Uma pesquisa da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp realizada com crianças apontou que a maioria dos entrevistados não continuou os estudos enquanto permaneceu em casa durante a pandemia de covid-19. Com o fechamento das escolas, os alunos foram orientados a continuar as práticas de estudo em suas residências. Houve distribuição de kits pedagógicos e orientações aos pais para atividades com as crianças.

Foram entrevistados 28 estudantes do 6º ano de duas escolas municipais do bairro da Brasilândia, região periférica da cidade de São Paulo. O trabalho integrou a pesquisa de pós-doutorado da pedagoga Cinthia Torres Toledo, que foi supervisionada pelo professor Maurício Ernica, do Departamento de Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte da FE. A apresentação pública do pós-doutorado aconteceu no dia 28 de agosto na Faculdade.
“Identifiquei muitos problemas nas políticas adotadas, que foram feitas no contexto muito incerto de pandemia. A maior parte das crianças entrevistadas afirmou não ter estudado, ou estudado de maneira não sistemática. Estamos falando de um período de dois anos em que as escolas não funcionaram de maneira regular. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, portanto, os dados não têm caráter representativo, mas são relevantes, porque evidenciam um padrão de desigualdade”, explicou Cinthia Torres Toledo.
Esse padrão pode ser compreendido quando são analisadas as dimensões sociais, de gênero e raça dos entrevistados. As crianças que estudaram em casa de modo sistemático integram um grupo com renda mais alta e previsível entre as classes populares.

Em relação às dimensões de gênero e raça, Toledo constatou que, entre os estudantes que mantiveram rotinas de estudo regulares, estavam as meninas brancas. “Isso é significativo porque, em geral, nos indicadores educacionais, observamos essa mesma hierarquia. As meninas brancas concluem mais os ciclos de ensino. Em seguida, vêm as meninas negras junto com os meninos brancos e, por último, os meninos negros. Portanto, tornam-se necessárias políticas interseccionais que sejam capazes de pensar qual é o peso da raça, do gênero e da classe social para atender esses grupos mais vulneráveis”, concluiu.
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