Professores de História vindos de todos os estados do país e que participaram da final da 16ª Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB) visitaram, nesta segunda-feira (26/8), o Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte (LAP) da Unicamp. O grupo participou de uma oficina e conheceu os objetos que foram encontrados por meio de escavações arqueológicas realizadas no antigo prédio do DOI-Codi, órgão ligado ao Exército, localizado na capital paulista, onde ocorreram torturas e mortes de opositores da ditadura militar (1964-1985).
O objetivo da oficina foi apresentar aos professores – que ministram aulas nos ensinos fundamental e médio de escolas públicas e particulares – o potencial dos materiais arqueológicos como ferramentas didáticas. “Pensamos nessa oficina para refletir como esses objetos podem ser usados para mobilizar temas para o ensino de história dentro da sala de aula”, disse a coordenadora da ONHB e professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, Cristina Meneguello.
As escavações foram realizadas entre os dias 2 e 14 de agosto de 2023 e resultaram na coleta de mais de 800 fragmentos, que compreendem cerca de 350 objetos identificados. A maior parte são vidros, azulejos, louças e cerâmicas, além de itens como um antigo tinteiro, um pente, um pedaço de sola de sapato, uma lata de cerveja e até um par de meias-calças.
O trabalho foi conduzido por pesquisadores da Unicamp, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Conheça mais sobre esse trabalho neste documentário produzido pela TV Unicamp.
Ao todo, cerca de 50 professores participaram da oficina, que foi elaborada pelo professor Marcelo Leite, integrante da equipe de elaboração da prova da ONHB e doutor na área do ensino de História, com pesquisa sobre a ditadura civil-militar. Os professores compareceram à final da Olimpíada, realizada nos dias 24 e 25 de agosto na Unicamp, e foram selecionados para permanecerem em Campinas por uma semana e participarem de um Curso de Formação oferecido pela organização da ONHB.
A professora Sarah Campelo, do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN – Campus Apodi), afirmou que a visita ao LAP foi uma “experiência transformadora” e ajudou a pensar sobre outras formas de utilização da arqueologia no fazer pedagógico.
“Esse tema é especialmente importante para mim, pois é algo que remete à minha própria família. No início da década de 1970, minha mãe foi presa, junto com o esposo dela, em Fortaleza. O trabalho com objetos relacionados ao contexto da ditadura militar é uma forma privilegiada de trabalhar também com a imaginação histórica e com as memórias sensíveis “, afirmou.
Segundo a pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp e coordenadora do LAP, Aline Vieira de Carvalho, a oficina possibilitou conversar com os professores sobre o potencial da cultura material para o ensino de história e sobre os diálogos que são necessários para a luta constante pela democracia e pelos direitos humanos.
“Participar de atividades da ONHB é sempre maravilhoso. Além das trocas e experiências, descobri informações muito interessantes sobre Fortaleza, no Ceará, entre tantos outros lugares. Conheci filhos de ex-presos políticos, memórias e ações de resistência. Essa troca é imensurável”, afirmou.
Em agosto de 2022, como parte da programação do Curso de Formação, professores da ONHB também visitaram o prédio do DOI-Codi, onde os trabalhos de arqueologia começavam a ser feitos, como a retirada dos tacos do chão.
Sobre a Olimpíada de História
A ONHB é realizada com apoio do Departamento de História da Unicamp, do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) da Unicamp, da Pró-Reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (Proeec) da Unicamp, da Associação Nacional de História (Anpuh), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Participam da Olimpíada estudantes dos ensinos Fundamental (8º e 9º anos) e Médio de escolas públicas e particulares. A participação ocorre em grupos compostos por três alunos e um professor de História. A ONHB tem seis fases online, que são realizadas nos meses de maio e junho, com duração de uma semana cada. As provas dessas etapas incluíram questões de múltipla escolha e realização de tarefas. Em 2024, o projeto chegou à sua 16ª edição, com mais de 51,2 mil grupos participantes.