Unicamp celebra cem dias da nova gestão
Reitor e coordenador-geral fazem um balanço do período, marcado por avanços em áreas prioritárias


O reitor da Unicamp, Paulo Cesar Montagner, e o coordenador-geral, Fernando Coelho, acabam de completar cem dias à frente da Universidade e, em uma espécie de marco, elaboraram uma lista com os desafios estratégicos que, segundo consideram, trataram de forma prioritária nesse período. Do balanço, constam medidas administrativas, aquelas relacionadas ao ensino, pesquisa e extensão e até mesmo as que dizem respeito às três universidades estaduais públicas de São Paulo.
Na condição de presidente rotativo do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), Montagner afirma que uma preocupação central neste momento é buscar uma forma segura — e perene — de financiar essas instituições.
O reitor conta ter solicitado à Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação (SCTI) de São Paulo a retirada dos nomes da Unicamp, da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) do cronograma de implantação da resolução SFP-04, de fevereiro de 2025, que regulamenta a forma de recolhimento e os sistemas de controle arrecadatório do Estado de São Paulo. As novas regras tributárias devem alterar a forma como os recursos poderão ser repassados às instituições de ensino.
Na opinião do Cruesp, o sistema universitário guarda uma série de peculiaridades, como a questão da autonomia, e não pode ser regulado sob um regime geral. Por conta disso, o reitor quer que as universidades fiquem de fora do cronograma até que aspectos técnicos e jurídicos passem por uma análise mais detalhada.
No balanço dos cem dias, Montagner revelou também já ter iniciado o processo de implementação de novos cursos na Universidade. Aprovados pelo Conselho Universitário (Consu) no início de abril deste ano, quatro novos cursos devem figurar entre os oferecidos pela Unicamp: direito, fisioterapia, história noturno e habilitação em inglês. Além disso, já se encontram em andamento as discussões sobre outros dois cursos: terapia ocupacional e ciência de dados e inteligência artificial.
Para a Pró-Reitoria de Graduação (PRG), há a necessidade de criar esses novos cursos. Das três universidades públicas estaduais paulistas, a Unicamp é a que oferece o menor número de cursos. São 65, contra 183 da USP e 136 da Unesp. A Unicamp também oferece o menor número de vagas para os alunos ingressantes: 3.368. A USP disponibiliza 11.147 e a Unesp, 7.680.
Montagner considera uma das principais marcas dos cem dias a certificação de organização social obtida pelas duas fundações ligadas à Universidade — a Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp) e a Fundação da Área de Saúde de Campinas (Fascamp) —, algo que permite a esses órgãos participar de chamamentos públicos. Essa certificação garantiu, por exemplo, a permanência da Unicamp na gestão do Hospital Estadual Sumaré (HES), onde está há mais de duas décadas.
Ainda na área da saúde, o reitor lembra que, no início de julho, o Hospital de Clínicas (HC) da Universidade definiu os parâmetros para a institucionalização da política de atenção à saúde das pessoas trans, travestis, intersexo e não binárias.
Montagner e Coelho lembraram também do programa de moradia estudantil, que, neste mês de agosto, deu início à maior expansão de sua história de quase quatro décadas. Com a compra de um terreno de 44 mil m², a Unicamp poderá oferecer 1.400 novas vagas de moradia. Hoje o sistema oferece mil vagas. Metade do novo terreno receberá as moradias e a outra metade, instalações voltadas ao apoio administrativo, a atividades esportivas e culturais e à realização de programas de extensão universitária.
A reitoria reafirmou ainda o compromisso de consolidar a Universidade como uma instituição comprometida com ações de combate a todo tipo de violência: assédio moral e sexual, racismo, importunação sexual, capacitismo etc. Para isso, montou um grupo de trabalho (GT) a fim de realizar um diagnóstico da situação e elaborar propostas de encaminhamento institucional para os casos de violência no ambiente de trabalho.

Sustentabilidade
O reitor lembrou também que está em consolidação a política institucional de sustentabilidade, um dos eixos prioritários da atual gestão, segundo disse. “Trata-se de um princípio estruturante para a construção de uma universidade ambientalmente responsável, economicamente viável e socialmente justa.”
Para Montagner, um dos principais elementos da política de sustentabilidade é o processo de implementação do Hub Internacional de Desenvolvimento Sustentável (Hids), uma área de 11,3 milhões de m² localizada no campus de Campinas e que abrigará um distrito de inovação.
A ocupação da área começou com a implantação dos corredores ecológicos e deve prosseguir com a instalação da Vila das Startups, a consolidação de parcerias na implementação de uma política de transição energética e a viabilização do Pavilhão de Transição Ecológica, que fará parte da infraestrutura inicial de apoio.
Montagner e Coelho revelam estar em andamento, ainda, a implementação de novas metas de internacionalização.
A PRG iniciou um estudo para identificar a demanda nessa área, o que subsidiará a criação de uma política institucional sobre o ensino de línguas. A pró-reitoria anunciou também um projeto-piloto de ensino de inglês para o campus de Limeira, em parceria com a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp).
O órgão estreitou, ainda, relações com a Diretoria Executiva de Relações Internacionais (Deri). Ambos deverão trabalhar de forma conjunta em editais e na formalização de convênios com financiamento para mobilidade estudantil.
A Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPG) também começou a articular propostas de internacionalização institucional, uma delas no âmbito do programa Capes-Global.edu. A proposta prevê a Unicamp como coordenadora de uma rede voltada à internacionalização da pós-graduação. A rede conta com a participação de instituições de ensino superior das cinco regiões do país.
Além disso, a PRPG criou uma área específica de internacionalização estratégica, que atua como facilitadora das ações voltadas à cooperação internacional.
Entre as ações adotadas até agora, nos primeiros cem dias, Coelho lembrou ainda que estão sendo aprimoradas ferramentas criadas para melhorar o funcionamento do Escritório de Dados e Apoio à Transformação (Edat), órgão que fornece painéis de dados sobre a Universidade a fim de ajudá-la a se conhecer melhor e, com isso, tomar decisões estratégicas de forma mais bem informada.
A reitoria citou também a decisão recente do Consu permitindo a instalação de um centro institucional de processamento de dados, um data center exclusivo para a Universidade.
Outras pró-reitorias, igualmente, reportaram avanços nesses primeiros cem dias da nova gestão.
A Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) concluiu o processo de regulamentação da organização e das atribuições dos escritórios de apoio institucional ao pesquisador — ou estruturas equivalentes —, que auxiliam na execução de projetos de pesquisa ou com recursos obtidos diretamente pelo servidor, docente ou pesquisador, junto a órgãos de fomento.
Neste ano, a Pró-Reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (Proeec) institucionalizou dois novos programas de extensão: Maguta e Olhos no Futuro. O primeiro foi desenvolvido a partir de um projeto realizado no ano passado nas comunidades indígenas Umariaçu e Belém do Solimões. O segundo promove o conceito de trabalho decente para crianças e adolescentes em idade escolar por meio dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Com isso, o órgão passa a contar com um total de seis programas de extensão.
Já a Pró-Reitoria de Desenvolvimento Universitário (PRDU), para o exercício de 2025, reservou um total de R$ 25 milhões destinado às progressões no âmbito do Plano de Aplicação de Evolução e Progressão na Carreira dos Servidores Técnicos e Administrativos (Paepe) da Unicamp. Esse valor já contempla os efeitos do reajuste salarial.
O reitor
O reitor fez um balanço positivo sobre esses primeiros cem dias e afirmou ter orgulho da história da Unicamp e confiança na dinâmica de funcionamento da instituição, garantindo que a experiência no cargo tem valido a pena.
“As grandes câmaras são um orgulho para a Universidade. São espaços de debates muito ricos, faróis que guiam as decisões que a reitoria precisa tomar”, disse.
“Estar aqui [na reitoria] é um grande aprendizado humano e tenho muito orgulho da rica história que nossos colegas construíram ao longo de 60 anos”, afirmou. “Cada minuto tem valido a pena.”
“Eu acredito que, nesses cem dias, estamos mostrando a que viemos”, disse Coelho. “Começamos a consolidar aquilo que falamos na eleição: a ideia de não haver retrocesso e, ao mesmo tempo, avançar em todas as áreas.”
“Queremos consolidar uma gestão comprometida com os funcionários e comprometida com a modernização da Universidade, com o aumento no número de vagas e o aperfeiçoamento dos nossos processos internos”, acrescentou o coordenador-geral.


Os dois chamaram a atenção para o gigantismo da Universidade. Dona de um orçamento de R$ 4,3 bilhões neste ano de 2025 — um montante superior ao da maioria dos municípios brasileiros —, a Unicamp é referência na área de saúde para uma população de aproximadamente 6,5 milhões de pessoas.
Tendo 70% dos seus cursos de graduação com notas máximas, a Universidade é a segunda melhor instituição de ensino superior da América Latina, segundo rankings internacionais, e possui 82 pesquisadores na lista dos 2% de cientistas mais influentes do mundo, uma lista elaborada pela Universidade de Stanford (Estados Unidos) em parceria com a editora científica Elsevier.
Montagner e Coelho lembraram ainda que a Unicamp tem cadastradas 1.500 empresas-filhas — empreendimentos criados por pessoas que têm ou tiveram algum vínculo com a Universidade. Essas empresas empregam 53.265 pessoas e bateram seu recorde de faturamento anual, chegando a R$ 28,1 bilhões, quase sete vezes o orçamento da própria Universidade.
“O que o Estado recebe de volta em impostos gerados por essas empresas supera com muita folga o que é investido na Universidade”, avalia Montagner.
DROPS
- Deri revela aumento relevante no número de estudantes intercambistas neste semestre. Foram 88 na graduação e 35 no pós — número recorde para um semestre
- A Detic reporta a consolidação da nuvem local Ybytinga como repositório preferencial dos sistemas da Universidade e a criação de centros de referência em inteligência artificial e em cibersegurança
- A DEDH conta ter estabelecido o primeiro procedimento de heteroidentificação realizado pelo sistema Identifica, fruto de uma parceria com a Detic e o IC
- Início da campanha A Unicamp que Transforma, mostrando como a Universidade afetou a vida dos seus estudantes
- Dois novos formatos de editais lançados no Faepex: um para incentivar a presença de mulheres no mundo das ciências e outro para alunos indígenas
- Integração dos colégios técnicos aos serviços de apoio psicossocial da Deape
- Maior facilidade na importação de itens para pesquisa