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Atualidades

Conselho Universitário aprova concessão de título de Doutor Honoris Causa a Milton Nascimento

Na mesma sessão, também foi decidido a entrega da outorga de professor emérito aos professores Archimedes Perez Filho e Elide Rugai e, de professor honorário para George Shepherd

Proposta de concessão de título a Milton Nascimento foi aprovada ao som de um de seus clássicos, a canção "Travessia"
Proposta de concessão de título a Milton Nascimento foi aprovada ao som de um de seus clássicos, a canção “Travessia”

Em sessão ordinária realizada na manhã desta terça-feira (26), o Conselho Universitário (Consu) da Unicamp aprovou o título de Doutor Honoris Causa ao cantor, compositor e multi-instrumentista Milton Nascimento, ao som de um de seus clássicos, a canção “Travessia”. Na mesma sessão, foi aprovada a concessão de títulos honoríficos a três professores da Universidade. O geógrafo Archimedes Perez Filho e a socióloga Elide Rugai Bastos a outorga de professor emérito. Já ao botânico George John Shepherd foi aprovado o título de professor honorário.

Após diversos docentes e outros presentes compartilharem suas lembranças sobre e sua admiração pelo cantor, citando a importância de seu trabalho para denunciar a violência contra negros escravizados, lembrando seu papel ao denunciar para o mundo a censura durante a ditadura cívico-militar no Brasil e destacando a excelência da sua extensão vocal, o reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, ressaltou a importância de homenagear expoentes da cultura brasileira. “É forte a mensagem desse título. Milton Nascimento é um cidadão do mundo, mas que vê o mundo a partir de Minas Gerais. Um artista que tem a genialidade de falar para todos, sendo capaz de traduzir temas universais, mas valorizando sua cultura local.”

O cantor, compositor e multi-instrumentista construiu carreira marcada pela excelência ao longo de seis décadas
O cantor, compositor e multi-instrumentista construiu carreira marcada pela excelência ao longo de seis décadas

Milton Nascimento construiu, durante seis décadas, uma carreira marcada pela excelência e pela reverência mundial, lançando mais de 50 álbuns (o mais recente, neste ano) e cinco DVDs, além de trilhas para longas-metragens e balés. Acumulou diversos prêmios no Brasil e no mundo, inclusive cinco estatuetas do Grammy Awards – a maior premiação da música popular mundial.

Nascido no Rio de Janeiro em 1942, o artista adotou Minas Gerais como sua terra natal. Após perder a mãe, aos 2 anos de idade, foi adotado por um casal da cidade de Três Pontas. Sua mãe adotiva era professora de música e o pai, dono de rádio. Aos 13 anos, já se apresentava como cantor, acompanhando o grupo de baile da cidade mineira. Aos 20, gravou sua primeira canção, “Barulho de Trem”.

Artistas de diferentes gerações, do mundo todo, atestam a importância e a qualidade de sua pesquisa artística e de sua obra. As parcerias com a cantora argentina Mercedes Sosa, com os músicos ingleses Sting e Peter Gabriel e com diversos expoentes da música norte-americana, entre os quais o pianista Herbie Hancock, o saxofonista Wayne Shorter, o guitarrista Pat Metheny e a cantora Esperanza Spalding, comprovam a magnitude da sua arte.

Um levantamento recente listou 40 trabalhos acadêmicos a respeito da produção fonográfica do artista, entre teses e dissertações que tratam também do Clube da Esquina – coletivo musical que teve no cantor seu principal catalisador. Trata-se de pesquisas desenvolvidas em diferentes áreas, tais como a música, as letras, as ciências sociais, a história, a literatura e os multimeios. Prova de que sua obra tem instigado a reflexão crítica ao mesmo tempo em que ajuda a interpretar o país e colabora com a produção de conhecimento no universo acadêmico.

“Ao conferir a Milton Nascimento o título de Doutor Honoris Causa, a Unicamp reafirma seu olhar visionário e decolonial, responsável, entre outras coisas, por realizar o movimento fundamental de criar a primeira graduação em música popular no Brasil, em 1989. Entendendo, portanto, a importância da pesquisa realizada fora dos meios acadêmicos. Da mesma forma, a Universidade reconhece a importância do trabalho do artista e, mais amplamente, da realização artística e dos tempos de sua realização”, conforme registrou a comissão especial constituída para emitir o parecer referente à proposta de concessão do título a Milton Nascimento.

A comissão foi constituída pela professora Regina Machado, do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, além dos professores Thaís Nicodemo, também do IA, Thais Nunes, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e Paulo Costa, da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Elide Rugai Bastos

Elide Rugai Bastos

Nascida na cidade de São Manuel, no ano de 1937, Elide Rugai Bastos é de família de agricultores. Formou-se em filosofia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 1960 e, no mesmo ano, tornou-se professora universitária. Desenvolveu sua carreira como socióloga. Referência nas ciências sociais no Brasil e nos estudos acerca da luta pela terra e pela reforma agrária, obteve o título de mestre em ciências políticas, pela Universidade de São Paulo (USP), e de doutora em ciências sociais pela PUC-SP. Também lecionou na Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Araraquara, dedicando-se ao estudo da sociologia rural e das questões agrárias, e ingressou no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp em 1989, onde continua desde então. Tornou-se livre-docente em 1998 e professora titular em 2006.

Seu trabalho de mestrado, a respeito das Ligas Camponesas, provou-se importante para seu reconhecimento na área de estudos rurais, sendo publicada como livro pela Editora Vozes em 1984. Já sua tese de doutorado, acerca do pensador brasileiro Gilberto Freyre, projetou-a no campo do pensamento social brasileiro e deu origem ao livro As Criaturas de Prometeu: Gilberto Freyre e a Sociedade Brasileira (Global Editora). A partir daí, desenvolveu um conjunto de trabalhos seminais, nos quais a questão dos intelectuais, da política, da desigualdade e da interpretação do Brasil sempre estiveram presentes.

Coordenou o o Programa de Pós-Graduação em Sociologia do IFCH e, junto a outros colegas, fundou o Centro de Estudos Brasileiros (CEB) e a Revista Trapézio. Realizou, ainda, um vasto trabalho como editora e organizadora de livros, entre os quais se destacam Conversa com Sociólogos Brasileiros (34 Letras); L’lntel/ectuels et Politique: Brésil-Europe (Harmatan); Intelectuais e Política: a Moralidade do Compromisso (Olho d’Água); O Pensamento de Oliveira Viana (Editora da Unicamp). Em todos eles, a problemática dos intelectuais, do compromisso político e do trabalho acadêmico figura como o centro de sua atenção. A pesquisadora conta, ainda, com um conjunto expressivo de mais de 40 artigos publicados, muitos dos quais sobre esses mesmos temas – é o caso de seus estudos sobre a sociologia paulista, em especial sobre Florestan Fernandes e Octávio lanni.

Archimedes Perez Filho

Archimedes Perez Filho

Figura central na criação do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, o professor Archimedes Perez Filho figura entre os responsáveis pela concepção e implantação do curso de graduação em geografia e do programa de pós-graduação na disciplina, na Universidade. Fundador do Laboratório de Geomorfologia e Análise Ambiental do IG e do grupo de pesquisa Análise Ambiental e Dinâmica Territorial, cadastrado no diretório nacional do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o docente atuou em diversos institutos e faculdades.

Nascido em 1947 na cidade de Itapira (SP), Perez Filho iniciou sua formação acadêmica na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro (SP), hoje Unesp, onde concluiu o bacharelado e a licenciatura em geografia (respectivamente em 1971 e 1972). Sua carreira começou em 1977, no Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Em 1984, ingressou como professor da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp. Além de ministrar disciplinas nos cursos de graduação e pós-graduação nessa instituição e no IG, o professor atuou nos programas de pós-graduação em ciências biológicas, engenharia mecânica, educação e geociências. Já na Unesp, compôs o quadro de docentes dos programas de pós-graduação em geografia e em geociências e meio ambiente.

Como pesquisador, concentrou-se, sobretudo, na geografia física, campo em que realizou seu mestrado (1978) e seu doutorado (1987), na Universidade de São Paulo (USP). Sua atuação se amparou fortemente na abordagem sistêmica como concepção teórica e metodológica, principalmente na teoria dos sistemas gerais (TSG). Ao todo, orientou cerca de 60 mestres e doutores e supervisionou oito pós-doutorados. Nos anos 1990, obteve os títulos de livre-docente e professor titular, pela Unicamp, aposentando-se como professor pela instituição em 2022.

Paralelamente à carreira como docente e pesquisador, Perez Filho ocupou diversos cargos de gestão. Entre 1994 e 1998, trabalhou como pró-reitor de Extensão da Unicamp. Antes, havia assumido o posto de diretor financeiro da Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp). Foi também assessor da Coordenadoria Geral de Ciências Exatas e da Terra da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e participou de comitês assessores (CAs) do CNPq em mais de uma ocasião. Presidiu a União de Geomorfologia Brasileira (2000-2002) e a Associação Brasileira de Geografia Física (2019-2023). Em 2015, recebeu o prêmio de reconhecimento acadêmico Zeferino Vaz, um dos mais prestigiosos da Universidade.

George John Shepherd

George John Shepherd

O professor George John Shepherd deixou sua Escócia natal em 1975 para se fixar no Brasil, imbuído do desejo de se dedicar ao estudo dos trópicos. Desde então, sua contribuição para a pesquisa em botânica no país, e mais especificamente para a consolidação da Unicamp como instituição científica de destaque nacional e internacional, gerou um grande impacto.

Especialista em taxonomia vegetal, Shepherd acumula conhecimento sobre briófitas, grupo pouco estudado no Brasil, além de ter introduzido pesquisas em áreas praticamente desconhecidas no país, tais como a biossistemática e a informática aplicada à botânica. Atuando em projetos de desenvolvimento de programas de computador no Instituto de Biologia, criou o pioneiro – embora não registrado – software Fitopac, amplamente utilizado no Brasil e no exterior e conhecido como “Shepherd Fitopac”.

Entre os anos 1990 e 2000, o botânico participou do projeto temático Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo, da Fapesp, primeiramente como pesquisador e, posteriormente, como um dos seus três coordenadores – representando a Unicamp. Integrou, ainda, a coordenação do projeto especial da Caracterização, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo, o Biota/Fapesp, além de ter participado da concepção e implementação de projetos para a criação de bancos de dados e sistemas de busca on-line de dados abertos, como a Flora Brasiliensis, de von Martius et al. Essas iniciativas permitiram que a Unicamp, por meio do seu Departamento de Biologia Vegetal, tivesse uma inserção destacada no cenário internacional.

Ao introduzir a matemática, a estatística taxonômica numérica e a visualização gráfica nos estudos de botânica, Shepherd trouxe uma nova visão para a sistemática de angiospermas, contribuindo de maneira significativa para o crescimento do acervo do herbário da Unicamp. O pesquisador coletou material botânico de grande relevância em suas expedições de campo e excursões, realizadas em diversas regiões do Brasil.

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