O Centro de Estudos de Energia e Petróleo (Cepetro), vinculado à Unicamp, e a Âmbar Energia estão embarcando em uma colaboração estratégica para impulsionar a produção eficiente de eletricidade a partir da biomassa para gerar energia utilizando hidrogênio renovável derivado do biogás.
A parceria visa escalar a produção de energia de forma sustentável, utilizando os resíduos orgânicos provenientes da JBS como matéria-prima. Este projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D), com duração prevista de três anos, tem como meta a produção de biometano, hidrogênio renovável e eletricidade, abrindo caminho para uma matriz energética mais limpa e confiável.
Marcelo Zanatta, presidente da Âmbar Energia, destaca a sinergia entre as empresas do grupo J&F, como a JBS, para viabilizar a entrada do agronegócio neste mercado promissor. “O plano inclui a construção de um centro de pesquisa e desenvolvimento em Andradina para explorar o potencial do biogás e do hidrogênio renovável na geração de energia, transformando planos em ações concretas”, destaca.
O projeto do Cepetro com a Âmbar utiliza o hidrogênio renovável para a produção de eletricidade por meio de células a combustível que oferecem uma eficiência de conversão superior às tecnologias tradicionais. Ao final dos três anos, a equipe da Âmbar e do Cepetro esperam escalar a tecnologia para todo o mercado, visando o grande potencial de geração de hidrogênio renovável nas lagoas de tratamento de diversas indústrias. A energia gerada será injetada na rede de distribuição, fortalecendo a matriz energética brasileira com fontes mais confiáveis e renováveis.
Para gerar a energia, são necessárias três etapas. A primeira trata do transporte e da purificação do biogás produzido nas lagoas de tratamento dos frigoríficos da JBS. A segunda etapa envolve a reformulação do metano presente no biogás para obter hidrogênio renovável. Por último, na terceira etapa, o hidrogênio é empregado em uma célula a combustível, que produz energia elétrica com eficiência superior a 60%.
Energia derivada de hidrogênio renovável
O processo se inicia em uma lagoa de tratamento de resíduos, onde toda a matéria orgânica é depositada. Esta lagoa foi convertida em um biodigestor, aprimorando o tratamento do efluente e permitindo o armazenamento dos gases resultantes do processo. O biogás gerado é composto principalmente por metano, além de outros gases, como dióxido de carbono, enxofre e oxigênio.
Hudson Zanin, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp e pesquisador do Cepetro, explica que, se o biogás in natura for diretamente utilizado em um motor, ocorre a corrosão das partes internas caras, tornando-as inutilizáveis. Por isso, o primeiro passo do projeto é purificar esse biogás através de filtros, removendo impurezas que não são metano. “Enquanto as termoelétricas que utilizam metano fóssil do pré-sal conseguem uma eficiência de conversão de 30% do gás em eletricidade, no nosso caso, quebramos o metano em hidrogênio renovável e depois o utilizamos em células a combustível para atingir uma eficiência muito mais elevada”, afirma o pesquisador.
Segundo Zanin, o hidrogênio de origem fóssil é conhecido como hidrogênio cinza e é utilizado, principalmente, na produção de amônia, fertilizantes, aço e alumínio e na dessulfuração de combustíveis fósseis em refinarias. “Com a emersão do hidrogênio renovável, ele terá espaço para ir além da descarbonização da cadeia do hidrogênio cinza, podendo ser utilizado para a produção de eletricidade também”, afirma.