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Atualidades

Um dos mais importantes acervos políticos da América Latina completa 50 anos

O Arquivo Edgard Leuenroth celebrou a data no Fórum Permanente com a presença de seus fundadores, Michael Hall e Paulo Sergio Pinheiro

Quando abrirem a cápsula do tempo em 2074, na comemoração dos cem anos do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) da Unicamp, todos poderão assistir ao evento dos 50 anos, celebrado em 2024, com a participação de dois dos seus três fundadores, os professores Michael Hall (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – IFCH) e Paulo Sergio Pinheiro (Organização das Nações Unidas – ONU). Na mesma ocasião, saberão que a ideia da cápsula partiu de Pinheiro ao falar sobre as histórias envolvendo a fundação do arquivo, durante o Fórum Permanente Arquivo Edgar Leuenroth (AEL): 50 Anos Preservando a Memória Social e as Lutas por Direitos na Unicamp, que aconteceu nesta terça-feira (27), no Centro de Convenções da Unicamp.

Nas palavras do diretor do arquivo, Mário Augusto Medeiros da Silva – um dos organizadores da efeméride de 50 anos junto com a diretora-adjunta da entidade, Bárbara Geraldo de Castro, ambos do IFCH –, o AEL é um “lugar de memória de histórias que já foram ou que ainda podem ser contadas”. A entidade abriga hoje um dos mais importantes acervos políticos da América Latina e figura como o maior centro de documentação sobre movimentos sociais, preservando a história de vários deles, desde os movimentos operários e anarquistas, passando pelos envolvidos na luta contra a ditadura militar, até, por meio de material adquirido mais recentemente, entidades de defesa dos negros, feministas e LGBTQIAPN+.

“Criar um arquivo naquela época [1974, em plena ditadura militar] era um risco”, lembrou no evento de terça-feira Pinheiro, que encampou – junto com os historiadores Marco Aurélio Garcia (1941-2017) e Hall, todos da Unicamp – a ideia de criar um arquivo na Universidade a partir da documentação reunida pelo militante anarquista, jornalista e tipógrafo Edgard Leuenroth, falecido em 1968.

Os fundadores do AEL, Michael Hall (IFCH) e Paulo Sergio Pinheiro (ONU): cápsula do tempo será aberta em 2074, durante a comemoração dos cem anos do arquivo
Os fundadores do AEL, Michael Hall (IFCH) e Paulo Sergio Pinheiro (ONU): cápsula do tempo será aberta em 2074, durante a comemoração dos cem anos do arquivo

Três anos depois, os três, pesquisadores especializados no movimento operário brasileiro, convenceram o então reitor da Unicamp, Zeferino Vaz, a adquirir, junto à família de Leuenroth, toda a documentação reunida sobre a formação do proletariado no Brasil e os movimentos sociais das primeiras décadas do século 20. Com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o AEL já nasceu como o maior arquivo anarco-sindicalista do Brasil.

Segundo Pinheiro, Hall foi o responsável por incluí-lo na ousada iniciativa. O hoje membro da ONU lembrou de detalhes sobre como foram costuradas as conversas para a aquisição do arquivo, mantido em um salão (com janelas de vidros protegidas por jornais) no bairro paulistano do Brás. A situação preocupava os filhos herdeiros.

“A dispersão desse material seria uma perda irreparável”, afirmou Pinheiro, que em 2022 recebeu da Unicamp o título de Doutor Honoris Causa. Com um doutorado em ciência política, Pinheiro é também advogado, reconhecido por sua atuação em defesa dos direitos humanos, tanto na ONU e em outras partes do mundo. Ele ainda integrou a Comissão Nacional da Verdade entre 2012 e 2014.

O professor encerrou sua fala com a sugestão de criar uma caixa com uma cápsula do tempo contendo os registros da celebração dos 50 anos do AEL para ser aberta em 2074, durante a comemoração dos cem anos do arquivo. A ideia foi aceita, de pronto, pelos professores Silva e Castro.

As professoras Rachel Meneguello e Andréia Galvão observam documentos históricos do AEL
As professoras Rachel Meneguello e Andréia Galvão observam documentos históricos do AEL

Coube a Hall, em sua fala, fazer menção ao único ausente do trio de fundadores. “Garcia foi diretor do AEL por dez anos e doou seu importante arquivo pessoal.” Com seu humor característico, o professor também recordou inúmeras situações vividas ao longo dos últimos 50 anos, quando da aquisição de outros importantes arquivos. Ele lembrou, por exemplo, de quando negociava com o ator e diretor teatral José Celso Martinez Corrêa o acervo do Teatro Oficina. “Zé Celso me ligou às 2h da manhã para falar da importância cósmica de sua pessoa.”

Para encerrar a primeira mesa de debates da tarde – intitulada “50 Anos de AEL: As histórias da fundação do arquivo” –, o diretor do arquivo leu um texto que escreveu com a diretora-adjunta da entidade.

Pela manhã, a mesa de abertura do evento contou com a participação da pró-reitora de Pós-Graduação, Rachel Meneguello, do pró-reitor de Extensão, Esporte e Cultura, Fernando Coelho, e da diretora do IFCH, Andréia Galvão, além de Silva e Castro. Segundo os organizadores, o evento pretendeu refletir sobre os sentidos da preservação da memória social ao longo deste meio século do AEL, seus desdobramentos e os seus desafios.

O acervo figura como o maior centro de documentação sobre movimentos sociais, preservando a história de vários deles, desde os movimentos operários e anarquistas
O acervo figura como o maior centro de documentação sobre movimentos sociais, preservando a história de vários deles, desde os movimentos operários e anarquistas

O fórum teve a participação presencial da comunidade acadêmica, de profissionais arquivistas, de estudantes e ex-estudantes da Unicamp, de representantes de movimentos sindicais e sociais diversos e de interessados em geral. O evento foi transmitido ao vivo pelo YouTube.

Após a mesa de abertura, pela manhã, a mesa seguinte, intitulada “50 Anos de AEL: Os escritos de Edgard Leuenroth”, contou com Christina Lopreato (Universidade Federal de Uberlândia –UFU), Claudio Batalha (IFCH) e Francisco Foot (IEL). Na oportunidade, foi lançado o livro Qual a solução para o problema do Brasil?. Da última mesa do dia, com o título “Os desafios atuais das instituições de salvaguarda da memória e sua relação com a Universidade”, participaram Ana Flávia Magalhães (Arquivo Nacional), Thiago Nicodemo (Arquivo Público do Estado de São Paulo) e Antonio Galdino (Arquivo Público de Campinas).

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