “A fonte vegetal pode ser trabalhada para a produção de diferentes produtos, eliminando aquela ideia de 20, 25 anos atrás, de que uma matéria-prima poderia ser fonte de um só produto.”

Foto mostra quatro pessoas atrás de uma mesa. Na mesa há amostras de líquidos em vidros de formas e tamanhos variados.
Da esquerda para a direita, Maria Angela A. Meireles, Eric Keven, Maria Isabel Neves e Monique Strieder (Foto: Antoninho Perri)

Eliminando riscos à saúde 

Apesar de a legislação brasileira permitir o uso de diversos corantes sintéticos, as organizações internacionais, segundo o professor Silva, restringem sua utilização devido aos danos que podem causar à saúde. “Em longo prazo, corantes sintéticos contribuem para o desenvolvimento de alergias que podem gerar doenças mais graves. A tendência é que haja cada vez mais restrição aos sintéticos, abrindo mais espaço para os naturais”, aponta.

Por isso, a equipe espera que o corante azul natural possa logo ser adotado pela indústria. “O nosso desejo é que a tecnologia chegue ao mercado, porque entendemos que ela é importante e pode contribuir para a saúde da população, principalmente das crianças, que estão sendo muito expostas aos corantes sintéticos.”

Patente internacional

O pedido de patente internacional do corante azul do jenipapo foi publicada em dezembro de 2020 pela Agência de Inovação Inova Unicamp. O produto protegido é o corante em sua forma líquida. No entanto, testes com a técnica de secagem por atomização (spray drying), bastante utilizada na indústria, já foram realizados para a obtenção da substância em pó e foram bem-sucedidos. 

Desde que a patente foi obtida, os pesquisadores ainda descobriram que o corante possui atividade antimicrobiana. É mais um benefício do produto, que também resiste a tratamentos térmicos intensos e diferentes pH’s . As características singulares do novo produto viabilizam sua aplicação em diversos tipos de alimentos, cosméticos, suprimentos e fármacos.

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