“Algumas coisas que aprendi por aqui… e que eu gostaria de contar para os ‘mais jovens’” foi o título da aula magna ministrada pelo professor Renato Peixoto Dagnino, do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, homenageado nesta sexta-feira (17) pelos colegas de instituto. Dagnino foi um dos organizadores do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do IG, orientado por Amilcar Herrera. Em agosto de 2023, ele encerrou um período de 46 anos dedicados à Universidade, mas continuará atuando como professor colaborador.
“É fundamental que repensemos o pacto da educação. Nós vamos formar pessoas exatamente para quê? Para empregos que não mais existem?”, questionou o professor em sua apresentação, logo após a mesa de abertura do evento, reafirmando a postura crítica que marcou sua trajetória acadêmica.
A questão lançada, disse Dagnino, foi em resposta ao que o reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, afirmou durante a mesa de abertura: “Estamos em um momento em nosso país em que os papeis que a ciência e a tecnologia cumprem no desenvolvimento da sociedade estão sendo muito demandados. Vivemos um processo de desindustrialização muito acelerado. Isso exige que pensemos o futuro do país.”
O reitor parabenizou o professor Dagnino por suas contribuições nas reflexões e estudos nessa área e complementou: “As relações entre C&T, inovação e as diferentes visões políticas e ideológicas estão no centro do que será de alguma forma o futuro de instituições como a nossa, da nossa relação com a sociedade e do próprio desenvolvimento da sociedade”, disse Meirelles, estendendo seus parabéns ao Programa de Pós-Graduação em Política Científica e Tecnológica (PPG-PCT) do IG, que comemorou nesta sexta-feira seus 35 anos.
Biografia
Ainda na mesa de abertura, antes da aula magna, a professora Janaína Oliveira da Costa, chefe do DPCT, fez a leitura de um texto — que ela produziu e que foi revisado pelo próprio homenageado — narrando um resumo da vida acadêmica do professor, que foi aluno do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde foi jogador de vôlei e cantou no coral. Ele ingressou na graduação em engenharia e atuou no movimento estudantil. Em função disso, durante a ditadura militar no Brasil, exilou-se no Chile. Dagnino estudou na Universidad de Concepción, no Chile, no início dos anos 1970. De volta ao Brasil, fez mestrado em Economia na Universidade de Brasília (UnB) e doutorado em Ciências Sociais na Unicamp, no Instituto de Filosofia e Ciência Humanas (IFCH).
O professor costuma dizer que aprendeu no Chile, na teoria, como viabilizar o trânsito de uma economia capitalista periférica para o socialismo. Já na prática, no movimento social, ele aprendeu como realizar democraticamente esse trânsito.
Renato Dagnino foi convidado pelo professor Rogério Cerqueira Leite, em 1977, para atuar na Unicamp na organização da primeira incubadora de empresas do Hemisfério Sul. Autor de diversos livros, “tem se dedicado nos últimos anos a estudar e divulgar na imprensa de esquerda o que ele chama de plataforma cognitiva de lançamento da economia solidária, a tecnociência solidária, que ele diz que temos que ajudar a construir”, escreveu a professora.
“O mundo mudou muito, uma série de características que tornavam esse pacto (da educação) viável e produtivo para o capital hoje já não mais existem”, afirmou Dagnino durante a aula magna, cujo conteúdo foi debatido em seguida pelos convidados Rogério Bezerra, Carolina Baggatolli e Amilcar Davyt.
Também compôs a mesa de abertura o professor Lindon Fonseca Mathias, representando o diretor do IG Márcio Antônio Cataia. O evento foi realizado pela manhã, no Auditório “Milton Santos”. No período da tarde, o IG comemorou os 35 anos do Programa de Pós-Graduação em Política Científica e Tecnológica (PPG-PCT), com a presença da professora Ana Patrícia Vilha e do professor André Rauen.