O professor Woodruff Whitman Benson, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, recebeu na tarde de quinta-feira (21) o título de professor honorário, em sessão extraordinária do Conselho Universitário (Consu). “A Unicamp fez tanto para mim”, declarou Benson na cerimônia.
Para Eleonore Zulnara Freire Setz, também professora do IB e casada há 40 anos com Benson, foi uma ocasião “muito especial”. “Eu sabia que ele tinha essa importância e queria que as pessoas reconhecessem isso. Ele ajudou, entre outras coisas, a introduzir as atividades de campo nos cursos de Ecologia. É muito importante, porque a natureza é nosso laboratório. Devemos ter a teoria, mas precisamos também da experiência de campo para desenvolver nosso olhar”, disse a professora, que é uma das fundadoras do curso de Ecologia na Unicamp, junto a Benson e ao professor emérito Thomas Michael Lewinsohn, padrinho do homenageado.
Acompanhada por um dos filhos do casal, Thomas S. S. Benson (o filho Robin M. S. Benson acompanhou a cerimônia pelo YouTube), Setz lembrou que conheceu Benson na Unicamp. “Ele participou de minha pré-banca de mestrado.” Ela também destacou o grande número de alunos de Benson que atuam em todo o mundo, como apresentado em gráfico por Lewinsohn.
Edificador da Ecologia
De acordo com levantamento de Lewinsohn, Benson formou seis gerações de orientados. “São 1.173 descendentes acadêmicos”, disse o padrinho ao apresentar um gráfico para ilustrar o que chamou de genealogia científica. “Benson foi um edificador da Ecologia no Brasil”, afirmou o professor, que disse se sentir honrado como padrinho do homenageado.
Entre as contribuições científicas de Benson, Lewinsohn falou sobre a primeira comprovação experimental do mimetismo (pela modificação do padrão de coloração da borboleta), descrito no Brasil pelo naturalista alemão (naturalizado brasileiro) Fritz Müller. Benson havia iniciado as pesquisas com borboletas na Costa Rica e deu continuidade a elas no Brasil, quando veio a convite da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pouco tempo depois, foi convidado para criar na Unicamp um curso de Ecologia. O próprio Lewinsohn veio para a Unicamp atraído pela presença de Benson. “Vim especificamente atrás de Benson e voltei a me apaixonar pela Ecologia, numa época em que ela não tinha o prestígio que tem hoje.”
Caráter inovador
Para o reitor Antonio José de Almeida Meirelles, o caráter inovador da Unicamp se confirma em ocasiões em que as histórias pessoais dos pesquisadores se tornam públicas. “É sempre um momento bonito resgatar a história da pessoa. Gosto de fazer a conexão com a história da instituição. A Unicamp é uma universidade jovem e já conseguiu provocar grande efeito na ciência brasileira. Isso mostra a qualidade das pessoas que deram início à universidade. Sabemos que estamos construindo novas coisas. É um orgulho para a universidade”, disse Meirelles, que presidiu a mesa, também composta pelo diretor do IB, Hernandes Faustino de Carvalho.
Proposta pela professora Fosca Pedini Pereira Leite, do Departamento de Biologia Animal do IB, e aprovada pelo Conselho do IB e pela congregação, a outorga do título de professor honorário contou com uma apresentação musical de Roland Scialon, amigo e padrinho de casamento do homenageado, que executou à gaita músicas dos filmes Star Trek e Indiana Jones, com leitura de texto de Setz.
Reconhecimento
“Estou tomado pela emoção”, disse Benson durante a cerimônia. “Quero agradecer a todos os envolvidos por reconhecerem minha contribuição.” Em sua breve fala, o professor destacou “questões no mundo que ainda não foram muito abordadas”, como os formatos das folhas nas florestas tropicais. “Tenho uma ideia de que tem a ver com civilização, as plantas e sua identidade.”
Benson optou por falar da sua história de antes de chegar ao Brasil. “Nasci em uma cidade chamada Marietta, próximo a Atlanta, capital da Georgia, nos Estados Unidos. A família do meu pai era local, chegou às colônias britânicas antes de 1760. Minha mãe foi filha de suboficial. Meu quintavô lutou pela Independência. Meu trisavô foi soldado confederado e morreu de um ataque de baioneta. Meu pai ficou órfão aos 11 anos de idade. Em situação de pobreza, teve ajuda de parentes e passou a ser um empresário. Quando já tinha filhos, entrou em um negócio e perdeu tudo, voltou à pobreza”, resumiu o professor, que falou de seus estudos em escolas públicas e lembrou que desde cedo mostrou gosto pela ciência. “Meu pai falou: ou você tem notas boas, ou paramos de pagar taxas escolares. Quando estava com 12 anos, a família se mudou para a área rural.”
Potencial
Ao falar após receber a homenagem, o professor lembrou de sua chegada à Unicamp. “O curso de Ecologia veio a permitir que eu usasse todo meu treinamento, minhas capacidades, todo meu potencial. Aqui tive minha realização profissional e pessoal junto à Unicamp. Fui acolhido pelos meus colegas de departamento, eu era ‘aquele gringo que ainda não fala bem o português’”, disse sorrindo.
Graduado em Arts and Science pela Emory University, em 1964, Benson fez mestrado (1967) e doutorado (1970) na Graduate Schoool Zoology na University of Washington. Ao longo de sua vida de professor e pesquisador da Unicamp, dedicou-se especialmente à Ecologia de Ecossistemas, especialmente nos temas: lepidoptera, formicidae, biodiversidade, mutualismo e territorialidade. Aposentado desde 2012, quando completou 70 anos, continuou como professor colaborador voluntário por muitos anos.