Jaime Aparecido Cury é o mais novo professor emérito da Unicamp. O docente, o primeiro da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) a ser reconhecido com a honraria, recebeu o título em uma cerimônia realizada nesta quinta-feira (5), na sala do Conselho Universitário (Consu). Familiares, amigos, colegas de profissão e profissionais formados por Cury acompanharam o evento, que foi presidido pelo reitor Antonio José de Almeida Meirelles e contou com a participação da coordenadora-geral da Unicamp, Maria Luiza Moretti, do diretor da FOP, Flávio Henrique Baggio Aguiar, e de Branca Heloisa de Oliveira, professora da unidade e madrinha do homenageado.
“Representar, neste momento único, a grande legião de admiradores que ele conquistou ao longo de sua brilhante trajetória na odontologia é não apenas um privilégio, mas uma oportunidade de prestar minha mais sincera homenagem a este grande professor e ser humano”, declarou Oliveira a Cury, que estendeu seus agradecimentos aos amigos e ex-alunos presentes. “Este título não é apenas uma homenagem a mim, mas engrandece toda a comunidade da odontologia.”
Para o diretor da unidade, a carreira de Cury foi de grande importância para a história da instituição. “O professor Jaime foi um excelente profissional que não apenas soube representar muito bem a Faculdade de Odontologia de Piracicaba, mas foi além: engrandeceu o nome da FOP no Brasil e no mundo.”
Formado em Odontologia pela FOP em 1971, Cury ingressou na Universidade como docente em 1974, após obter o título de Mestre em Ciências (Bioquímica) pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Em 1980, tornou-se doutor em Ciências Biológicas (Bioquímica) pela Universidade de São Paulo e, em 1984, obteve o título de Livre-Docente. Sua formação contou, ainda, com dois estágios de pós-doutorado na Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, nas áreas de Cariologia e de Biologia Molecular.
Durante a construção de sua carreira, Cury formou uma parceria decisiva para o futuro: sua esposa Altair Del Bel Cury, hoje também professora da FOP. “Nunca houve uma dupla tão perfeita, tanto para a família, quanto para a ciência”, destacou Aguiar. O professor emérito agradeceu a ela e a seus filhos, André e Renata, pela significativa participação que tiveram em sua trajetória.
Na Unicamp, o homenageado foi responsável pela implementação do ensino de Cariologia na FOP, em 1978 no curso de graduação e em 2000 na pós-graduação. Ocupou a chefia do Departamento de Ciências Fisiológicas da FOP nos períodos de 1988 a 1990 e de 1994 a 1996. Ao longo de sua carreira, publicou 374 artigos científicos, 36 capítulos de livros e quatro livros. Orientou 47 dissertações de mestrado, 45 teses de doutorado e supervisionou três estágios de pós-doutorado.
Entre os anos de 1998 e 2006, foi representante da área de Odontologia no Comitê de Assessoramento (CA) Multidisciplinar de saúde do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o que possibilitou a criação de um CA independente dedicado à Odontologia. Desde 1988, é consultor técnico-científico do Ministério da Saúde, atuando na elaboração e na implementação de políticas públicas de saúde bucal, em especial na aplicação de fluoretos no controle das cáries dentárias. Também foi presidente da Associação Brasileira de Odontologia de Promoção de Saúde Bucal (Aboprev) entre 1993 e 1995. “Fui visionário na discussão sobre o uso de fluoretos em dentifrícios nos anos 1980”, lembra-se. “Naquela época, apenas 0,5% das crianças brasileiras não tinham lesões nos dentes causadas por cáries. Hoje são 50%.”
Recebeu diversas premiações e títulos durante sua carreira, com destaque para o Prêmio Yngve Ericsson de Pesquisa em Odontologia Preventiva, em 2010; o Prêmio da Regional Latino-Americana da Associação Internacional para a Pesquisa Dental (IADR), em 2011; o Prêmio ORCA 2012, concedido pela Organização Europeia de Pesquisa de Cárie; o Prêmio IADR de Pesquisa em Cárie Dental, em 2019; e o Prêmio IADR, E.W. Borrow Memorial, em 2020. Destes, os prêmios Yngve Ericsson, de 2010, e o ORCA, de 2012, nunca haviam sido concedidos a um pesquisador fora do eixo Estados Unidos-Europa. Recebeu os títulos de Doutor Honoris Causa pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), em 2015, e pela Universidade de Murcia, na Espanha, em 2023. Em 2019, foi eleito membro da Academia Brasileira de Odontologia.
Mesmo após sua aposentadoria, em maio de 2022, Cury permanece como professor colaborador da FOP. “Meu forte sempre foi trabalhar junto aos alunos”, sintetiza.
A coordenadora-geral da Unicamp exaltou os frutos do trabalho desempenhado por Cury em mais de 50 anos de atuação, o que justifica o recebimento do título. “Sem dúvidas, outros professores [da FOP] virão no futuro. Pessoas que são responsáveis pela formação de gerações de profissionais da saúde.” Moretti comentou que a convivência entre diferentes gerações de professores é uma das características que garantem a diversidade na Unicamp e que observar novos docentes assumindo esses postos é gratificante. “Para sermos professores universitários, temos que ter orgulho do resultado de nosso trabalho, que é a formação de nossos estudantes.”
Para Meirelles, a concessão da honraria a professores eméritos é uma forma de reconhecer a própria história da Unicamp. “Esta é uma homenagem às pessoas que construíram nossa universidade.” Em sua perspectiva, o que faz a diferença na carreira de professores como Cury é a capacidade de inspirar as pessoas e fazer com que o conhecimento científico esteja presente no cotidiano. “Não é a produção científica em si que deve mover nossa ação, mas o desejo de formar pessoas e de solucionar problemas de saúde”, defende.