Conteúdo principal Menu principal Rodapé
Atualidades Pesquisa

Dupla que inspirou Nobel de Física se encontra em congresso organizado pela Unicamp

O professor Amir Caldeira e o britânico Antony Leggett, da Universidade de Illinois-Estados Unidos participaram do evento "Fronteiras da Mecânica Quântica”

O professor britânico Antony Leggett participou do encontro no formato online
O professor britânico Antony Leggett participou do encontro no formato online

Pouco mais de uma semana depois do anúncio do prêmio Nobel de Física 2025 ser divulgado pela Academia Real de Ciências da Suécia, a dupla que forneceu a base para o trabalho vencedor se encontrou nesta terça-feira (14) num evento organizado pelo Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp. 

O professor sênior da Unicamp Amir Caldeira e o britânico Antony Leggett, da Universidade de Illinois-Estados Unidos – que são os autores da pesquisa que serviu de balizador para o trabalho que resultou no Nobel – participaram do congresso “ Fronteiras da Mecânica Quântica”, evento que, ao longo de três dias encerrados nesta quarta-feira (15), reuniu pesquisadores do Brasil e do exterior.

Aos 87 anos, Leggett participou do encontro de forma virtual. Numa palestra online realizada no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e que foi acompanhada por Caldeira –  Leggett deu o contexto, as motivações e contou detalhes da história inicial do trabalho realizado nos anos de 1980, que resultou no que é hoje chamado “Modelo Caldeira-Leggett de dissipação quântica” – uma estrutura que acabou inspirando e orientando experimentos de três cientistas – o britânico John Clarke, o francês Michel H. Devoret e o americano John M. Martinis.

No último dia 7 de outubro, os três foram declarados ganhadores do Prêmio Nobel de Física de 2025. 

O professor sênior Amir Cladeira: 45 da defesa da tese e 75 anos de idade
O professor sênior Amir Cladeira: 45 anos da defesa da tese e 75 anos de idade

“Não teve nada de especial nesse nosso encontro. Afinal, nós não ganhamos nada”, disse Caldeira. “Além do mais, o congresso havia sido programado muito tempo antes [do anúncio do Nobel]”, acrescentou. “Ele falou sobre o nosso trabalho, fez um breve histórico, nada de muito especial”, reafirmou. Caldeira conta que não tem projeto de pesquisa conjunta com Leggett, mas que os dois ainda mantêm contato. “Sempre tivemos ótimo relacionamento”, garante. 

O seminário do IFGW foi concebido como uma homenagem aos 45 anos da publicação da tese de doutoramento intitulada “Macroscopic quantum tunneling and related topics” –  concluída em 1980 na Universidade de Sussex, Reino Unido, pelo então estudante de doutorado Amir Caldeira, sob a orientação do professor Anthony Leggett. Tese que mais tarde serviria de base para o trabalho dos três cientistas ganhadores do Nobel. O evento pretendeu ainda lembrar os 75 anos de vida de Caldeira, cujo aniversário se deu em seis de outubro.

Caldeira contou que o seminário estava previsto para ocorrer cinco anos antes. Era para ser a celebração dos 40 anos da tese e os seus 70 de idade. “Mas aí veio a pandemia, as coisas ficaram difíceis e se decidiu adiar e fazer agora, nos 45 da tese e nos meus 75”, contou ele. A realização do congresso e o anúncio do Prêmio Nobel “foi pura coincidência”, revela.

Congresso organizado pelo IFGW aconteceu de 13 a 15; a realização do encontro e o anúncio do prêmio Nobel foi coincidência
Congresso organizado pelo IFGW aconteceu de 13 a 15; a realização do encontro e o anúncio do prêmio Nobel foram coincidência

O físico conta que fez aniversário no dia 6 e, no dia seguinte, saiu o anúncio do prêmio. “Fiquei muito feliz. Foi um momento indescritível”, confidenciou. 

Caldeira acaba de se aposentar, mas avisa que está longe de parar de trabalhar.  “Agora sou professor sênior. Ou seja, não tenho mais algumas obrigações que me acompanhavam até agora e, neste momento, estou mais livre para trabalhar em coisas que me interessarem”, revela.  

O professor fez uma defesa da ciência básica. “Hoje se fala muito em empreendedorismo e coisas do gênero e se está esquecendo um pouquinho de como realmente a ciência se desenvolve”, disse ele, na abertura do congresso científico. 

”Não estou dizendo para as pessoas serem formadas em História da Ciência; não é isso, mas que deveriam ter um conhecimento um pouco mais profundo sobre isso, para ver, por exemplo,  como surgem coisas como o desenvolvimento tecnológico; como se começa um projeto de pesquisa, [como surge] o interesse por um problema e como a coisa vai, ao longo do tempo, naturalmente, virar tecnologia”, acrescentou ele.

A professora argentina Hilda Cerdeira:  prioridade à ciência básica
A professora argentina Hilda Cerdeira: prioridade à ciência básica

“Muitas vezes, é claro, se mira em um projeto específico de desenvolvimento, mas na ciência básica a curiosidade para se entender os fenômenos naturais é fundamental. É evidente que a tecnologia é importante até mesmo para testar a matéria numa escala diferente, mas, essas coisas todas são uma retroalimentação, que pode te levar a novas aplicações”, justifica. 

Participante do Congresso, a professora argentina Hilda Cerdeira lembrou que o Nobel é um reconhecimento à capacidade do cientista, mas, segundo ela, a tese de Caldeira ganha importância especial. “Primeiro, precisamos lembrar sobre a importância do cientista, que consegue elaborar um trabalho como esse, mas se torna importantíssimo, pelo fato de se tratar de um cientista latino-americano”, disse Cerdeira. “Sobretudo porque estamos numa região na qual o investimento na ciência pode depender do governo do momento”, acrescentou. 

Cerdeira também chamou atenção para a importância da ciência básica. “É fundamental para as universidades darem prioridade à ciência básica, à teoria”, recomenda. 

Leia mais:

Da Unicamp aos Prêmios Nobel de Física e Química

Foto de capa:

Evento reuniu dezenas de cientistas no CNPEM
Evento reuniu dezenas de cientistas no CNPEM

Ir para o topo