A Unicamp concedeu, na quinta-feira (20), em solenidade realizada no auditório do Conselho Universitário (Consu), o título de Professor Honorário a George John Shepherd, aposentado do Departamento de Biologia Vegetal do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, considerado um dos mais importantes botânicos do Brasil. O título é conferido a docentes que se distinguiram no exercício das atividades acadêmicas e no serviço à Ciência.
Nascido na Escócia, George John Shepherd chegou ao Brasil em janeiro de 1975, motivado pelo desejo de pesquisar nos trópicos. Convidado pelo professor Gil Felippe, ingressou no antigo Departamento de Botânica da Unicamp, onde passou a atuar como professor assistente doutor.
Durante a homenagem, Luiza Kinoshita, docente aposentada do Departamento de Botânica do IB e madrinha de Shepherd, relembrou sua chegada e a classificou como memorável: “George chegou em meio a um imenso temporal em Campinas e fomos recepcioná-lo. Quando o encontramos, nos deparamos com um jovem de 26 anos, mais ou menos, cabelos compridos nos ombros, barbudo e com um violão nas costas. Olhamos um para o outro e nos perguntamos se era esse o PhD. Ele parecia um rockeiro ou um cantor de música country.” O depoimento arrancou risadas de todo o auditório, que estava repleto de amigos, colegas de profissão e jovens estudantes que têm Shepherd como referência na área de biologia vegetal.
A trajetória acadêmica do homenageado consolidou a Unicamp como referência na pesquisa botânica e o destacou como um dos principais nomes na taxonomia vegetal. Pessoa de múltiplos interesses, Shepherd se notabilizou por suas pesquisas em biossistemática, evolução, quimiotaxonomia e informática aplicada à botânica.
Com o conhecimento em programação adquirido durante o doutorado em Edimburgo, foi pioneiro no desenvolvimento de programas computacionais para análise fitossociológica e análises multivariadas. Essa expertise o levou a criar e desenvolver o software Fitopac, um programa gratuito para leitura e análise de dados de levantamento fitossociológico, amplamente utilizado na comunidade científica brasileira e internacional. Ele e seus pares destacam esse projeto como uma das maiores contribuições de Shepherd para a área.
Em depoimento gravado e exibido durante a cerimônia, ele contou que tomou a iniciativa de desenvolver o Fitopac ao ver que seu colega passava quatro dias dedicados a realizar cálculos. Refletiu, então, que deveria haver uma maneira mais rápida de fazer esse trabalho. “O Fitopac ajudou a simplificar todo o processo de fazer o levantamento dos edifícios geológicos, fazer os cálculos e todo o resto. E abriu caminho para espalhar esta metodologia”, afirmou.
Entusiasta da ideia de que o conhecimento precisa ser acessível para todos, Shepherd integrou a equipe que implementou a digitalização e os sistemas de busca online da Flora Brasiliense, digitalizando toda a flora brasileira; e o “SpeciesLink”, rede que fomenta a pesquisa, a educação e a formulação de políticas para promover a conservação e o uso sustentável da biodiversidade.
A significativa contribuição do cientista e docente refletiu inclusive no descobrimento de novas espécies de plantas, tendo sete que levam seu nome, uma forma de homenageá-lo. Como professor da graduação e da pós-graduação, recebeu várias distinções, incluindo a nomeação do Centro Acadêmico da Biologia com seu nome.
Shepherd orientou diversas dissertações e teses, formando gerações de pesquisadores que hoje atuam em diferentes regiões do Brasil.
Durante a cerimônia, o diretor do IB, Hernandes Faustino de Carvalho, relembrou uma entrevista do homenageado sobre a importância de estudar e proteger o mundo natural e a necessidade de lutar para preservá-lo, destacando a importância de maximizar a sobrevivência dos ecossistemas presentes através de duas palavras fundamentais: preservar e entender.
O reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, afirmou que Shepherd participou da construção da Unicamp e é parte da identidade da universidade. “Estamos escolhendo pessoas que iluminaram o caminho, que o construíram e que são inspiração para nosso futuro. Não podemos olhar para o futuro esquecendo que essas pessoas foram importantes para construir nosso passado e fazer do nosso presente o que ele é hoje.”
Ao final da cerimônia, a professora Simone Liliane Shepherd, aposentada e esposa do homenageado, apresentou imagens dele durante seu percurso profissional, desde fotos em campo coletando espécies até registros de palestras e encontros com colegas.
Ela ainda lembrou que, apesar de ter sido diagnosticado com Parkinson em 1999, o cientista atuou na Associação Campinas Parkinson, divulgando a doença e ajudando pessoas e familiares acometidos pela enfermidade a compreendê-la e a conhecer os recursos existentes para a melhoria da qualidade de vida. “Nós dois, ele principalmente, nos empenhamos muito na parte da divulgação e da prevenção contra o preconceito em torno dessa doença”, contou. Em 2016, foi realizado no mês de abril um trabalho de conscientização da população sobre como ajudar as pessoas acometidas por essa doença, trabalhando para que o principal medicamento fosse disponibilizado pelo SUS.
