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Imagem mostra a  biomédica Natália Barreto dos Santos no laboratório. Ela veste uma jaleco branco e está de luvas plásticas na cor azul. A  biomédica Natália Barreto está observando através microscópio. Na sala do laboratório, sobre a bancada onde está o microscópio, há também uma tela de computador que mostra o que está sendo visto o microscópio
A biomédica Natália Barreto dos Santos, autora da tese: tumores com diferentes graus foram responsivos ao veneno

Veneno de aranha age no controle de tumor cerebral

Pesquisa desenvolvida na Unicamp revela potencial farmacológico da armadeira

Veneno de aranha age no controle de tumor cerebral

Pesquisa desenvolvida na Unicamp revela potencial farmacológico da armadeira

Imagem mostra a  biomédica Natália Barreto dos Santos no laboratório. Ela veste uma jaleco branco e está de luvas plásticas na cor azul. A  biomédica Natália Barreto está observando através microscópio. Na sala do laboratório, sobre a bancada onde está o microscópio, há também uma tela de computador que mostra o que está sendo visto o microscópio
A biomédica Natália Barreto dos Santos, autora da tese: tumores com diferentes graus foram responsivos ao veneno

A picada da aranha armadeira (Phoneutria nigriventer), também conhecida como aranha da bananeira, muito comum no Sul e Sudeste do Brasil, causa dor extrema. O veneno pode provocar convulsão e até paralisia em adultos – em crianças e animais, há perigo de morte. Esse potente caráter neurotóxico atrai, há décadas, pesquisadores que investigam a ação da peçonha da espécie no sistema nervoso central e os efeitos nas células tumorais. Em tese de doutorado, desenvolvida pelo programa de Biologia Molecular e Morfofuncional do Instituto de Biologia (IB), a biomédica Natália Barreto dos Santos realizou testes laboratoriais com moléculas isoladas do veneno em amostras tumorais humanas. A capacidade de redução da migração de células de tumores cerebrais de diferentes graus de malignidade, como o glioblastoma (o mais agressivo e com alta mortalidade) foi identificada na pesquisa.

Além de ganhar o Prêmio Tese Destaque 2024/2025 da Unicamp, o trabalho resultou na criação de um biobanco de linhagens tumorais. Santos, ainda, dará continuidade à investigação das células isoladas durante o doutorado em seu pós-doutorado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF). “Conseguimos isolar duas moléculas que têm efeitos diferentes, mas complementares. Nós chamamos estas duas moléculas de LW9 e LW11. Já patenteamos a LW9 junto com um quimioterápico, fazendo um produto associado. Também vamos patentear a LW11 associada à LW9”, anuncia a pesquisadora.

“É muito importante esse caráter translacional, que sai da pesquisa básica para a aplicação humana”, indica a orientadora da tese, professora Catarina Rapôso, da FCF, que há mais de vinte anos pesquisa veneno de animais peçonhentos. “Sempre acreditei na aplicação farmacológica dos venenos.”

Santos coletou 14 amostras de células tumorais de pacientes do neurocirurgião João Luiz Vitorino Araujo, coordenador do Setor de Neurocirurgia Oncológica da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e coorientador da tese. Após acompanhar as cirurgias realizadas na Santa Casa de São Paulo, a pesquisadora fez os testes em três amostras para analisar a responsividade às moléculas isoladas do veneno. “Vimos que tumores com diferentes graus, ou seja, independente do perfil molecular, foram responsivos ao veneno, reduzindo a migração. A ação funciona em diferentes gliomas”, explica.

A imagem mostra a professora Catarina Rapôso, orientadora da pesquisa. A professora está mostrando o recipiente onde as células tumorais foram congeladas
A professora Catarina Rapôso, orientadora da pesquisa: células tumorais coletadas foram congeladas e compõem um biobanco, possibilitando outros estudos
A imagem mostra a professora Catarina Rapôso, orientadora da pesquisa. A professora está mostrando o recipiente onde as células tumorais foram congeladas
A professora Catarina Rapôso, orientadora da pesquisa: células tumorais coletadas foram congeladas e compõem um biobanco, possibilitando outros estudos

Biobanco

As amostras coletadas pela biomédica compõem agora um biobanco de linhagens tumorais. As células podem ser usadas em outras pesquisas da Unicamp. Se cultivadas em placas e congeladas, elas não morrem, explica a orientadora. “Foi um grande desafio trazer e acondicionar da melhor maneira possível, processar as amostras, congelar e depois descongelar para fazer os estudos, porque quando você extrai do paciente, ela é suscetível à contaminação por fungo ou bactéria. Há o risco de não sobreviver”, descreve Santos.

Em outubro, a biomédica dará início a uma parceria com a Universidade da Califórnia (UCLA), nos Estados Unidos. “Vou aprender técnicas novas e vou fazer análises para avaliar o mecanismo de ação da molécula para trazer para o laboratório e utilizar em outros estudos”, planeja a pesquisadora, que considera a premiação da Tese Destaque um reconhecimento de todo o esforço de pesquisa. “Nos incentiva a querer buscar melhores tratamentos para os pacientes e uma melhora de qualidade de vida para eles”, resume.

Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a cada ano há 11 mil novos casos de câncer do Sistema Nervoso Central (SNC) – cérebro ou medula espinhal – no Brasil, dos quais 88% são no cérebro. Um dos grandes problemas do glioma, principalmente o glioblastoma, é que ele é um tumor que se difunde muito pelo parênquima, parte funcional do cérebro, composta pelos neurônios e células gliais, observa Santos. “Isso dificulta muito o tratamento. É por isso que ele é muito agressivo. Quando o cirurgião vai operar, ele não consegue pegar todos esses limites da difusão dos gliomas. Então fica ali parte do tumor e ele volta a crescer. O glioblastoma não tem cura. Mesmo que opere, responde pouco aos medicamentos”, acrescenta Rapôso.

A imagem mostra uma aranha armadeira, andando sobre o terreno de areia amarelada com pequena pedras
A aranha armadeira: peçonha tem efeito sobre células tumorais
A imagem mostra uma aranha armadeira, andando sobre o terreno de areia amarelada com pequena pedras
A aranha armadeira: peçonha tem efeito sobre células tumorais

Barreiras

Desde que começou a pesquisar o efeito do veneno bruto da aranha armadeira no SNC, a orientadora observou que ele era capaz de quebrar a barreira hematoencefálica. “Os vasos do cérebro são muito protegidos. Essa superproteção dos neurônios impede, muitas vezes, a ação dos medicamentos. Há medicamentos bons para um tumor cerebral que não chegam ao sistema nervoso central porque são barrados. Mas o veneno da aranha entra e altera essa barreira. Por cerca de doze horas ela fica aberta. Isso chamou muito a minha atenção e resolvemos investigar as células da glia”, diz.

Essas células existem em maior número que os próprios neurônios no sistema nervoso central, realizam as funções cognitivas e neurológicas e têm o papel de proteger e controlar a nutrição dos neurônios. O veneno da armadeira tem ação direta nos astrócitos, células da glia que, quando sofrem mutações, geram os gliomas. Essa ação reduz a invasividade nelas.

Em seu mestrado, Santos avaliou o veneno bruto e sua ação focada no glioblastoma, utilizando nos testes uma linhagem de glioblastoma que já existia no laboratório. No doutorado, em vez do veneno bruto, isolou as células e coletou as amostras humanas incluindo outros subtipos de gliomas menos agressivos, como o astrocitoma. “Estamos usando agora as células sintéticas. Isso é um passo muito importante para chegarmos a um fármaco, porque já testamos as sintéticas, que têm o mesmo efeito nos tumores”, explica Rapôso.

Diferentes tumores

De acordo com a orientadora, há também avanços da pesquisa com relação a outros tipos de tumores. “Temos agora um trabalho com câncer de mama cujo resultados são promissores”, diz Rapôso. O próximo passo são os testes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Temos também parceria com uma clínica veterinária e uma outra pesquisa voltada para uso em animais, que pode resultar em um medicamento veterinário. São muitas etapas, mas estamos em um caminho promissor”, acredita a professora. “Câncer é uma doença que demanda controle, para que a pessoa, ou animal, tenha uma expectativa de vida longa e com qualidade. A pesquisa traz algo a mais para ajudar nesse controle”, indica.

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