Desde que a Unicamp implementou a política de cotas para pretos, pardos e indígenas, tenho orgulho das transformações que tivemos em nossa universidade, nas salas de aula, grupos de pesquisa, nos muitos caminhos da Unicamp. Fico me perguntando se serão professores como eu, se serão dentistas ou arquitetos ou poetas ou médicos… se tocarão trompete em nossa orquestra.
Mas, hoje, eu quero me despedir de um aluno que não virá. O jovem Apollo nunca andará por estas calçadas, e não sei se ele – como o nome indicava – iria gostar de esportes e ser um grande atleta… ou se escreveria contos engraçados, ou iria fazer músicas românticas, ou seria engenheiro. Será que faria biologia? Ou seria um grande físico?
Não, Apollo não virá! Apollo foi esquecido em uma van que deveria tê-lo levado até a escola, onde ele começava seu caminho de aprendizado formal.
Apollo não virá. Apollo passou horas infindáveis preso no calor, até morrer; até que uma criança saudável morresse. Tenho uma neta de exatos dois anos, que está começando a ir para a escola, também. Por alguns breves momentos me coloco na dor destes pais e avós e a sinto insuportável.
Esquecimento? Como se esquece uma vida — e uma vida em flor — em algum lugar? Como poderemos esquecer que isso aconteceu? Como poderemos nos esquecer de Apollo?
Que a sua morte não tenha sido em vão, Apollo.
Fica a nossa indignação e a nossa saudade, pois ele não virá.