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Inovação Pesquisa

Conduto neural acelera recuperação de nervos lesionados

Disponível para licenciamento, tecnologia combina impressão 3D, rotofiação e polímeros bioabsorvíveis, reduzindo necessidade de cirurgias invasivas

Lesões em nervos periféricos, responsáveis por transmitir sinais entre cérebro, medula e músculos, representam um dos desafios mais complexos para a medicina regenerativa. Tais lesões podem resultar de cortes, traumas ou compressões, comprometendo funções como sensibilidade das mãos e movimento dos membros e tecidos do corpo. Embora o sistema nervoso periférico apresente certa capacidade de regeneração espontânea, ela é restrita a lacunas muito pequenas, inferiores a 5 milímetros.

Para falhas maiores, o procedimento mais utilizado é o autoenxerto, em que um nervo do próprio paciente é retirado e enxertado para preencher a lacuna. Apesar de ser o tratamento mais utilizado pela baixa chance de rejeição, o método pode exigir múltiplas cirurgias, causar perda de sensibilidade no local doador, risco de infecção e formação de neuromas (crescimentos anormais de tecido nervoso). Além disso, sua eficácia é menor em lesões extensas, acima de 5 centímetros.

Como alternativa a este cenário, pesquisadores da Unicamp desenvolveram condutos de guia neural, tubos porosos que funcionam como estruturas temporárias, orientando o crescimento dos nervos lesionados. Esses condutos criam um microambiente controlado e permitem o transporte de oxigênio, nutrientes e remoção de resíduos, promovendo uma regeneração mais organizada.

O desenvolvimento da invenção foi liderado por Laís Pellizzer Gabriel, docente da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) e coordenadora do Laboratório de Ciência e Tecnologia de Polímeros (LPol) da Unicamp, que orientou a dissertação de mestrado de Camila Sartori, a partir da qual a tecnologia foi originada.

A professora da FCA e coordenadora do LPol Laís Pellizzer Gabriel: recuperação mais confortável
A professora da FCA e coordenadora do LPol Laís Pellizzer Gabriel: recuperação mais confortável

“A ideia surgiu durante uma busca na literatura por scaffolds poliméricos (estruturas que servem de suporte para o crescimento celular) impressos em 3D. Assim que conheci o conceito de conduto neural, fiquei encantada com seu potencial para contornar limitações dos tratamentos tradicionais”, conta Sartori.

“Nosso objetivo foi criar uma alternativa viável ao autoenxerto em casos de falhas maiores, onde a regeneração espontânea do nervo já não é possível”, explica Pellizzer Gabriel.

Uma alternativa para a regeneração

A tecnologia combina impressão 3D e rotofiação para produzir um tubo poroso e resistente, revestido internamente por fibras ultrafinas. O tubo foi projetado e impresso em impressora 3D. 

A solução polimérica é forçada a passar por pequenos orifícios de um reservatório que gira em alta velocidade. O solvente evapora rapidamente, e são formados filamentos ultrafinos, em uma estrutura contínua e porosa.

“No conduto neural, essas fibras fornecem pistas topográficas que direcionam os neurônios, mantendo o alinhamento necessário para a reconexão funcional”, detalha Sartori.

Fabricado com polímeros bioabsorvíveis, que se degradam naturalmente no organismo sem causar efeitos tóxicos, o conduto pode ainda ser incorporado com fármacos anti-inflamatórios, que regulam a inflamação após a lesão e favorecem a regeneração. Além disso, a tecnologia elimina a necessidade de retirar um segundo nervo do paciente.

“Isso reduz riscos de complicações, dor pós-operatória e tempo de tratamento, tornando a recuperação mais confortável, já que não há criação de uma nova ferida cirúrgica”, acrescenta Pellizzer Gabriel.

Os testes físico-químicos foram realizados pela equipe de Pellizzer Gabriel, no LPol, e a caracterização biológica foi liderada por Augusto Ducati Luchessi, docente da FCA. A tecnologia teve ainda participação de Isabella Caroline Pereira Rodrigues e Karina Danielle Pereira, inventoras da FCA-Unicamp.

A tecnologia foi projetada para tratar principalmente lesões em nervos periféricos sensoriais e motores
A tecnologia foi projetada para tratar principalmente lesões em nervos periféricos sensoriais e motores

Próximos passos

A tecnologia foi projetada para tratar principalmente lesões em nervos periféricos sensoriais e motores, como os nervos digitais das mãos. Ainda em fase de testes laboratoriais, o grupo busca parcerias institucionais e empresariais para avançar para estudos pré-clínicos e regulatórios.

A proteção da invenção foi realizada com apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp, com depósito de pedido de patente nacional junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e solicitação de proteção internacional por meio do Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT).

Além do potencial clínico, a iniciativa contribui para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente o ODS 3 – Saúde e Bem-Estar, ao buscar soluções menos invasivas para tratamentos médicos com foco em recuperação funcional e qualidade de vida.

Leia matéria na íntegra publicada no site da Inova Unicamp.

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