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Atualidades

Elide Rugai Bastos é a mais recente professora emérita da Unicamp

A socióloga desenvolveu estudos sobre a desigualdade no país e interpretou obras de Gilberto Freyre e Florestan Fernandes

Sob calorosos aplausos de amigos, alunos e familiares, Elide Rugai Bastos recebeu nesta quarta-feira (12) o diploma de professora emérita da Unicamp. Socióloga e docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade, Bastos contribuiu com o fortalecimento das ciências sociais no Brasil e com a discussão sobre estudos essenciais da área, com destaque para as obras de Florestan Fernandes e Gilberto Freyre. A cerimônia de entrega aconteceu no Auditório Fausto Castilho, no IFCH.

“Fico admiradíssima em ver vários de meus orientandos aqui, amigos, participantes do grande projeto de linhagem do pensamento político e social brasileiro”, saudou a professora, emocionada. O evento, presidido pelo reitor Antonio José de Almeida Meirelles, contou com a participação da diretora do IFCH, Andréia Galvão, e de Mariana Chaguri, professora do Departamento de Sociologia do instituto e madrinha da homenageada. “Uma das grandes vantagens de ocupar a reitoria é não apenas conhecer, mas poder homenagear pessoas que participaram da construção de nossa Universidade”, destacou Meirelles.

A concessão do título nasceu de uma proposta feita pelos professores Chaguri, Marcelo Ridenti e Mário Medeiros, todos do IFCH. A comissão encarregada de avaliar a sugestão e eventualmente recomendar a concessão da honraria pelo Conselho Universitário (Consu) contou com a participação do professor Renato Ortiz, também do IFCH, e das professoras Lilia Moritz Schwarcz, da Universidade de São Paulo (USP), e Josefa Barbosa Cavalcanti, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Em seu discurso, Chaguri lembrou que a entrega do título a Bastos ocorre no momento em que o Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Unicamp completa 50 anos. Segundo a professora, durante a coleta das informações que compuseram o histórico de atuação da professora, os responsáveis por sugerir a entrega do título verificaram que a homenageada formou seis gerações de pesquisadores, somando mais de 1.100 graduados, mestres e doutores. “[Bastos] tornou-nos membros de uma mesma comunidade e ensinou que a sociologia é uma prática constante e exigente”, destacou Chaguri. A madrinha também disse que a atuação de Bastos sempre se fez marcar por sua gentileza, generosidade e ética e que suas obras lançaram olhares fundamentais para a sociedade brasileira.

Pensadora do Brasil

Nascida em 1937 na cidade de São Manuel, no interior de São Paulo, Elide Rugai Bastos formou-se em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 1960 e, logo em seguida, ingressou como docente na instituição, onde lecionou até 1989. Obteve o título de mestre em ciência política pela USP, em 1981, com uma pesquisa sobre as Ligas Camponesas, tornando-se uma referência nos estudos sobre sociologia rural e as questões agrárias. Em 1986, defendeu seu doutorado em ciências sociais na PUC-SP, com a tese “Gilberto Freyre e a formação da sociedade brasileira”, sob a orientação de Octávio Ianni. O trabalho deu-lhe projeção no campo do pensamento social brasileiro e no da interpretação sobre o Brasil e suas desigualdades.

Além de sua atuação junto à PUC-SP, Bastos lecionou na Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara. Em 1989, ingressou na Unicamp, no Departamento de Sociologia do IFCH, onde atuou até sua aposentadoria, em 2007. Na Universidade, obteve os títulos de livre-docente, em 1998, e de professora titular, em 2006. Foi coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia do IFCH e uma das fundadoras do Centro de Estudos Brasileiros (CEB). Ao longo de sua trajetória, orientou 33 mestrados e 26 doutorados e publicou 41 artigos voltados ao pensamento social brasileiro, com destaque para os trabalhos sobre Florestan Fernandes e Octávio Ianni.

“O pensamento social no Brasil parte de uma questão mais ampla, que é o significado de fazer sociologia no Brasil”, explicou a professora, enfatizando o uso da preposição “no” em sua fala, o que implica situar os estudos feitos sobre o país em uma perspectiva mundial. “Sociedades que se afastam do modelo hegemônico constituem-se como questões para as ciências sociais. No Brasil, temos uma formação socioeconômica na periferia do capitalismo e aspectos particulares em nossos modos de produção”, explicou.

Élide Rugai interpretou obras de Gilberto Freyre e Florestan Fernandes
Elide Rugai interpretou obras de Gilberto Freyre e Florestan Fernandes

Sua dissertação e sua tese foram editadas em forma de livro. A obra As Ligas Camponesas veio a público em 1984 pela Editora Vozes e As Criaturas de Prometeu: Gilberto Freyre e a Sociedade Brasileira, em 2006, pela Editora Global. Bastos atuou também como editora e organizadora de vários livros, entre os quais se destacam Conversa com Sociólogos Brasileiros (34 Letras), L’Intellectuels et Politique: Brésil-Europe (Harmatan), Intelectuais e Política – A Moralidade do Compromisso (Olho d’Água) e O Pensamento de Oliveira Vianna (Editora da Unicamp). “Em suas obras, Elide pensa a atualidade do campo e dos movimentos sociais, além dos fatores que perpetuam as desigualdades no país”, afirmou Galvão. Segundo a diretora do IFCH, Bastos figura entre as primeiras cientistas sociais a pensar o conservadorismo como um fenômeno social no Brasil. “Ela foi uma das responsáveis por fortalecer nossa tradição de pensamento e também por abrir novas perspectivas aos estudos.”

Junto a instituições acadêmicas, a homenageada trabalhou para o fortalecimento das ciências sociais no Brasil, integrando o Comitê de Sociologia da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e como editora da Revista Brasileira de Ciências Sociais da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs) e da Revista Lua Nova do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec). Suas contribuições para o pensamento social brasileiro ganharam reconhecimento por meio de diversas condecorações, entre as quais o Prêmio do Concurso Nacional de Ensaios Gilberto Freyre, concedido em 2005 pela Fundação Gilberto Freyre, o Prêmio de Reconhecimento Acadêmico Zeferino Vaz, concedido em 2007 pela Unicamp, e, em 2017, o Prêmio de Excelência Acadêmica Flávio Pierucci, organizado pela Anpocs.

Meirelles enfatizou que a contribuição de Bastos na formação de tantas pessoas deixou marcas na história de uma universidade jovem como a Unicamp e serve de inspiração para acadêmicos e para a sociedade. “Onde estão os nós de nosso desenvolvimento? Precisamos dos sociólogos e cientistas sociais como Elide para pensarmos nisso”, observou.

Ao sintetizar o objetivo de seus anos de atuação, a professora lembrou, emocionada, a frase da socióloga e ex-ministra da Saúde Nísia Trindade Lima: “É preciso pensar no Brasil que falta a tantas pessoas”.

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