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Pesquisa

Artigo científico propõe a otimização de leitos de UTI materna usando inteligência artificial

O estudo buscou criar e validar um modelo computacional usando algoritmos de aprendizado de máquina para auxiliar na tomada de decisão clínica

Fabiano Miguel Soares é enfermeiro no Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti (Caism)
Fabiano Miguel Soares é enfermeiro no Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti Caism-Unicamp

O International Journal of Gynecology and Obstetrics (IJGO) publicou, em julho, um artigo de pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc) da Unicamp. O estudo buscou criar e validar um modelo computacional usando algoritmos de aprendizado de máquina para auxiliar na tomada de decisão clínica e na recomendação a fim de identificar gestantes que necessitem de internação em uma unidade de tratamento intensivo (UTI). Fabiano Miguel Soares, doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Tocoginecologia da FCM e enfermeiro no Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti Caism-Unicamp, é o primeiro autor do estudo.

O artigo resulta do trabalho desenvolvido por Soares em seu doutorado, sob orientação de Rodolfo Pacagnella e coorientação de Adriana Gomes Luz, docentes do Departamento de Tocoginecologia da mesma faculdade. “Esse estudo é a materialização do conceito de que a inteligência artificial [IA] pode auxiliar no processo decisório terapêutico dos médicos – no caso, na utilização de unidades de terapia intensiva”, afirma o pesquisador.

No trabalho, analisaram-se dados secundários de aproximadamente 10 mil gestantes, coletados entre 2009 e 2010, de 27 centros de referência obstétrica do Brasil. Essas mulheres tiveram morbidade materna severa – qualquer complicação inesperada durante o trabalho de parto ou um parto que leve, no caso da mãe, a problemas de saúde substanciais a curto ou longo prazo.

Nesse cenário, Soares aponta que a expertise dos profissionais de saúde ligados à FCM precisou ser traduzida em uma linguagem de programação para que o sistema de inteligência artificial pudesse ser ensinado a “pensar e resolver” os problemas propostos. “Por isso, foi importante a parceria com os profissionais do Imecc, com conhecimento especializado em linguagens de programação e sistemas computacionais. Dessa forma, o sucesso do estudo foi construído pela união das habilidades dos dois grupos envolvidos.”

Da esquerda para a direita, o orientador Rodolfo Pacagnella, o primeiro autor do artigo Fabiano Miguel Soares e a coorientadora Adriana Gomes Luz: análise da dados secundários de aproximadamente 10 mil gestantes
Da esquerda para a direita, o orientador Rodolfo Pacagnella, o primeiro autor do artigo Fabiano Miguel Soares e a coorientadora Adriana Gomes Luz: análise da dados secundários de aproximadamente 10 mil gestantes

Modelos de IA, como o XGBoost, utilizado na pesquisa, conseguem analisar grandes volumes de dados e identificar padrões complexos não facilmente detectáveis por métodos tradicionais. “Isso permite uma predição mais precisa sobre quais gestantes de alto risco necessitam de internação em UTI, baseando-se em múltiplas variáveis clínicas e obstétricas. Assim, [esses modelos de IA] ajudam os profissionais de saúde a tomar decisões críticas com maior confiança e rapidez, permitindo que os recursos sejam alocados de forma mais eficaz e priorizando gestantes que realmente necessitam de cuidados intensivos”, declara Pacagnella.

No entanto os pesquisadores apontam ressalvas. “Para a sua aplicabilidade rotineira, são necessários ajustes e o desenvolvimento de outros estudos que transformem a ferramenta encontrada em algo mais fácil de ser replicada”, afirma o primeiro autor do artigo. O docente da FCM acrescenta: “Apesar de a aplicação da IA minimizar a variabilidade e os erros humanos na avaliação do risco, proporcionando uma análise mais objetiva e consistente, é essencial interpretar os resultados do modelo em conjunto com o julgamento clínico e outros fatores relevantes para garantir decisões apropriadas sobre a admissão na UTI”.

Para Pacagnella, a publicação no IJGO confere reconhecimento internacional quanto à qualidade e à relevância das pesquisas desenvolvidas na FCM e na Unicamp. “Essa visibilidade atrai financiamento, fomenta colaborações científicas e aprimora a formação de pesquisadores da área de ginecologia e obstetrícia em todo o mundo, também com resultados que podem ser diretamente aplicados na prática clínica.”

 “Sinto-me realizado e orgulhoso, pois uma publicação desse nível significa um prêmio de reconhecimento para a dedicação de todos os envolvidos no projeto e permite de forma prática a disseminação do nosso trabalho para toda a comunidade científica, estimulando outros estudos a respeito do tema que podem ser fundamentados”, conclui Soares.

O periódico é a publicação oficial da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia e confere reconhecimento internacional quanto à qualidade e à relevância das pesquisas desenvolvidas na Unicamp
O periódico é a publicação oficial da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia

Sobre o IJGO

O International Journal of Gynecology and Obstetrics publica artigos sobre todos os aspectos da pesquisa básica e clínica nas áreas de obstetrícia e ginecologia e sobre assuntos relacionados, com ênfase em questões de interesse mundial. O IJGO é a publicação oficial da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (Figo).

Matéria originalmente publicada no site da Faculdade de Ciências Médicas.

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