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Escultura de Tomie Ohtake, na orla de Santos, em homenagem ao centenário da imigração japonesa no Brasil
Escultura de Tomie Ohtake, na orla de Santos, em homenagem ao centenário da imigração japonesa no Brasil

Rito de passagem

Livro aborda as influências dos espaços, territórios e migrações na vida de descendentes de japoneses

Escultura de Tomie Ohtake, na orla de Santos, em homenagem ao centenário da imigração japonesa no Brasil
Escultura de Tomie Ohtake, na orla de Santos, em homenagem ao centenário da imigração japonesa no Brasil

O livro Quem você quer ser?, de Katiani Tatie Shishito e Glaucia dos Santos Marcondes, originou-se da tese de doutorado em demografia de Shishito, defendida no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, sob a orientação de Marcondes. A pesquisa qualitativa deu-se a partir de entrevistas feitas com um grupo de 17 jovens pertencentes a famílias nipo-brasileiras e residentes da Região Metropolitana de São Paulo ou do município de Campinas. Na entrevista ao Jornal da Unicamp, a autora da tese explica o que motivou a escrita da obra e os desafios e as contribuições da publicação para a área.

Jornal da Unicamp – Como surgiu a ideia de escrever esse livro?

Katiani Tatie Shishito – O livro é baseado em uma pesquisa de doutorado em demografia, na área de família, gênero e população. A ideia surgiu de uma reflexão ao assistir a um seminário no Nepo [Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó”] sobre a transição para a vida adulta e os marcadores socioeconômicos dessa fase. A transição associa-se geralmente a cinco eventos principais: terminar a educação, entrar no mercado de trabalho, sair da casa dos pais, selar uma união conjugal e ter filhos. Embora os eventos não ocorram necessariamente nessa ordem, parece haver uma expectativa e normas sociais determinando esse padrão. A pesquisa visa entender se os jovens seguem essas normas e se aqueles formados em outros países enfrentam processos diferentes. Esse foi o principal motivador para estudar o tema: explorar a influência de espaços, territórios e migrações na formação e na transição para a vida adulta dos jovens.

JU – Quais foram os desafios enfrentados durante a realização da obra?

Katiani Tatie Shishito – Um dos principais desafios da pesquisa relacionou-se com encontrar jovens que fizessem parte do recorte da pesquisa. A ideia inicial consistia em entrevistar dois grupos de jovens para que tivéssemos um referencial comparativo: um grupo de jovens nipo-brasileiros nascidos no Japão ou que emigraram ainda na infância e, no momento da pesquisa, estavam no Brasil na transição para a vida adulta; e outro de jovens nipo-brasileiros que não tinham passado pela experiência migratória. No entanto foi difícil encontrar jovens do segundo grupo que não tivessem qualquer histórico migratório familiar. Ainda que os próprios jovens pudessem não ter emigrado, em todos os casos havia casos de migração em suas famílias durante sua formação. Na prática, a pesquisa revelou que quase todos os jovens tinham alguma conexão com a migração em algum nível.

JU – Quais são as principais contribuições da obra para os estudos da área?

Katiani Tatie Shishito – A obra surgiu na intersecção entre os estudos migratórios e os estudos de família. Uma primeira contribuição está em entrelaçar os conhecimentos adquiridos em âmbito acadêmico de forma mais integral, como acontece na vida em si. Para os estudos migratórios, a principal contribuição vem no sentido de focar um grupo etário pouco explorado nas pesquisas sobre a chamada “segunda geração de imigrantes”, ou seja, os filhos de migrantes que nascem nos países de destino. Essa área tinha até então seu foco bastante voltado para as crianças e suas questões educacionais e de linguagem. Nossa pesquisa trabalhou na exploração da continuidade de vida dessas crianças, inserindo-se também, dessa forma, nos estudos sobre as juventudes. A pesquisa contribui para os estudos de família ao questionar as expectativas sociais e demográficas na transição para a vida adulta, especialmente em contextos migratórios.

JU – O livro aborda aspectos da transição da juventude para a vida adulta, no contexto migracional. Isso pode ser aplicado a outros cenários?

Katiani Tatie Shishito – Sim, embora o foco principal do livro sejam os processos migratórios, a obra também aborda a transição para a vida adulta no contexto atual. A pesquisa ilumina como esses processos ocorrem tanto entre migrantes quanto não migrantes. A migração é vista como um turning point, um evento crucial que altera o curso de vida dos jovens. Esses eventos podem acontecer em diversas dimensões da vida, como, por exemplo, na perda de um ente querido, em desastres naturais etc. A migração como um turning point impacta a identidade dos jovens, que se desenvolve também a partir do conceito de “vidas interconectadas” na perspectiva de curso de vida. A trajetória migratória insere-se no contexto familiar e é decidida por outros. Isso afeta diretamente a educação, frequentemente fragmentada entre dois sistemas distintos, e a formação conjugal e parental, muitas vezes adiada ou tornada incerta.

JU – As entrevistas feitas com os jovens podem ser vistas como um diferencial para a pesquisa de vocês e para o livro? Explique.

Katiani Tatie Shishito – Com certeza as entrevistas mostraram-se essenciais para a pesquisa e para o livro. Ouvir os próprios jovens sobre suas experiências e trajetórias de vida permitiu-nos dialogar de forma muito próxima e direta com os campos de estudos migratórios e de família. Por outro lado, as entrevistas trouxeram uma dimensão importante dos fenômenos sociais que, no campo da demografia, muitas vezes não é contemplada: as vivências pessoais e subjetivas.


Quem você quer ser? – Migrações e transições para a vida adulta entre Brasil e Japão

Título: Quem você quer ser? – Migrações e transições para a vida adulta entre Brasil e Japão
Autor: Katiani Tatie Shishito, Glaucia dos Santos Marcondes
Edição: 1ª
Ano: 2024
Páginas: 232
Dimensões: 14 cm x 21 cm

Editora
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