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Atualidades

Livro histórico sobre ditadura completa 40 anos; Unicamp abriga maior acervo do país sobre o período

Feito clandestinamente ao longo de seis anos — entre 1979 e 1985 - obra analisou mais de 700 processos que hoje se encontram sob a guarda da Unicamp

Feito clandestinamente ao longo de seis anos de pesquisa — entre 1979 e 1985, já no período final do regime — a publicação contou com um prefácio de Dom Paulo Evaristo Arns
Evento de lançamento da 43ª edição do livro Brasil: Nunca Mais, no Memorial da Resistência de São Paulo\ Foto: Paulo Pinto-AB.

O lançamento do livro Brasil: Nunca Mais, que revelou casos de tortura, desaparecimentos e mortes ocorridos durante a ditadura militar no país, completa 40 anos nesta terça-feira (15) e ganha sua 43ª edição. 

Publicado no dia 15 de julho de 1985, o livro se transformou em um documento histórico. Feito clandestinamente ao longo de seis anos de pesquisa — entre 1979 e 1985, já no período final do regime — a publicação contou com um prefácio de Dom Paulo Evaristo Arns. Escrito por Frei Beto, Ricardo Kotscho e Paulo Vannucchi, a obra analisou mais de 700 processos do Supremo Tribunal Militar que hoje se encontram sob a guarda do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) da Unicamp, o maior centro de documentação brasileiro dedicado à história dos movimentos sociais.

O sociólogo, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp e diretor do AEL, Mário Medeiros, disse em entrevista ao Jornal da Unicamp, há cerca de um ano, que esse acervo compõe um panorama representativo para quem busca conhecer a luta contra a ditadura.

Segundo Medeiros, a partir dessas coleções, já foram produzidas centenas de livros, teses, dissertações e artigos que contribuíram e contribuem para manter viva a memória desses movimentos e para promover reflexões sobre o período. 

A coleção Brasil: Nunca Mais, que serviu de base para o livro de mesmo nome, figura entre os acervos mais consultados do arquivo, ajudando tanto nos requerimentos de anistia de presos políticos como na investigação sobre as responsabilidades de agentes públicos por atos violentos cometidos naquele período — sem falar, claro, das pesquisas acadêmicas. “[Esse acervo] conta a história do desmantelamento de organizações e das denúncias sobre os atos violentos cometidos na época: torturas, assassinatos, prisões e desaparecimentos”, resumiu Medeiros.

Entre os documentos sobre o regime ditatorial encontrados no AEL, destaca-se um conjunto de entrevistas com antigos exilados, presos políticos e militantes de organizações armadas realizadas por diversos pesquisadores, como Marcelo Ridenti, Denise Rollemberg, Jean Salles e o próprio Medeiros. 

Feito clandestinamente ao longo de seis anos de pesquisa — entre 1979 e 1985 - obra analisou mais de 700 processos que hoje se encontram sob a guarda da Unicamp
Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) da Unicamp, o maior centro de documentação brasileiro dedicado à história dos movimentos sociais.

Já os acervos do Partido Comunista e de Luiz Carlos Prestes oferecem fontes fundamentais para compreender como a oposição partidária à ditadura se desenhou. “Há ainda a coleção do Comitê Brasileiro de Anistia, que trata da luta de familiares de exilados, organizações e pessoas da sociedade civil. E acervos de movimentos feministas, negros e operários, como os jornais da imprensa alternativa Lampião da Esquina, Versus, Pasquim, Movimento, Em Tempo, Mulherio, Jornal do MNU”, enumerou o sociólogo.

Livro

Lançado pela Editora Vozes, a editora dos frades franciscanos de Petrópolis (RJ), o livro Brasil: Nunca Mais se transformou em um enorme sucesso editorial. Ficou 92 semanas entre os dez mais vendidos do país.

“Como escreveu Dom Paulo Evaristo Arns no prefácio, o Brasil: Nunca Mais é um livro para sempre. Sua relevância é atemporal. Mas entendemos que era necessário um novo projeto gráfico, alinhado com o padrão das publicações atuais da editora. Ao mesmo tempo, no contexto social e político em que vivemos, percebemos que muitos jovens desconhecem o  período da ditadura militar no Brasil. Assim, a republicação dessa obra torna-se um ato de resistência e de compromisso com a memória, a democracia e a participação social”, contou à Agência Brasil Teobaldo Heidemann, coordenador nacional de vendas da Editora Vozes.

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