Conteúdo principal Menu principal Rodapé
Notícias

Podcast Sabiá debate questões sobre inteligência artificial

A iniciativa é do centro de pesquisa Brazilian Institute of Data Science; primeiro episódio trata da história da IA

O BI0S – Brazilian Institute of Data Science, um centro de pesquisa aplicada em inteligência artificial (IA) sediado na Unicamp, lançou, em abril último, o podcast Sabiá a fim de difundir conhecimento a respeito da IA, tecnologia que já provoca várias reverberações na sociedade. Com dois episódios já publicados, de um total de dez planejados para a primeira temporada, o programa busca mesclar uma linguagem atrativa e de fácil compreensão com um conteúdo aprofundado e ancorado no rigor científico característico do ambiente universitário.

De periodicidade quinzenal e duração média de 20 minutos, cada episódio abordará aspectos relevantes da discussão sobre a IA, desde seus fundamentos e benefícios até questões éticas. “O podcast tem o objetivo de resolver as inquietações e dúvidas das pessoas sobre inteligência artificial. O que ela é capaz de fazer? Com o que devo me preocupar?”, afirmou o gestor científico da área de educação do Bios e docente do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), Leandro Tessler.

Qualificar e ampliar o debate acerca do tema é uma questão essencial, na visão do pesquisador. “A IA vai afetar nossas vidas de forma irreversível e tem implicações tecnológicas que a sociedade precisa conhecer para tirar o melhor proveito dela. A IA não é a solução para todos os males. Ela tem uma série de limitações importantes”, disse. Além de questões ambientais e de direitos autorais, existem também consequências políticas como a intervenção em processos eleitorais, lembra Tessler.

Coordenador da área de educação do BI0S e doutorando em ciência da comunicação na Universidade de São Paulo (USP), Victor Vicente sublinha a importância dessa discussão, considerando as transformações empreendidas pela IA na forma como aprendemos, nos relacionamos e até participamos da vida política.

“A IA, enquanto tecnologia, é amoral: não tem como, de antemão, definirmos se ela vai ter um impacto positivo ou negativo na sociedade. Estamos em um momento de profundas e rápidas transformações e precisamos garantir que as pessoas sejam ouvidas e que participem desse momento histórico. Com o podcast, tentamos construir um olhar técnico e crítico, que fuja da rejeição à inovação tecnológica. Quanto mais formamos pessoas críticas e engajadas, melhor”, afirmou.

O gestor científico da área de educação do Bios e docente do IFGW, Leandro Tessler: resolver as inquietações e dúvidas sobre inteligência artificial
O gestor científico da área de educação do Bios e docente do IFGW, Leandro Tessler: resolver as inquietações e dúvidas sobre inteligência artificial

Equipe multidisciplinar

A multidisciplinaridade do campo de estudo da IA se reflete na equipe do podcast, composta por pesquisadores e discentes bolsistas da graduação. Além disso, o fato de o programa estar inserido em uma universidade pressupõe a observação de parâmetros éticos relativos à divulgação científica, disse Tessler. “Nosso lugar de debate é muito privilegiado porque temos um compromisso efetivo com a informação de qualidade. Isso também mostra que a Universidade dialoga com as questões de interesse público de forma interessante e até bem-humorada”, defendeu Vicente.

O podcast promove a formação dos ouvintes e também dos alunos envolvidos, que darão voz aos episódios. Luana Vicentin, de 24 anos, formada em comunicação social e midialogia pela Unicamp, e Bruno Franchi, de 23 anos, discente de licenciatura em física, são os apresentadores dos primeiros episódios.

Vicentin sabia pouco sobre IA e acredita ser “um privilégio disseminar esse conhecimento de forma acessível, por meio de uma apresentadora que há pouco tempo era leiga no assunto, mas que teve a oportunidade de aprender muito com físicos e especialistas da Unicamp”.

Já para Franchi, essa é sua primeira oportunidade no campo acadêmico, apesar de já ter trabalhado com IA. “Eu nunca tinha produzido nada de divulgação científica e muito menos podcasts. A maior dificuldade foi justamente entender como transformar uma ideia formal e técnica em um conteúdo acessível para um público amplo.”

Vicente ressalta que o projeto superou as expectativas, alcançando centenas de ouvintes já no episódio de estreia. Conforme Tessler, a meta do BI0S é “ser a referência em podcast de inteligência artificial na língua portuguesa”. O podcast recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Fundação Roberto Marinho, por meio da iniciativa Comunicar Ciência. 

Da esquerda para a direita, os estudantes Luana Vicentin e Bruno Franchi e o coordenador da área de educação do BI0S Victor Vicente: superou as expectativas
Da esquerda para a direita, os estudantes Luana Vicentin e Bruno Franchi e o coordenador da área de educação do BI0S Victor Vicente: superou as expectativas

História da IA – como chegamos até aqui

O primeiro episódio do Sabiá fala justamente do desenvolvimento da inteligência artificial – que, apesar de um tema bastante atual, tem a raiz do seu nascimento plantada no pensamento lógico proposto pelo filósofo grego Aristóteles.

A proposta de fazer uma máquina “pensar” já motivou muitos pesquisadores ao longo das décadas. A Máquina Analítica de Charles Babbage, desenvolvida no século 19, marca a primeira vez em que um algoritmo foi processado por uma máquina. Na década de 1940, o surgimento da cibernética também influenciou o desenvolvimento da IA – trata-se de um campo de estudo interdisciplinar que constrói modelos matemáticos de comunicação e controle entre sistemas biológicos e mecânicos.

Já nos anos 1950, outro marco histórico: o matemático Alan Turing criou o chamado Teste de Turing. A ideia era fazer uma máquina interagir com um ser humano, fazendo-o pensar que ela realmente está raciocinando. “Isso não acontece. As máquinas raciocinam de outro jeito, diferente daquele que nós raciocinamos. Mas isso está andando muito rápido, e hoje você tem aplicações que, inclusive, imitam coisas humanas [tornando cada vez mais difícil distinguir o elemento humano da máquina]”, afirmou Tessler.

No final dos anos 1970, ocorreu o chamado “primeiro inverno da IA”, em que a evolução da tecnologia estagnou por falta de recursos matemáticos e tecnológicos. Nas décadas seguintes, a IA se desenvolveu graças ao surgimento de ferramentas matemáticas e computacionais que tornaram possível e menos caro treinar as chamadas redes neurais profundas, a base dessa tecnologia hoje. “As redes neurais fazem o que chamamos de ‘treinar o algoritmo’ [aprendizado de máquina]: você mostra para ele dados do mundo real e diz quais são as soluções que ele tem que tomar”, explica o gestor científico. A partir disso, sempre que ocorrerem parâmetros similares, o algoritmo saberá qual a melhor solução.

As redes neurais, observa Tessler, otimizam processos e encontram padrões muitas vezes de difícil detecção para os seres humanos. Isso a torna útil em diferentes tarefas, como, por exemplo, dirigir um carro autônomo, auxiliar em diagnósticos médicos, monitorar lavouras e indicar filmes em aplicativos de streaming. “Isso nos dá uma ideia muito clara do que vem pela frente, mas a pergunta é: o que faremos com a riqueza gerada pelas máquinas, como vamos distribuí-la?”, questionou o professor.

O segundo episódio da série foca as inteligências artificiais generativas, muito conhecidas depois do surgimento do ChatGPT.

Logo do podcast Sabiá

O BI0S

O Brazilian Institute of Data Science é um centro de pesquisa aplicada em inteligência artificial (IA) sediado na Unicamp e constituído a partir de uma chamada de propostas realizada em 2021 pela Fapesp, pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).

O centro, cuja gestão executiva está a cargo do professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec) João Romano, reúne uma equipe transdisciplinar de pesquisadores, associados a instituições de referência, e trabalha com pesquisa e desenvolvimento em três eixos principais: saúde, agronegócio e método (projetos na interseção das técnicas de treinamento e do impacto social).

Ir para o topo