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Desembarcou na manhã desta sexta-feira (13), no aeroporto de Viracopos, em Campinas, vindo dos Estados Unidos, o radar meteorológico capaz de fazer a detecção de eventos climáticos extremos, exclusivo para a Região Metropolitana de Campinas (RMC).

Assim que for liberada pelas autoridades alfandegárias, a antena de três toneladas e meia será instalada numa torre de 10 metros de altura já construída em área do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp. A expectativa é que o aparelho comece a operar em caráter experimental em dezembro deste ano.

O radar integrará o Centro Regional de Meteorologia da RMC, que terá a missão de monitorar a formação de eventos meteorológicos extremos, gerar alertas em tempo integral e manter o funcionamento da Rede de Alerta de Desastres. O Centro será integrado aos sistemas estadual e federal de monitoramento meteorológico.

O reitor da Unicamp Antonio José de Almeida Meirelles lembrou que o radar é uma cooperação da Universidade com o Conselho de Desenvolvimento da RMC e com a Agência Metropolitana de Campinas (Agemcamp) – órgão que reúne os 20 municípios da Região Metropolitana.  

“Futuramente, este equipamento permitirá colaborarmos para mitigar o impacto das mudanças climáticas em nossa área, minimizando os prejuízos que eventos extremos podem causar à população e ao espaço em que vivemos”, disse o reitor. “Também possibilitará formar pessoas e desenvolver conhecimento associado a estas mudanças em nossa região”, acrescentou.

Meirelles adverte que instalar o equipamento é somente a primeira etapa de um longo caminho até a funcionalidade plena do Centro. Por exemplo, ajustes técnicos e operacionais internos e de comunicação com as defesas civis e com as prefeituras ainda serão necessários. “Haverá muito trabalho a ser feito para atingir a plena capacidade de servir à população da nossa região,” afirmou.

O reitor da Unicamp Antoinio Meirelles: servir a população da região
O reitor Antoinio Meirelles: servir a população da região

O radar foi adquirido pela Agemcamp com recursos do Fundo de Desenvolvimento Metropolitano (Fundocamp), em parceria com a Unicamp. O custo total do equipamento foi de US$ 865,4 mil (equivalente a aproximadamente R$ 4,8 milhões).

“Essa conquista é fruto de um esforço conjunto, resultado de uma demanda importante que discutimos em diversas reuniões do nosso Conselho”, disse o presidente do Conselho de Desenvolvimento da RMC e prefeito de Jaguariúna, Gustavo Reis.

“A instalação deste equipamento na Unicamp representa um avanço significativo para nossa região. O radar meteorológico trará mais precisão e rapidez nas previsões climáticas, o que é crucial para a segurança da nossa população e para a proteção das nossas cidades”, acrescentou Reis.

Eventos extremos

Segundo a meteorologista Ana Ávila, que desde 2017 trabalha no projeto, esse radar é o único sensor que permite prever eventos severos. “O aparelho consegue identificar fenômenos como microexplosões ou tornados com alta precisão, além de definir a velocidade em que os deslocamentos estão ocorrendo”, conta.

“Dada a rapidez com que os eventos extremos se formam, eles são de difícil previsibilidade em qualquer lugar do mundo, entretanto, o mapeamento das áreas atingidas com rapidez e segurança já torna o sistema um grande avanço para a região”, acrescenta a meteorologista.

O radar, do tipo banda X, possui alta precisão num raio de 60 km de extensão, podendo se estender por até 100 km a partir do ponto de sua instalação. Com isso, fará a cobertura para além da RMC. As varreduras serão programadas a cada 5 a 10 minutos.

O aparelho funciona como uma “antena parabólica”, fazendo varreduras horizontais, a 360° graus, em diferentes elevações, gerando uma amostragem para um volume da atmosfera a cada período.

Assim, o equipamento fará a estimativa de chuva em uma determinada área ou bacia com precisão. A previsão de precipitações fortes com algumas horas de antecedência pode balizar medidas de prevenção e enfrentamento e, assim, reduzir de forma significativa os danos sobre regiões suscetíveis a inundações abruptas.

No sentido horário, pesquisadores do Cepagri, David Lapola (coordenador associado), Ana Ávila (meteorologista), Priscila Coltrin (coordenadora) e Bruno Bainy (meteorologista):  único sensor que permite prever eventos severos
No sentido horário, pesquisadores do Cepagri, David Lapola (coordenador associado), Ana Ávila (meteorologista), Priscila Coltrin (coordenadora) e Bruno Bainy (meteorologista): único sensor que permite prever eventos severos

Para o meteorologista do Cepagri Bruno Kabke Bainy, um dos diferenciais do radar é a capacidade de dupla polarização – inexistente nos radares que cobrem a região. A dupla polarização, explica Bainy, permite uma melhor classificação dos “hidrometeoros”, as partículas que formam as nuvens – como gotas de chuva, gelo, neve, água super-resfriada, etc. Permite, ainda, diferenciar melhor alvos meteorológicos (ou seja, nuvens) de alvos não-meteorológicos, como nuvens de fumaça, poeira em suspensão, bandos de aves e insetos etc.

“Essa tecnologia também proporciona mais variáveis para serem analisadas em casos de tempestades, que permitem um melhor detalhamento de seus impactos”, continua o meteorologista.

“Com a chegada do radar e, especialmente com a consolidação do Centro Regional de Meteorologia da RMC, o Cepagri terá um recurso importantíssimo para o monitoramento das condições atmosféricas, que permitirá identificar com maior precisão, em tempo real, a formação ou aproximação de tempestades sobre a região de Campinas, e, dessa forma, conhecer suas características, impactos esperados e ter maior precisão sobre o horário e as áreas que deverão ser afetadas”, afirma Bainy.

O coordenador associado do Cepagri David Lapola diz que esse tipo de equipamento “é indispensável em qualquer estratégia bem formulada para enfrentamento de desastres naturais, principalmente aqueles relacionados a chuvas extremas”. Lapola lembrou que, nas últimas semanas, o estado do Rio Grande do Sul – que foi atingido pelas mais severas inundações de sua história – recebeu um equipamento semelhante. “Ter um equipamento deste na região nos leva a um novo patamar em termos de prevenção”, concluiu.

Um sistema de suporte à decisão

O objetivo do Centro Regional de Meteorologia da RMC é criar um sistema de suporte à decisão – para subsidiar ações da Defesa Civil, para a prestação de serviços e para a pesquisa e o ensino.

O Centro divulgará, por exemplo, relatórios com previsão de inundação para diversos segmentos. Além disso, emitirá boletins agrometeorológicos com mapeamento de culturas e balanço hídrico por localização geográfica, em espaços de um mês, a cada 10 dias ou sob demanda.

Ainda fornecerá previsões meteorológicas e aconselhamento agrícola para as culturas da região e prestará serviços de aconselhamento de irrigação e de agricultura de precisão. Poderá, ainda, fazer a previsão de tempo para a aviação em escalas de minutos a hora.

“Essa forma de centro regional é a mais indicada. Já temos centros em Santa Catarina ou no Paraná, mas o modelo adotado aqui é bastante inovador, já que reúne a academia – que irá propor ações nas áreas de ensino, pesquisa e extensão – ao lado da Defesa Civil e dos municípios”, diz Ávila.

O Centro estará vinculado à Unicamp, junto aos seus institutos e centros de estudos, permitindo a criação de cursos interdisciplinares de pós-graduação, envolvendo todos os aspectos relacionados aos eventos meteorológicos extremos – econômico, social e ambiental.

Com a instalação do Centro Regional de Meteorologia da RMC será possível divulgar relatórios com previsão de inundação para diversos segmentos
Com a instalação do Centro Regional de Meteorologia da RMC será possível divulgar relatórios com previsão de inundação para diversos segmentos

Agricultura

Para a coordenadora do Cepagri, Priscila Coltri, o radar meteorológico trará inúmeras vantagens para as pesquisas agrícolas, como melhorar a precisão e a eficiência das análises meteorológicas aplicadas à agricultura em escala de tempo curto, resultando em aprimoramento na resiliência climática das culturas agrícolas e no apoio a decisões relacionadas à agricultura de precisão.

“Um primeiro ponto importante para a agricultura é o monitoramento em tempo real. Em conjunto com dados do satélite GOES, que o Cepagri já tem, o monitoramento em tempo real auxilia as ações de curto prazo nas áreas agrícolas”, explica Coltri.

Segundo a coordenadora, a partir do conhecimento da quantidade de chuvas e de tempestades, em uma escala espacial adequada, é possível prever condições meteorológicas que afetam diretamente o setor agrícola, como períodos de seca ou excesso de chuvas. “Esse monitoramento permitiria, por exemplo, que os agricultores fizessem uso mais consciente dos sistemas de irrigação, evitando desperdício de água e custos elevados”, argumenta.

“Além disso, o radar permite melhorar as pesquisas relacionadas a microclimas da Região Metropolitana de Campinas. Temos muitas áreas agrícolas importantes nessa região, especialmente com fruticultura”, lembra.

Coltri afirma, ainda, que o radar poderá colaborar para as pesquisas relacionadas à análise de dados e à inteligência artificial. “O radar gerará um importante volume de dados, e, para transformá-los em informações úteis para a sociedade e para o agricultor, será necessária a cooperação da ciência de dados e da inteligência artificial”, finaliza.

Transição

O documento que baseou a criação do Centro informa que o estado de São Paulo está localizado em região climática de transição entre os climas tropicais e subtropicais, o que o coloca entre as regiões de ocorrência de tempo severo na América do Sul.

A definição de um evento meteorológico severo caracteriza-se pela formação de tempestade capaz de gerar tornado, com ventos intensos em superfície atingindo velocidade que pode superar 90 km/h e a formação de granizo com diâmetro igual ou maior que 1,9 cm. Esse fenômeno foi registrado em Indaiatuba – um dos municípios da RMC – em 2005, por exemplo.

Em 2016, Campinas foi atingida por uma microexplosão. Este fenômeno é descrito como uma forte coluna densa de ar frio que desce em direção ao solo e, ao colidir, induz a uma forte explosão de ventos divergentes com velocidade que pode atingir mais de 100km/h.

Agemcamp

Desde 2012, a RMC conta com o projeto denominado Plataforma para Redução de Riscos de Desastres. Elaborado pela Câmara Temática da Defesa Civil e aprovado pelo Conselho de Desenvolvimento da RMC, o projeto trata da gestão de risco e do gerenciamento de desastres a partir de quatro pilares: a prevenção, a preparação dos municípios para lidar com os riscos, a resposta diante dos episódios e a recuperação após os desastres.

Em 2017, a Câmara Temática de Defesa Civil consolidou uma política pública desenvolvendo questões de resiliência que resultaram na elaboração do Projeto “Centro Regional de Meteorologia da RMC” – cuja primeira fase passou pela aquisição do radar.

“A chegada do equipamento Radar Meteorológico é um marco a ser consolidado frente aos compromissos de políticas públicas assumidos perante as demandas metropolitanas. Para tanto, foi fundamental a integração do sistema metropolitano da RMC – o Conselho de Desenvolvimento, o Fundo de Desenvolvimento Metropolitano, a Agemcamp, a Unicamp, a Casa Militar e a Defesa Civil do Estado de São Paulo”, disse o diretor executivo da Agemcamp, Eliziário Ferreira Barbosa.

Desenvolvimento de projetos acadêmicos

A ex-coordenadora da Cocen Ana Carolina Maciel: importância estratégica
A ex-coordenadora da Cocen Ana Carolina Maciel: importância estratégica

Ana Carolina de Moura Delfim Maciel, que por dois mandatos consecutivos foi a coordenadora dos Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa da Unicamp, lembrou que as tratativas para viabilização e aquisição do radar tiveram início em 2017. 

“Nessa época, já tínhamos em mente a importância estratégica de obtermos uma previsão de eventos climáticos mais refinada, que pudesse atender às necessidades de Campinas, bem como de toda região metropolitana. Além disso, pelo fato de o radar estar situado numa universidade de excelência em pesquisa, ele poderia ser um instrumento importante para o desenvolvimento de projetos acadêmicos baseados em seus dados e suas previsões”, contou Maciel.

“Estamos felizes em saber que poderemos subsidiar a sociedade – e a ciência brasileira – com uma interpretação de dados altamente qualificada, captada por esse radar altamente tecnológico. A Cocen [Coordenadoria dos Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa], mais uma vez, expande os muros da universidade e dialoga com os anseios e as necessidades da população”, avalia.

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