Estudo critica homogeneidade na educação física
Livro da Editora da Unicamp aborda os discursos sobre saúde nas diferentes fases da vida


Estudo critica homogeneidade na educação física
Livro da Editora da Unicamp aborda os discursos sobre saúde nas diferentes fases da vida
Em Juventudes e Velhices: Uma História de Práticas Saudáveis de Educação Física, Edivaldo Góis Junior expõe os resultados de uma extensa pesquisa sobre as atividades físicas praticadas por jovens e idosos brasileiros ao longo do tempo. A obra aborda o tema levando em conta as construções sociais relacionadas à juventude e à velhice, em uma investigação acerca das representações das diferentes fases da vida em jornais e periódicos.
Góis Junior é graduado em educação física pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e mestre e doutor na área pela Universidade Gama Filho. Atualmente, trabalha como professor da disciplina História da Educação Física na Unicamp. Na entrevista a seguir, o autor apresenta a sua mais recente obra e comenta os avanços e dilemas da área.
Jornal da Unicamp − Quais foram os desafios e como foi o processo de pesquisa que resultou no livro?
Edivaldo Góis Junior − Sem dúvida, o maior dos desafios foi enfrentar um problema de pesquisa que pressupunha uma perspectiva interdisciplinar. Para além do envelhecimento biológico, há uma construção social sobre o corpo que envelhece. Então, os limites das ciências da saúde e das ciências humanas não permitiam a análise complexa das práticas culturais e das diferentes representações que envolviam o envelhecimento. Por isso, a saída foi uma perspectiva histórica, o que exigiu estudos particulares sobre os diferentes recortes temporais. A partir da definição das fontes, fez-se a análise de múltiplas práticas e representações sobre o envelhecimento ao longo do tempo. O processo de trabalho foi extenso: quase uma década de estudos.
JU − Para qual público o livro se destina?
Edivaldo Góis Junior − Eu diria que a leitura interessa a todos e todas que têm em mente a necessidade de uma reflexão sobre o envelhecimento − mas não em uma perspectiva individual. Falo de uma discussão coletiva sobre o envelhecimento da sociedade brasileira. Isso pode atrair a atenção de professores de educação física, mas também de educadores, cientistas sociais, médicos, profissionais da saúde, antropólogos e historiadores − desde que haja interesse por uma perspectiva histórica e social do envelhecimento.
JU − Qual a importância dos temas abordados na obra para a atualidade?
Edivaldo Góis Junior − Desde os anos 1970, os temas do envelhecimento e das diferentes gerações − jovens e idosos − ganharam maior visibilidade nos debates acadêmicos, o que ainda é muito atual quando observamos o aumento da expectativa de vida em diversos contextos nacionais. Ao contrário do que divulga até hoje a imprensa mercantil, as gerações nunca foram blocos homogêneos, já que, nos diferentes sentidos que ganham os termos “velhice” e “juventude”, observaram-se variações pertinentes à história. Por isso, há a necessidade de se falar em velhices e juventudes no plural. O problema é que, muitas vezes, observamos estudos sobre o envelhecimento que pensam a saúde por meio de valores homogêneos de uma classe média e que são validados para toda a sociedade.
JU − Quais os avanços nos estudos sobre juventudes e velhices nos últimos anos?
Edivaldo Góis Junior − Penso que as críticas oriundas das ciências humanas que têm um olhar sobre as desigualdades sociais começam a ter uma maior repercussão na produção acadêmica de parte dos cientistas e profissionais da saúde. Pesquisas como as de Vern Bengtson, Glen Elder Jr. e Norella Putney estabeleceram as bases de uma “gerontologia social”, que estuda o “curso da vida” por meio de experiências compartilhadas entre gerações. Em uma perspectiva muito próxima a essa, a antropóloga Guita Grin Debert, da Unicamp, afirma que uma velhice não é definida apenas por uma faixa etária, já que a “idade” é estabelecida por um aparato cultural. Destaco, também, o estudo no campo da saúde coletiva, de Shirley Prado e Jane Sayd, no qual argumentam que a negação da velhice sustenta narrativas científicas homogêneas e, por vezes, impositivas sobre uma saúde perfeita, uma “Terceira Idade”, uma “Bela Velhice”.
JU − Como a obra dialoga com outras áreas para além da educação física? Por exemplo, com a medicina e a educação?
Edivaldo Góis Junior − Compreendo que os exercícios físicos ganharam notoriedade nesses campos por meio de seus benefícios inegáveis. No entanto professores de educação física, médicos e educadores precisam compreender a necessidade de uma contextualização social de suas prescrições. É necessário que o prescritivo e o homogêneo deem lugar à multiplicidade das experiências, ao enfrentamento das desigualdades e ao respeito pelas individualidades. Não existe uma lei mecanicista, na qual corpos jovens serão o passaporte para o paraíso da “melhor idade”. Isso não é uma ode ao sedentarismo, nem um desprezo pela saúde dos corpos. Pelo contrário, critico a negação do sofrimento causado pelas doenças na velhice e oponho-me aos discursos prescritivos que propagam a ideia da “melhor idade” como se ela fosse acessível a todos e todas.
JU − Quais novidades a obra traz para os estudos da área? Qual sua contribuição para a bibliografia já existente?
Edivaldo Góis Junior − Meu principal objetivo foi compreender e descrever as relações entre as “práticas de educação física” e as representações sobre juventudes e velhices em diferentes períodos do século XX. Mesmo observando uma possível transição das “práticas de educação física” da escolarização das juventudes para outras práticas não escolarizadas voltadas ao comportamento virtuoso na busca por uma juventude prolongada, percebi que essas representações coexistiram e se sobrepuseram no campo cultural brasileiro de urbanização, atestando a presença cada vez mais corriqueira do professor de educação física em diferentes contextos profissionais.


Título: Juventudes e Velhices: Uma História de Práticas Saudáveis de Educação Física
Organização: Edivaldo Góis Junior
Edição: 1ª
Ano: 2024
Páginas: 328
Dimensões: 23 cm x 16 cm
