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Um novo produto capaz de fortalecer o sistema imunológico da tilápia trará mais resistência a doenças e ganhos no crescimento do peixe. Chamado de Terpenia Acqua, o produto foi desenvolvido para ser incorporado à ração na forma de pó, voltada para peixes adultos, ou em solução líquida, indicada para alevinos, que são peixes menores. A inovação atuará diretamente na cadeia produtiva da tilápia, espécie de água doce mais consumida no Brasil, segundo a Associação Brasileira da Piscicultura.

O Terpenia Acqua foi produzido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pela empresa Terpenia Bioinsumos, a partir de uma tecnologia desenvolvida por pesquisadores da Unicamp, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O lançamento do produto ocorreu durante o International Fish Congress & Fish Expo Brasil 2025, maior congresso do setor na América Latina, nesta quarta-feira, dia 3 de setembro.

“O grande diferencial do Terpenia Acqua é sua ação sobre o sistema imunológico e digestivo da tilápia nas suas diferentes fases de desenvolvimento. O produto é capaz de impactar o crescimento do peixe ao melhorar o sistema imunológico, deixando-o mais resistente a doenças que acometem sua criação”, explica a bióloga Michelly Pereira Soares, doutora pela UFSCar e uma das inventoras da tecnologia.

A formulação do produto permite que o composto seja incluído na ração junto ao premix, uma mistura pré-dosada de vitaminas, minerais e outros aditivos nutricionais que são acrescentadas na ração do animal, conforme sua necessidade. Essa facilidade de inclusão dá ao Terpenia Acqua uma viabilidade em larga escala.

“Pensamos em uma formulação para ser integrada facilmente à rotina das fábricas de ração, sem impacto na cadeia produtiva existente. Isso facilita a adoção em escala comercial”, afirma Fernanda Garcia Sampaio, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente que coordenou o desenvolvimento do produto em parceria com a Terpenia.

Campo de testes para sistemas de produção de tilápia
Campo de testes para sistemas de produção de tilápia

Solução ambientalmente sustentável

A base do produto é um extrato de uma variedade da planta Artemísia, obtido por processos industriais que preservam seus ativos de interesse e não geram resíduos contaminantes. Inicialmente, foram realizados testes laboratoriais (in vitro) no Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp, sob a liderança da pesquisadora Marta Cristina Teixeira Duarte, avaliando a eficácia do extrato de Artemisia contra as principais bactérias patogênicas para peixes.

“A aplicação da Artemisia na aquicultura é promissora por atuar de forma preventiva, ajudando o organismo do peixe a resistir melhor a infecções bacterianas, o que reduz a necessidade do uso de antibióticos”, explica Duarte. “Além disso, o extrato que utilizamos foi padronizado a partir de um genótipo da planta domesticado no final dos anos 80 e mantido na Coleção de Plantas Medicinais e Aromáticas (CPMA) do CPQBA desde então. A padronização garante a qualidade e constância no efeito terapêutico”, completa.

Após os testes com os peixes (in vivo), feitos no Laboratório de Ecossistemas Aquáticos da Embrapa Meio Ambiente, foi detectada a melhoria no desempenho zootécnico e no estado de saúde geral dos animais, sem necessidade de uso de antibióticos e, consequentemente, com menor risco de resíduos sintéticos na água e no alimento destinado ao consumidor final.

“Por ser composto por extratos naturais, nosso produto é facilmente degradado no ambiente, não permanece na água e não causa prejuízo à saúde humana. É uma inovação que não afeta apenas o produtor, mas todos os consumidores, que buscam cada dia mais produtos saudáveis”, conta Wolney Longhini, sócio e CEO da Terpenia.

Os pesquisadores ainda testaram o produto em escala industrial, utilizando 64 mil peixes dentro da cadeia produtiva da Fider Pescados, com a disponibilidade de tanques e ração industrial. Os testes, realizados sem alterações no processo produtivo, confirmaram a viabilidade industrial do produto e seus benefícios na cadeia produtiva, fornecendo um peixe maior e mais resistente aos desafios sanitários.

Testes com peixes feitos no Laboratório de Ecossistemas Aquáticos da Embrapa Meio Ambiente. Foto: Divulgação Terpenia Bioinsumos.
Testes com peixes feitos no Laboratório de Ecossistemas Aquáticos da Embrapa Meio Ambiente

Colaboração

A trajetória que resultou no lançamento do Terpenia Acqua começou na pesquisa científica. Ao longo de dois anos e meio, pesquisadores da Unicamp, da UFSCar e da Embrapa Meio Ambiente desenvolveram estudos que originaram a tecnologia de base do produto. O trabalho foi realizado durante o doutorado de Michelly Pereira Soares, na UFSCar, sob orientação do professor Francisco Tadeu Rantin, e contou com a colaboração dos pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente Fernanda Sampaio, Claudio Martins Jonsson e Sônia Queiroz, além de Marta Cristina Teixeira Duarte, do CPQBA da Unicamp.

Para proteger a pesquisa, foi depositado um pedido de patente, conduzido pela Agência de Inovação Inova Unicamp em conjunto com a Agência de Inovação da UFSCar (AIn-UFSCar). Em 2021, a Embrapa e a empresa Terpenia Bioinsumos iniciaram um projeto de inovação aberta para transformar a tecnologia em produto. O processo de licenciamento da patente para a Terpenia foi articulado pela área de Negócios da Embrapa junto com a Inova Unicamp e a AIn-UFSCar.

“O Terpenia Acqua representa o resultado de anos de projetos de pesquisa com o uso de compostos naturais para a promover a saúde de peixes de forma segura e eficaz”, afirma Queiroz. “Este projeto está alinhado com os princípios de saúde única que considera impactos simultâneos sobre os animais, o meio ambiente e a saúde humana”, completa.

Levando a pesquisa para o mercado

A Terpenia Bioinsumos é uma spin-off acadêmica da Unicamp, ou seja, uma empresa que foi criada a partir de conhecimentos, pesquisas ou tecnologias, protegidas ou não, da Universidade. A empresa já licenciou outras três tecnologias do CPQBA, com apoio da Inova Unicamp, para aplicação em peixes, suínos e carnes.

“Nosso papel como empresa é justamente esse: integrar o conhecimento acadêmico com a realidade do mercado, transformando invenções em produtos com impacto direto na produção, na economia e na sustentabilidade ambiental”, destaca Longhini, CEO da Terpenia.

A empresa quer lançar uma linha com diversas opções de produtos que atuam na produção da tilápia, começando pelo Terpenia Acqua. Para isso, eles já estudam expandir o uso do produto em outras fases do ciclo da tilápia — como a alevinagem e a engorda — e para outras espécies de peixes. As novas pesquisas contam com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por meio de um projeto aprovado na modalidade Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe).

Matéria publicada originalmente no site da Inova Unicamp.

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