O estudante João Pedro dos Santos Silva, do Programa de Pós-Graduação em Clínica Odontológica da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), foi contemplado com uma bolsa de estudos de 11 meses no Centre for Biomedical and Healthcare Engineering daÉcole National Supérieure des Mines de Saint-Etienne (França). O estudante dará continuidade ao seu projeto de doutorado sobre implante biomédico orientado na Unicamp pelo professor Valentim Adelino Ricardo Barão e supervisionado na França pelo professor Jean Geringer. A proposta do estudante se destacou por sua excelência e por seu grau de inovação na área.
A iniciativa promovida pelo Campus France Paris, organização governamental da França tem como foco alunos indígenas. Silva pertence à etnia Pipipã e recebe assistência do povo Entre Serras Pankararu, do município de Tacaratu (Pernambuco). O jovem se formou em odontologia na Universidade Tiradentes no ano de 2020 e, no ano seguinte, passou no processo seletivo para a pós-graduação em clínica odontológica na área de prótese dental na FOP, onde, desde o início, foi orientado por Barão.
A motivação para a pesquisa surgiu no projeto de mestrado, no qual desenvolveu um tratamento de superfície com a capacidade de controlar infecções peri-implantares, ou seja, evitar a formação de biofilme formado pelo acúmulo de bactérias – um dos principais problemas em tratamentos com implantes. Silva descobriu então que o revestimento também tinha um efeito anticorrosivo, combatendo a deterioração provocada por fluidos corporais e consequentemente auxiliando na prevenção de infecções.
Atualmente, a pesquisa intitulada “Cationic coating on titanium surfaces: charging strategy to improve electrochemical and tribocorrosive behavior in biomedical implants” (revestimento catiônico em superfícies de titânio: estratégia de carga para melhorar o comportamento eletroquímico e tribocorrosivo em implantes biomédicos) estuda o desenvolvimento de revestimentos de superfície de implantes dentários usando silanos industriais – molécula bifuncional derivada do silício – para o aumento de carga positiva. Isto possibilita a tecnologia de interação eletrostática como rota de mecanismo de ação para o controle antimicrobiano.
Os resultados atuais da pesquisa podem ser conferidos no artigo publicado no site da ACS Biomaterials Science & Engineering, periódico que publica novos trabalhos nas áreas de ciência de biomateriais; tecnologia e pesquisa de engenharia e aplicações em biomedicina; bioengenharia; e tradução clínica.
O estudante ressalta que, no momento, sua prioridade está em avaliar as propriedades tribológicas – as referentes a desgaste, atrito e lubrificação – dos implantes, pois, quando inserido no osso, o implante sofre forças que o deformam, o que pode gerar a liberação de subprodutos do material no leito cirúrgico, desencadeando respostas inflamatórias. Assim, Silva reforça que entender o impacto dessa liberação na região peri-implantar é crucial para o avanço do tratamento de superfície.
Próximos passos na França
A divulgação do resultado foi feita em maio e, agora, o pesquisador se prepara para a viagem até a França, em setembro. Além do reconhecimento acadêmico, o estudante será afiliado à renomada rede France Alumni, que conecta ex-alunos de instituições francesas globalmente. A Comissão Assessora para a Inclusão Acadêmica e Participação dos Povos Indígenas (Caiapi) e a Diretoria Executiva de Relações Internacionais (Deri), ambas da Unicamp, ofereceram ao pós-graduando um curso de francês, a fim de facilitar a comunicação do aluno durante a sua estadia na universidade estrangeira, garantindo que ela não seja feita somente em língua inglesa.
A École Nationale Supérieure des Mines de Saint-Etienne é uma das maiores faculdades de engenharia da França e conta com mais de 200 anos de história. O seu centro de engenharia biomédica trabalha com biomecânica de tecidos moles, têxteis médicos e implantes; engenharia de biomateriais e partículas inaladas; e engenharia de estruturas de cuidados e sistemas de saúde.
Durante seu período na Europa, Silva espera, segundo diz, que a tecnologia disponível no laboratório do centro de engenharia biomédica possibilite a execução dos ensaios eletroquímicos e tribocorrosivos com uma maestria inédita. O pesquisador afirmou ainda que o projeto tem o potencial de produzir uma rota alternativa para tratamentos de superfícies em implantes comerciais, melhorando a eficácia de sua aplicação. O estudante declarou, além disso, que a universidade francesa será um espaço de fomento para novas parcerias de pesquisa, fundamentais para o avanço da ciência mundial.
Silva diz estar orgulhoso pela conquista e destaca que, na sua opinião, é significativo poder se tornar uma referência para outros indígenas e demonstrar que a educação pode ser transformadora. “A princípio, eu fiquei sem acreditar. Aconteceram muitas coisas de uma vez. Fiquei em êxtase. Para mim, essa conquista é poder mostrar que, independentemente de onde você venha se tiver persistência, você consegue”, afirma o aluno.
