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Pesquisa revela como a comunidade da Unicamp vê as mudanças climáticas

Questionário foi respondido por 1.258 pessoas, entre docentes, alunos, pesquisadores e servidores técnico-administrativos

Quarto de casa na cidade gaúcha de Cruzeiro do Sul, um dos municípios mais atingidos pela enchente registrada em abril do ano passado no Rio Grande do Sul, na maior tragédia climática da história do país
Quarto de casa na cidade gaúcha de Cruzeiro do Sul, um dos municípios mais atingidos pela enchente registrada em abril do ano passado no Rio Grande do Sul, na maior tragédia climática da história do país

Pesquisa revela como a comunidade da Unicamp vê as mudanças climáticas

Quarto de casa na cidade gaúcha de Cruzeiro do Sul, um dos municípios mais atingidos pela enchente registrada em abril do ano passado no Rio Grande do Sul, na maior tragédia climática da história do país
Quarto de casa na cidade gaúcha de Cruzeiro do Sul, um dos municípios mais atingidos pela enchente registrada em abril do ano passado no Rio Grande do Sul, na maior tragédia climática da história do país

Questionário foi respondido por 1.258 pessoas, entre docentes, alunos, pesquisadores e servidores técnico-administrativos

Uma pesquisa feita junto à comunidade da Unicamp registrou a percepção dessas pessoas sobre as mudanças climáticas, além de investigar o papel atribuído à Universidade no enfrentamento da crise. Entre docentes, alunos de graduação e pós-graduação, pesquisadores, funcionários técnico-administrativos e professores colaboradores, 1.258 indivíduos responderam ao questionário, entre outubro e dezembro de 2024. Segundo os resultados obtidos, 95,8% dos participantes preveem o agravamento do cenário nos próximos anos, 76,3% afirmam ser possível combatê-lo e 72,4% têm interesse em participar da empreitada. O levantamento investigou, ainda, o efeito da emergência climática sobre a saúde mental, mostrando que a maioria das pessoas (51,8%) associa essa crise a episódios de sofrimento psíquico.

Intitulada “A Percepção da Comunidade da Unicamp sobre as Mudanças Climáticas e o Papel da Universidade”, a pesquisa resulta de uma iniciativa de três professores – Gabriela Celani, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (Fecfau), Neri de Barros Almeida, do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), e Sandro Tonso, da Faculdade de Tecnologia (FT). Membros da Comissão Assessora de Mudança Ecológica e Justiça Ambiental (Cameja) – uma instância associada à Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DEDH) da Universidade –, os três convidaram a professora Milena Serafim, especialista em política científica e tecnológica e atual diretora da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), para participar do projeto. Ao grupo se juntou ainda Denis Alves, aluno de pós-graduação do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências (IG).

Na sequência, Gabriela Celani, Neri de Barros Almeida, Sandro Tonso, Milena Serafim e Denis Alves: apoio aos gestores
Na sequência, Gabriela Celani, Neri de Barros Almeida, Sandro Tonso, Milena Serafim e Denis Alves: apoio aos gestores
Na sequência, Gabriela Celani, Neri de Barros Almeida, Sandro Tonso, Milena Serafim e Denis Alves: apoio aos gestores
Na sequência, Gabriela Celani, Neri de Barros Almeida, Sandro Tonso, Milena Serafim e Denis Alves: apoio aos gestores

A principal finalidade da iniciativa é servir de apoio aos gestores da Unicamp tanto na condução de questões relativas à emergência climática quanto na abordagem de assuntos que tangenciem essa crise. Os dados reunidos e as análises realizadas podem agora ser usados em diferentes tarefas, como o direcionamento dos recursos institucionais e a criação de políticas voltadas para o ensino, a pesquisa, a extensão universitária e a gestão da Universidade. “A partir da mensuração da percepção da comunidade, buscamos identificar como esses fenômenos e seus impactos são notados para determinar em que áreas a Universidade deve concentrar mais esforços”, disse Serafim.

O questionário, elaborado a partir de modelos desenvolvidos pela Universidade de Brasília (UnB) e pelas instituições norte-americanas Universidade de Princeton e Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), contou, ainda, com contribuições dos pesquisadores Luiz Marques, professor colaborador do Departamento de História do IFCH e autor do livro Capitalismo e Colapso Ambiental, e Tania Maron, coordenadora da área de promoção à saúde mental da Diretoria Executiva de Apoio e Permanência Estudantil (Deape) da Unicamp.

A partir da análise dos dados, os pesquisadores traçaram três perfis de respondentes, cada um com percepções distintas sobre a situação, explicou Alves. No mais numeroso, denominado moderado, encontram-se aqueles que acreditam na superação da crise, mas entendem que há barreiras no caminho. “O segundo perfil, chamado institucionalista, reúne quem de fato acredita que os governos, as empresas e outras instituições têm poder para solucionar a questão, além de tempo para concluir o desafio. Já os que estão no perfil dos céticos pensam não haver mais chances de agir – na Universidade, são minoria”, contou o doutorando.

O próximo passo, elaborar um relatório para a Reitoria da Unicamp, implicará apresentar recomendações relativas ao monitoramento da comunidade universitária. O grupo espera transformar a pesquisa em um processo sistematizado para que haja um acompanhamento contínuo sobre como as pessoas encaram os temas investigados. “O ideal seria que todas as universidades públicas realizassem esse monitoramento e dispusessem de um ambiente para o tratamento dos dados em rede. Essas instituições serão cada vez mais impactadas pelas mudanças climáticas tanto porque a ciência será cada vez mais exigida por essa crise quanto porque uma visão aprofundada da questão será mais demandada a seus egressos, como profissionais e cidadãos”, observou Almeida.

Tabela
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Repensar o ensino

A adesão à pesquisa variou de maneira significativa entre os diferentes extratos da comunidade universitária. O engajamento de professores e funcionários técnico-administrativos superou a expectativa dos realizadores, chegando a 13% e 9% respectivamente. Por outro lado, a participação revelou-se consideravelmente baixa entre os estudantes de graduação (0,5%) e pós-graduação (1,2%). “Isso contrasta fortemente com outras pesquisas segundo as quais a faixa etária mais preocupada com as mudanças climáticas é justamente essa na qual estão os nossos alunos, principalmente os de graduação”, afirmou Celani. Para Almeida, o desinteresse dos alunos preocupa. “Os dados mostram que a Universidade precisa motivar mais seus membros a compreender o problema e suas soluções.”

Embora o panorama decorrente da pesquisa revele uma comunidade com compreensão ampla sobre os desafios climáticos e ciente da responsabilidade da Unicamp nessa questão, menos de 33% dos respondentes recorrem à Universidade para buscar formação na área e informação sobre o assunto. A constatação, segundo Tonso, serve de alerta para a necessidade de a instituição repensar o enfoque dado à crise climática em todas as suas esferas, sobretudo no ensino. “Essa pesquisa aponta a nossa responsabilidade. Já é tempo de todos os cursos da Unicamp, principalmente os de graduação, incluírem a questão climática em seus programas. Na licenciatura isso é particularmente urgente”, disse.

A abordagem interdisciplinar e transversal sobre as mudanças climáticas é um consenso entre os professores, que defendem sua adoção nas quatro dimensões da instituição – ensino, pesquisa, extensão universitária e gestão. “É papel da Universidade promover processos de ensino e aprendizagem – formal e informal – que tenham a transversalidade como base”, ressaltou Serafim. “Não é possível produzir a visão necessária para enfrentar a crise socioambiental e climática sem uma política sistemática. Se não misturarmos o engenheiro com o sociólogo, o artista com o médico, não daremos condições adequadas para esse pessoal enfrentar um desafio que não só é da ordem do mundo físico, mas também é um problema de ordem política, econômica, social e cultural”, concluiu o arquiteto.

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