Quando a covid-19 começou a assombrar o mundo, o italiano Stefano De Leo, físico, matemático e professor da Unicamp, decidiu oferecer uma contribuição que mais tarde se mostraria uma importante ferramenta nas estratégias de combate à doença.
De forma voluntária, ao lado de colegas e alunos, De Leo desenvolveu modelos matemáticos por meio dos quais foi possível acompanhar a evolução da pandemia no Brasil, na Itália e em outros países da Europa e da América Latina.
A modelagem permitiu, por exemplo, prever o número de casos por região, realizar comparações entre os países e analisar os dados a partir da simulação de diferentes cenários.
O projeto envolvendo a covid-19, desenvolvido por De Leo com estudantes do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc) da Unicamp, além de alunos e pesquisadores italianos e de outros colaboradores internacionais, chegou ao fim, mas acabou abrindo novas possibilidades de parceria que começam a se consolidar a partir deste ano, afirmou o professor.
Cooperação internacional
Uma dessas parcerias é o projeto BRIT24, uma rede de estudantes envolvendo brasileiros e italianos. Segundo De Leo, trata-se de uma iniciativa colaborativa que conecta alunos do ensino médio e universitários dos dois países.
O projeto promove a cooperação internacional, envolvendo os alunos na resolução de problemas de mecânica quântica e óptica por meio da análise teórica, da programação, da visualização gráfica e de aplicações práticas.
O BRIT24 também enfatiza o intercâmbio cultural, preparando alunos para os desafios científicos e tecnológicos futuros em uma escala global.
Neste mês de janeiro, dois estudantes da Unicamp e um estudante do Instituto Principia, uma fundação sem fins lucrativos que promove atividades científicas desde 1951, visitarão a Universidade do Salento (Itália) para apresentar ao grupo de estudante que integra o lado italiano do projeto o trabalho sobre tunelamento quântico desenvolvido no segundo semestre. As viagens serão financiadas pela Embaixada Italiana em Brasília.
“Uma anomalia no Brasil: as melhores universidades são públicas, mas, para entrar nelas, você tem de fazer o ensino médio em escolas particulares”, observa o professor. “Precisamos fortalecer o ensino fundamental público.”
Patrimônio científico e cultural
O segundo projeto é o Heritage for Future, desenvolvido no âmbito do programa EU NextGeneration e que reúne nove universidades italianas com o objetivo de explorar o patrimônio cultural e científico da Europa como base para inovações futuras.
Participam do projeto o Politecnico di Torino e as universidades de Bolonha, Nápoles (Federico II), Salento (Lecce), Messina, Calábria, Brescia, Pádua e Pávia.
A iniciativa divide-se em nove áreas temáticas, cada uma coordenada por uma universidade, abordando questões cruciais para o desenvolvimento sustentável e a preservação do patrimônio histórico e cultural.
“O projeto pretende trazer estudantes e professores das instituições italianas para cá e levar pessoal nosso para lá, a fim de participarem de projetos e pesquisas”, explica De Leo.
O professor lembra que todos os projetos têm caráter multidisciplinar. “Tenho de confessar que até 2021, com o trabalho sobre a covid-19, eu atuava em grupos de pesquisa na minha área. A partir de então, vi o quanto é importante trabalhar na multidisciplinaridade. Esse é o futuro, junto com a inteligência artificial”, observa.
Medalha
Por conta dessa trajetória, o governo italiano decidiu homenagear o professor com a medalha Cavaleiro da Ordem da Estrela da Itália (OSI), uma das mais altas condecorações concedidas pelo governo desse país europeu.
O reconhecimento é outorgado pelo presidente da Itália, a partir de uma proposta do ministro das Relações Exteriores, a cidadãos italianos residentes no exterior ou a estrangeiros que tenham tido méritos especiais na promoção das relações de amizade e cooperação com outros países.
As medalhas desse tipo dividem-se em cinco classes: Cavaliere, Ufficiale, Commendatore, Grande Ufficiale e Cavaliere di Gran Croce.
“Para mim, trata-se de um dos reconhecimentos mais importantes, especialmente para um italiano que trabalha no exterior”, disse o professor. “E é um reconhecimento não apenas acadêmico, mas também pelo fato de [o trabalho] reforçar e fortalecer as relações entre o Brasil e a Itália. Não esperava isso. Foi uma surpresa”, afirmou.
Segundo De Leo, a indicação para o prêmio parte da embaixada, que não informa o homenageado sobre a intenção. A definição sobre se haverá ou não a concessão da honraria cabe a um colegiado instalado no Ministério das Relações Exteriores da Itália.
A entrega da medalha ocorreu no início de dezembro pelas mãos do embaixador italiano no Brasil, Alessandro Cortese, em nome do presidente daquele país.
Receberam a honraria dez personalidades, entre representantes de instituições de ensino, militares e membros do setor privado. Em 2024, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), também foi agraciada com a distinção.