Marlene Tiduko Ueta, que foi docente do Departamento de Biologia Animal do Instituto de Biologia (IB) por 55 anos, recebeu nesta quarta-feira (28) o título de Professora Honorária da Unicamp. Formada em História Natural, mestre em Zoologia pela Universidade de São Paulo (USP) e doutora em Biologia Animal pela Unicamp, Marlene Ueta foi pioneira em sua área.
O título de Professora Honorária da Unicamp é oferecido a pessoas que tenham prestado “serviços relevantes à ciência ou à cultura”. Em sua extensa trajetória acadêmica, Marlene Ueta foi chefe de departamento, coordenadora da pós-graduação em Parasitologia e coordenadora da disciplina na graduação e na pós-graduação. Teve, ainda, intensa participação no início dos cursos de Medicina e de Biologia na Universidade.
Aos 80 anos, e ainda em atividade, ela aproveitou a cerimônia de entrega do título para agradecer. Citou, nominalmente, dezenas de professores, colegas e funcionários do IB que, segundo ela, foram as pessoas que deram sustentação à sua carreira. Agradeceu, ainda, o “apoio silencioso, mas constante” de familiares. “Se há algum legado que possa ter deixado, é o de um trabalho modesto, mas realizado com muita dedicação, seriedade e honestidade”, disse ela. “Estou na Unicamp há 55 anos, mas parece que cheguei outro dia mesmo”, acrescentou, lembrando nomes de professores — como os de Luiz Augusto Magalhães e de Angelo Pires do Prado, ambos já falecidos — que, segundo ela, deram o impulso inicial à sua carreira.
Madrinha da homenageada, a professora Silmara Marques Allegretti revelou particularidades da personalidade de Ueta, como seu vasto conhecimento sobre assuntos os mais diversos. “Todo mundo a chama de Ueta Google. É só perguntar a ela, sobre qualquer coisa, que ela responde”, contou Allegretti, rindo. “Adora uma festa. É só chamar que ela vai. E ama ouvir as músicas de Milton Nascimento”, continuou. “Você só poderá se considerar uma pessoa próxima, se levar uns tapinhas da Marlene. É assim que ela chama a atenção da gente”, revelou a colega.
O reitor Antonio José de Almeida Meirelles — que conduziu a cerimônia — disse ter ficado emocionado pela forma como Marlena Ueta encarou a homenagem. “Ao invés de falar sobre si, ela preferiu agradecer as pessoas que a ajudaram nesta trajetória. E isso é maravilhoso”, disse o reitor.
“Às vezes, fico pensando em como foi que a Unicamp chegou onde está hoje, entre as melhores do Brasil e da América Latina. Isso se deve, claro, aos fundamentos que fizeram a instituição, mas, no fundo, percebemos que esses fundamentos são pessoas como a professora Marlene, que construíram essa instituição da forma como é hoje”, afirmou Meirelles. “São exemplos como esses que queremos fazer frutificar na Universidade. Que os jovens se mirem neste exemplo. Pessoas como a professora Marlene Ueta iluminam o futuro da universidade”, acrescentou.
A coordenadora geral da Unicamp, professora Maria Luiza Moretti, contou ter sido aluna de Marlene Ueta. “Por isso, é uma emoção muito grande para mim estar aqui, para prestar essa homenagem”, disse. “A professora se transformou em mentora, em referência ética, que inspira jovens estudantes”, acrescentou. “Que a senhora continue, e que sua trajetória possa iluminar muitos estudantes ainda”, finalizou.
Carreira
A carreira de Marlene Ueta na Unicamp teve início em 1969, no IB, onde atuou no então Departamento de Parasitologia, hoje Departamento de Biologia Animal. Suas pesquisas são voltadas aos parasitas aquáticos, com projetos que estudam a biodiversidade parasitária nos ecossistemas de água doce e os mecanismos de tratamento de doenças causadas por eles, como a esquistossomose.
Depois de concluir o doutorado na Unicamp, em 1976, passou a desenvolver atividades de pesquisa em parasitologia e foi precursora no estudo de helmintos (popularmente chamados de vermes) na Universidade, principalmente o isolamento de parasitas a campo e a adaptação destes em laboratório.
Marlene foi uma das criadoras do programa de pós-graduação em Parasitologia do IB — o atual programa de pós-graduação em Biologia Animal. Desde a implantação do programa, em 1988, destacou-se no ensino da Helmintologia. Nos cursos, os alunos aprendiam a manter ciclos de vários helmintos, que posteriormente foram implementados em várias universidades, gerando trabalhos em instituições como as universidades federais de Minas Gerais, de São Paulo, da Bahia e de Uberlândia; além da estadual de Londrina e da USP (Universidade de São Paulo). Alguns destes programas contaram com a participação da própria Marlene Ueta.
Ueta foi coordenadora do programa de pós-graduação em Parasitologia por muitos anos e, como orientadora, formou 12 mestres e 12 doutores — que, hoje, exercem atividades em várias universidades do Brasil e do exterior, ocupando áreas estratégicas em parasitologia e piscicultura. A professora publicou mais de 70 trabalhos científicos na sua área de atuação.
Marlene Ueta é, ainda, assessora de agências de fomento como o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), além de emitir inúmeros pareceres sobre projetos e artigos científicos.